sábado, 20 de novembro de 2010

"Subaqueira"

Suvaqueira. Pelo prefixo deveria ser o lugar de colocarmos nossos suvacos, assim como petisqueira é para petisco. Mas não é! É o nome para o mau cheiro insuportável nas axilas mal cuidadas. Esse mau cheiro causa mal-estar. Físico e psicológico. Em mim, sentir esse odor causa-me enxaqueca e em algumas situações um desconforto psicológico de dizer ou não para o fedorento que vá se tratar.

Trabalhar no atendimento de qualquer instituição apresenta essa desvantagem. Não podemos escolher atender só os cheirosinhos.

Banho, amigos! Não esqueçam: água, sabonete, shampoo, creme dental. Não precisa ser roupa nova, mas roupa limpa. Higiene básica.

O amigo do meu sobrinho confessou que esquece de escovar os dentes - detalhe: não é uma criança, já tem mais de 18 anos. E alguém aí pode me responder como é que uma criatura dessa consegue arrumar uma namorada?

Bom, vou tomar meu banho matinal porque vou à feira. Deixo um link de um vídeo que já mandei para alguns amigos. Assista. Você vai dar risadas...

Vencido pela "subaqueira" alheia

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Flores e besouros

Os pardais vêm até a bacia de ração do meu cachorro
Chegam sem cerimônia e levam no bico o alimento
Fazem festa. Saltitam e derrubam os grãos pelo chão.
Meu cachorro, chamado Sansão, fica deitado, não move uma pata,
Observando a cena.
A tarde morna, o silêncio da rua
Estou sozinha no meu quintal.
Não me escutam os pardais em meus gritos de solidão.
Tudo certo, tudo errado.
Sem meio termo.
Temo não indicar o caminho.
O sol está se escondendo
E vem a noite por sobre mim.
Não seria mais fácil ouvir as flores e os besouros?
Só ecoam perguntas - todas sem resposta.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Abra o seu coração

Abra o seu coração.Receita para viver mais e melhor.

Guardar ressentimentos, arquivar em ordem cronológica as desavenças? Releve-os, descarte-as. Muito mais nesse caso se faz com muito menos ou melhor, com nada.

O que não edifica apenas é ajuntamento. Tijolos, areia e cimento num depósito não fazem uma casa. Torne a sua vida um canteiro de obras, uma grande obra. Não permita que se amontoem coisas inúteis. Pense que sua vida é uma pequena caixa. Só o que vale a pena fica e cabe.

Abra a sua vida, abra a sua boca, a sua bolsa. Abra as mãos, abra caminhos. Seja altruísta e otimista. Abra um largo sorriso, abra um grande abraço. Estenda a toalha do piquenique debaixo de uma grande sombra e abra a cesta de guloseimas - o mínimo que virá até você será a natureza.

Abra as gavetas, permaneça com o que usa e doe o que não lhe serve e partilhe o que lhe dói.

Abra seus olhos, amplie seus horizontes. Abra seu peito e encerre dentro de si a colheita permanente da promessa do eterno. Abra um perfume, um pacote de biscoito. Abra seus ouvidos, abra sua casa.

Abra-se em flor. Beleza. Pássaros. Pétalas. Vida que surge no reintegrar-se. Abre-se a terra. Abre-se a vida. Abra o seu coração.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Preferências


Um pouquinho de lavanda depois do banho
Sal na salada
Pimenta no feijão
Sapato de salto
Cabelo e cara lavada
Um livro na rede
Um amigo e um segredo
Unha do pé cortada
Tapete do banheiro estiradinho
Vaso com angélica
Revista em quadrinho
Areia entre os dedos
Barulho do mar
Comida quente
Suco gelado
Cecília, Pablo, Clarice, Carlos na cabeceira da cama.
Sol de verão
Minha cidade, Arcoverde, sertão
Planta de espinho
Leite quentinho.
Preferências que fazem de mim eu mesma.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Pedregulhos da beira do rio

Amor de balançar a rede
Abraço de almas
Mãos que se dão e se tomam
No direito exclusivo dos que se vêem
Nas retinas que miram o mundo.
Amar de calar o vento
Consolar a dor de estrela escondida
Abóboda. Nuvem. Melodia de não ouvir
Palavra de não falar
- se me entrego não resgatar-me-ei dos seus abraços?
Deserto árido, saudade.
Óasis, mistério revelado no ocaso dos olhos
Cansados e exauridos por de repente não ver
A fina linha que costura-nos, unindo-nos um ao outro.
Mosaico. Arco. Pedra. Construção.
Seus quadris. São suspiros.
O que crescerá sem você?
Eterno que passa.
Pedregulhos da beira do rio.
Outono. Primavera.
Amor de frutos e flores.
Frenesi de sentir.
Sem palavras. Só o esplendor de saber-nos.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Dicas

Tem um texto de Luiz Fernando Veríssimo, Exigências da Vida Moderna, que pincela um pouquinho a neurose desse mundo cheio de informações em que vivemos. Um pouco de tudo e de tudo um pouco, correndo o risco de ainda assim conseguir chegar ao fim do dia sem ter 'ticado' todos os itens do check-list do bem-estar.

