quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Frases de efeito

Fico pensando em frases de efeito.
Coisas que eu escrevesse e todo mundo dissesse: - Oh!!!!!
Mas o que me ocorre são coisas triviais
Como a respiração ofegante que espera o toque singelo entre dedos apaixonados
Ou a ânsia que antecede a abertura de um envelope há muito aguardado,
A felicidade de reencontrar os amigos e falar em meia hora de coisas ocorridas em seis meses.
Hoje a lua está sorrindo, linda, num céu sem nuvens.
Eu também.


terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Macio

Por um momento
Pela vida inteira, que é parte divisível
Pulsando silenciosamente há vestígios seus em minhas veias
Não se ouvem passos
Não houve maior silêncio naquelas partes
Em que meu corpo descansava ao lado do seu.
Entreguei meus suspiros entre seus dedos
E pude ver seu reflexo macio esparramado
Diante dos meus olhos apaixonados.
Por esses dias senti sua falta
Senti fremir minhas mãos ao recebê-lo de volta.
Meus dias e minhas noites esperam pelas suas horas.

Minha barriguinha está com fome

Queijo de coalho assado com orégano
Café forte com leite e nata
Pão assado com manteiga
Biscoitinho de nata (de preferência o que dona Zefa, de Venturosa, traz para a feira no sábado)
Bolo de trigo novinho
Cuscuz com ovo
Xerém com galinha
Macaxeira, inhame, charque
Munguzá e tapioca
Sopa. Ah! Eu amo sopas.
Minha barriguinha está com fome.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Vertiginosa

A queda pode ser vertiginosa
E a vida é assim, essa montanha russa, todo dia
Surpreendo você?
Ora, celebro as horas idas e as marcas pelo chão.
Sobre os meus passos outros virão.
Quando em vez sei para onde vou
Mas a lua ilumina o caminho e me perco entre as veredas
de pedra e pó, de espinho e flor.
Muito além e aqui distante no espaço entre os meus olhos
Estão os meus amores.
Tropeço nos seus pés - obrigada por estar comigo -
Sua companhia nesse vagão faz-me lembrar de outro verão
Era eu? Vestida de sol e calor?
Recentemente revi meus olhos impressos no papel
Ali, sentada junto aos meus - o trem já estava de partida.

Bompreço no sítio

"-Não pode matar os bichinhos!"

Minha sobrinha afirma com todo encantamento que têm as crianças pelos animais, depois de seu avô matar dois bodes para o almoço do domingo. Pensamento ordenado e rápido, diz logo em seguida: "No sítio não tem Bompreço, então prá gente comer, tem que matar, né vó?"

Triste de um bicho que o outro come!



sábado, 24 de dezembro de 2011

Rua Velha

Deixei meu carro estacionado na Rua Velha quando fui ao comércio hoje à tarde. Não havia vagas na Avenida Antônio Japiassu, vestida de decoração natalina no seu canteiro central.

Outrora, na minha infância e adolescência, sua extensão era adornada com barracas de festa, os bingos, as roletas, as maçãs do amor, saquinhos de siriguela e jambo, churrasco alaranjado de colorau, o palco central, o Parque de Diversões Lima, e Roberto Carlos, o Rei, com seu último LP tocando nos auto-falantes.

Na volta para pegar meu carro encontrei Arlindo, que trabalhava com seu Chico do Foto - na casa da minha 'tia' Vilma. Eu ia para casa deles quase todo dia, porque o dia em que eu não ia, era porque Patrícia estava em minha casa. Ficavam mexendo comigo dizendo que Arlindo era apaixonado por mim - e naquela inocência dos que não tem o senso completo, talvez fosse mesmo. O fato é que reencontrá-lo me trouxe a memória tanta gente, tantas coisas partilhadas...

Quem me lê de longe talvez não enxergue as saudades do que escrevo então. Quem me conhece de perto sabe que falo do natal onde foi possível dizer boa-tarde a seu Chico, sempre de pé em frente ao Cine Foto, e cumprimentar outro Chico, o Canindé, na Sapataria Chic, comprar umas roupas novas a dona Neuza, na Miscelânea, tomar sorvete servido por dona Quitéria da sorveteria do português, a Caboré, deslocar-se para um lugar mais distante, com seu Jacy Padilha - taxista que ficava lá na praça da cidade alta - e era meu avô.

