sábado, 26 de março de 2011

Que caminhos teremos sido?

Quando se escolhe um caminho e no meio dele descobre-se que era o caminho errado...
Volta-se para a bifurcação. Realinha-se. Escolhe-se novamente.
Embora tenhamos voltado, não voltamos.
Nossos passos foram por ali, viram aquelas coisas, sentiram na pele os galhos do aceiro.
Em nossos braços ficaram as marcas, em nossos olhos as imagens.
Quem pode apagar por completo os passos da caminhada?
E na minha frente há sempre o horizonte
E está sempre a minha frente.
Não olho para trás. Você não deve olhar para trás.
O que há de ser lembrado e o que não se pode esquecer reside dentro
Do peito, do corpo, da respiração.
Causas de alegria e desprezo.
Silêncios e algazarras. Música e silêncio.
Não se apaga.
Escolhemos deixar de lado, passar ao lado.
Que construção seremos ao fim de tudo?
Que caminhos teremos sido? Rua sem saída, labirinto, praia de terra batida, leito do rio, lamaçal?
Ao longe, adiante, no horizonte, a lua.
Fases. Estações. Como nós.



terça-feira, 22 de março de 2011

Hiatos

Meus silêncios. Quem os ouve?
Hiatos todos os dias.
Não se permitem conhecer. Não se dão ao desconhecido.
Aninhados em mim. Somente em meus olhos, os que sabem, vêem.

domingo, 13 de março de 2011

Possibilidades

Possibilidades.
Poços. Idades. Vaidades.
Poças. Lama. Chuva. Felicidade.
Além daquela pedra, coqueiro,
Por trás do coqueiro água corrente.
Anuviada. Vista. Vida.
Caminho. Corrente.
Estou correndo para alcançar o tempo.
Tempo? Vento... Vento...
É madrugada. Tépida.
Soluço. Solução. Aumentativo sem comparativo.
Agora suspiro.
Agora respiro.
Preguiça vestida de camisola.
Minha alma está alerta.
É tempo. Tempo... Do meu lado e distante de mim.
Como posso ter sono assim?



sexta-feira, 11 de março de 2011

Quaresma

..."rasgai o coração, e não as vestes"...
Jl 2,13

Na Quarta-Feira de Cinzas, na liturgia da palavra, primeira leitura, meditamos esse versículo do profeta Joel. Rasgai o coração, despedaçai-o, colocai para o lado de fora tudo aquilo que carregais inutilmente - porque é pernicioso o que trazeis convosco sem que uso façais.

Há uma coisa da qual me alegro, dentre outras, por ser cristã e católica: a orientação que nos dá a liturgia. A quaresma é tempo de conversão. Mas você pode me perguntar: e depois dos quarenta dias, não é mais tempo favorável? Sim, é claro que é, porém nesse tempo é como se toda a Igreja fizesse um "intensivão" e as matérias a estudar fossem a caridade, a oração e o jejum.

A caridade com um grande parênteses: não é apenas a esmola física ao mais necessitado. É a doação do seu trabalho, do seu tempo. A divisão do seu corpo, a doação das suas mãos, dos seus ouvidos ao irmão carente não só do pão mas da Palavra de Deus. Podemos ser a palavra com o gesto de acender a luz e colocá-la sobre a mesa.

A oração. Conversar com Deus. Parece difícil, contudo é exercício de amor. Entregar-se à escuta, deixá-Lo ser o que é - Mestre e Senhor. Nessa ação não esperar respostas conclusivas de atendimento burocrático. Deus não atende com hora marcada. É na informalidade que se dá o melhor 'negócio'. Creia, Ele está e é o seu Deus onipresente, onisciente e onipotente. É só chamar. Suave sussurro de palavras orantes...

O jejum. ..."Tu, porém, quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto, para que os homens não vejam que estás jejuando"... (Mt 6, 17-18). Jejum de pão, jejum de atitudes - rasgai o coração! Abster-se da avareza, da gula, do que maltrata o outro, do que destrói a esperança.

Na celebração do dia que marca esse período de conversão, recebemos cinzas em nossa fronte. Do pó ao pó. "Convertei-vos e crede no evangelho!". Quem tiver ouvidos, que ouça...

quarta-feira, 2 de março de 2011

Sempre igual

"Todo dia eu só penso em poder parar;
Meio-dia eu só penso em dizer não"...

Todo dia ela faz tudo sempre igual.

Ela nesse caso, sou eu...

A rotina faz parte da vida de todo ser vivente, mesmo daqueles que fazem atividades que são pura adrenalina. Há dias em que não noto, em outros me incomoda a mesmice do desenrolar dos fatos.

Na agência bancária, onde trabalho no atendimento, acontecem coisas pitorescas, processos em que tenho que estudar para compreender e agir, mas também há atendimentos em que já sei o que vou fazer quando o cliente passa na porta giratória. Permanentemente descubro que faço a mesma coisa e que fazendo a mesma coisa nem sempre faço igual. Essa linha tênue que amarra enquanto solta é a tranquilidade de lidar com o estresse ao qual me exponho e do qual me esquivo.

Todo dia ela faz tudo sempre igual... Sempre igual. Parece nome de produto para limpeza. Fazer tudo igual - vantagens: agilidade, conhecimento do passos, automatismo; desvantagens: falta de inovação, estagnação.

O trechinho de Chico Buarque lá em cima traduz o que sinto, e na hora que sinto. Ao meio-dia, e quase sempre muito depois desse horário, com fome, penso irritada em dizer não para muitas situações. Contudo, dizer não definitivamente não é uma das coisas que faço sempre. Então mais uma vez vou almoçar tarde, apago o fogo que não ateei, respondo sorridente sim.

Sei que devo parar com uns hábitos... Devo habitar ou deixar-me habitar por outros sentimentos, posicionamentos. Por enquanto vou exercitar um "sorriso pontual", treinamento para o ensinamento bíblico do 'sim, sim', 'não, não'.

terça-feira, 1 de março de 2011

Disritmia

Pulsação acelerada.
Rubor nas faces.
Ansiedade.
Ritmo. Disritmia.
Eu sou apaixonada
E me surpreendo às vezes por lembrar do que não deveria esquecer.
Em mim adulta
Há criança e adolescente.
O medo de crescer acompanhado da ousadia de ser madura.
Ouço uma música, seu violino, seu piano
Despertam-me sentimento macio e morno
de vida vivida, de amores passados, de amores presentes.
Rápido, rápido, estanque.
Sangue nas minhas veias.
Minha adolescente quer ficar e continuar a desfrutar da melodia
A adulta levanta. Terminou o horário de almoço.
Saudade. Levo agora comigo.

Ouça: http://www.youtube.com/watch?v=bjjc59FgUpg