O bom mesmo é quando não sabemos o que é bom e por experimento descobrimos o que nos faz felizes e satisfeitos. Eu gosto de tomar chá bem quente quando estou triste, de tomar banho e vestir uma roupa para dormir tirada da gaveta. Gosto de vinho tinto seco e de companhia para degustá-lo. E de bacon, com ovos, no medalhão de filé - esporadicamente, acreditando que espaçadamente não obstruirei minha aorta.

Cocada, doce de mamão, arroz com brócolis, beterraba, couve-flor refogada, abobrinha, leite morno com canela, vitamina de banana, azeitonas, vatapá, salpicão de frango.Estrelas, nuvens em forma de animais, árvores floridas, pôr-do-sol, silêncio, caminhada, refeição em casa, cochilo depois do almoço.

Receita de longevidade? Boa alimentação, exercício, lazer. Não é isso que lemos? Nessa receita os pontos se unem como num mapa astral. Não há mágica, não há sequencia. Os estudos apontam, a estatística determina percentuais, porém somos todos gigantescas digitais - padrões comparados mas incontestavelmente individualizados.

Experimento algumas dicas que leio, que recebo. Transgrido algumas normas de bem-estar ou de seu reestabelecimento. Exemplo? Não gosto de ficar em casa quando sinto que posso trabalhar. Ficar deitada na cama me deixa mais doente. Talvez seja sinal de que não tenha aprendido a ficar sozinha comigo mesma. Prefiro pensar que assim agindo o vírus me deixa mais rapidamente, cansa de ter que ir trabalhar comigo e simplesmente vai embora.

Para terminar, algumas dicas:
- sementes de macela - para indigestão, 'bucho' fofo, empachamento
- casca de romã - alívio para a garganta inflamada
- chá da flor do algodoeiro - aumenta produção de leite na mamãe com dificuldade para amamentar
- cerveja preta - para espalhar o sangue, evitar derrames e melhorar a dor de cabeça
- quixabeira - para inflamação
- manga e caju no pé - para alegrar a vida
- berinjela - para controle da pressão arterial
- quiabo - linda flor, grande quantidade no pé, satisfação de colher e dividir com os amigos
- tomate - rico em licopeno, anticancerígeno. Tomate cereja. Plante um pezinho. Além de gostoso, é lindo.
- torta alemã - na minha casa tem o poder de inflar meu ego. É elogio na certa!
- Vick Vaporub (é assim que escreve?) - de acordo com a minha sogra levanta até defunto - contusões, dores, furúnculos, calos secos
- felicidade - se for a sua, divida. Se for a dos outros, compartilhe. De uma forma ou de outra é ganho certo.
- sol e protetor solar - para brincar com fogo. Encanto e espanto.

Mais dicas à medida em que nos encontrarmos nesse blog!

domingo, 7 de novembro de 2010

Mudança

Mudamos todo o tempo. Desde o momento da concepção. Passamos a ser um na junção de dois: óvulo e espermatozóide. Daí, depois da unicidade vamos nos dividindo e, o que é engraçado, aumentando de tamanho. A mudança não cabe mais no útero depois de nove meses. Forçamo-nos a sair: ar nos pulmões, frio, calor, fome.

E seguimos mudando, a cada instante. Mudamos da pele ao pensamento, passamos de engatinhar a correr em menos de um ano. Mudamos de humor, de desejo, de opinião, de casa, de profissão, de medicamento. Somos um novo ser porquanto não notemos ao olharmos no espelho e visualizemos tão somente umas rugas e cabelos brancos que antes não estavam ali.

Somos provados no fogo, como milho de pipoca. O grão de milho que não estoura é chamado de piruá. Recusa-se a seguir em frente e permanece com a mesma roupagem (numa versão mais morena). Por sua recusa também é deixado à margem - gosto amargo de pensamentos queimados e tostados pelo temor de dar o próximo passo.

Mudar dói. Desvencilhar-se de si e ainda assim continuar sendo aquele que conhecemos intimamente. Vem a minha cabeça o sabor de queijo com goiabada. Lanche da minha infância. Hoje como queijo com goiabada como recheio na sobremesa de pizza. As lembranças do mesmo sabor, com outra roupagem.

Tudo muda e tudo passa. Por nós. Para nós. O carro está sempre em movimento. A paisagem da janela é estática. Perpetramos e impregnamos nosso redor com o almíscar da mudança, como água: outrora pingo, estreito riacho, largo rio, imenso mar - transmudada em nuvem não esquece de onde veio e não impede que o vento a leve.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Palavras vãs

Só uma palavra me devora
Aquela que meu coração não diz

Se você me conhece de verdade sabe que falo muito sobre muitas coisas, porém falo pouco de mim e falo pouco dos outros também. Não gosto de divagar sobre assuntos sobre os quais não tenho conhecimento. Não sou adepta de fofoca. Não tenho nada haver com adultérios, casos amorosos, estelionatos e afins. Se não tenho a acrescentar também não devo suprimir.

Acho divertido falar sobre o comportamento, a roupa, as preferências. Faço comentários sobre isso ou aquilo, sobre como fulano levou uma queda, como sicrano traiu a namorada. Vivo no mundo, mas não faço da vida do outro ocupação para a minha.

Algumas palavras ficam guardadas. Tenho muitas guardadas, sem perspectiva de liberação. Outras são poesia liberta, arrebol e nascer do sol. O silêncio oportuno abre caminho para as portas da realização, do fortalecimento do espírito. Silêncio é ginástica espiritual. Minha meta é tocar a ponta dos dedos dos pés: meu pensamento tocar a pureza das palavras que não são vãs.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Perfume e vinagre

Rótulos de perfume em frascos de vinagre.

Sete palavras que não esqueci. Na carta que recebi havia muitas outras, falando de coisas que estavam além de mim naquele momento. Era uma carta longa, com cobranças e descrenças. Uma carta de despedida, com letra caprichada. Despedíamo-nos do amor de outrora, da impossibilidade de compreender o que não cabia naquela adolescência urgente.

As situações se dispuseram no viver da vida. E vivendo fui sorvendo, absorvendo, resolvendo, esquecendo. Fui indo, indo e toda aquela bruma inventada no meio dos livros e das aulas do colegial transformou-se em memória de experiência.

Nessa época tinha uma música que eu gostava de escutar, embora não soubesse o que dizia sua letra: Hotel California (http://letras.terra.com.br/the-eagles/63266/traducao.html). Guitarra americana naquele solo que faz sofrer um coração jovem e apaixonado...

Cresci. Mudei. Mudei de casa, de rumo, de amor. Escolhi coisas tão diferentes que talvez nem bula de remédio possa ser comparada com o que posso escrever detalhando posologia, indicações, contra-indicações e afins, no que se refere a minha alma, as minhas preferências.
Tive a curiosidade de saber o que dizia a letra da música que 'dilacerava' meu coração. Um verso diz assim:
"Nós somos programados para receber.Você pode assinar a saída quantas vezes quiser, mas você nunca poderá sair!"

Então fico com essa afirmação. Não posso sair de mim. Eu sou muitas. Ora eu, ora os outros. Por vezes fico e outras vezes parto - mesmo que me vejam. Ora partilha, ora egoísmo. Ora beleza, outrora fraqueza. Se retorno abrem-se-me portais e janelas de lindos beirais crepusculares. Umas vezes infante, outras concentrada participante. Nos olhos, horizonte adiante ou passado distante.

Os frascos de vinagres estão no armário. E também os vidros de perfume. Com frequência esmero-me em não trocar-lhes os rótulos e em sentir-lhes o conteúdo.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Maria Fernanda

Há 17 anos atrás fui mãe pela primeira vez. Nasceu uma coisinha rosa, cara de joelho como todos os bebês. Minha inexperiência e a dela nos fizeram cúmplices.

Antes de completar duas semanas de nascida fomos para o laboratório, colher sangue. Estava amarela, com icterícia. Chorei mais do que ela...

Quando passei de filha para mãe pude compreender muitas coisas que não entendia. Daquele dia três de novembro de 1993 em diante não pude mais pensar apenas em mim, no que eu queria, no que eu faria. Aqueles cabelinhos espetados e seus olhinhos claros a me fitar me lembravam todo tempo que estavam ali e que eram minha responsabilidade.

Sou saudosista. Às vezes minha saudade dói. Cheirinho de lavanda, lacinho no cabelo, bonecas espalhadas pela casa. Mãe eu posso? Mãe, me dá? Mãe, me leva? Me pega? Mainha eu tô com medo. Mamãe minha perninha tá doendo. Relembrar me dá aquele ardor no nariz (aquele de lágrima indo em direção aos olhos).

Hoje comemoramos dezessete anos: ela de idade, eu de mãe.

Já batemos de frente, nem me lembro quantas vezes, mas na maioria do tempo caminhamos lado a lado. Eu me orgulho dela e fico esperando que ela sinta o mesmo por mim. Amo um amor que não se abala. Por nada. Quero ser o porto. Seguro. Porto seguro. Mesmo depois que ela mesma seja a timoneira da embarcação e que os roteiros já não sejam tão seguros, ou previsíveis.

"O que a memória ama, fica eterno.
Te amo com a memória, imperecível."
Adélia Prado

Maria Fernanda - 1 ano e 3 meses