Sou saudosista. Hoje estou mais.

A felicidade eterna é contemplar a face do Pai, em sua presença desejo que estejam todos aqueles de quem Arlindo me fez recordar com sua saudação neste final de tarde: meu avô Jacy Padilha, seu Chico do Foto, 'tia' Vilma, Mônica Cecília, Penha Padilha.

Para eles e para nós: Feliz Natal!

Feliz Natal

Que o seu coração seja acolhedor
A sua vida, uma oração
Os seus atos, reflexos de um cristão.


sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Tênues cicatrizes

Não importa o berço de ouro
Nem os conselhos desde a mais tenra idade
A força do exemplo ou da palavra
Tudo fica derramado ao lado se a resposta for não
Se a resposta for sim.
Tudo junto, confuso e misturado.
Taquicardia, para-choque amassado
E é final de tarde quando nem bem amanheceu o dia.
Os trilhos conduzem o trem mas não determinam as estações.
Passageiros, maquinista, cobrador
Adiante as suas vidas, agora as suas impaciente retinas se entretêm com outras paisagens.
A fumaça de antes está presente na limpeza das roupas brancas
Alvas de ideias e amores vãos e amores ficam
Passa o tempo, passam os dedos, passam as marcas
Encalacrados em nossas tênues cicatrizes
Os pensamentos, os passatempos.
Neste tempo, florados estão os cajueiros.
Minha alma chora doces e ínfimos silêncios distorcidos.
As palavras não ditas são a fuligem que vejo nos trilhos. 

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Aceroleiro


por Elmário Ribeiro



Talvez essa formiga seja descendente daquela do Mário Quintana e somente por estar ali não precisemos mais do que contemplá-la no seu trabalho pequeno, de criatura pequena de Deus. Mas ela me olha, antenas enviadas pela foto digital do aceroleiro (é assim que devemos chamar um pé de acerola?).
Nesse globo cor de fogo, dependurado e advindo de uma humilde flor, está seu tenro corpo de operária. Cumpre seu destino. Cumpre ordens. Corta folha, corta fruto. Talvez dê a volta ao mundo - sem mover-se.
Formiga no formigueiro. Formiga no aceroleiro.
Gente esquisita e amiga.
Fogo no terreiro - porque queimamos o que amamos e até o que odiamos.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Para eu recortar as arestas




Não sei como dizer certas coisas
E sei bem que certas coisas nem devem ser ditas
Meu coração ansioso por dizer de mim
Desanda a bater descompassado.
Meus olhos vociferam fonemas
Fecho minhas pálpebras, escondo meu amor machucado.
A verdade é que não sei amar.
Excesso de mim.
O que peço é uma tesoura
Para eu recortar as arestas.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Me nego. Torno-me.

Me nego a escrever, neste momento, usando ênclise. As palavras escritas agora são um desabafo para mim e dessa forma não cabe escrever 'nego-me'.

Me desculpe, eu mesma, por violar suas vontades, deixar de lado suas prioridades, oprimir seu peito aberto e seu sorriso certo. Não sei de onde me veio a ideia de que eu sou duas, ou mais. Ajuste inconsciente de minha matéria para lidar com tudo quanto me espanta, me encanta, me divide.

Nessa estrada de pó e flores, carrego meus pés calçados de salto alto. Quando meus pés me levam, vou descalça - a poeira nos meus poros abertos. Na minha cabeça tantos amores - e dores - e doces - e pequenos seixos - e grandes pedras.

Embora tenham ido ladeira abaixo e tenham me encontrado morro acima são as palavras não ditas que me consomem, me formam e me deformam. Eu, as duas, as três, as deconhecidas de mim. Fito minhas mãos. A segunda de mim se despede. A terceira se exaspera. A quarta chama as outras e concordam em fazer-me calar. Torno-me próclise. Estou enclausurada e minha cela é aberta.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Aves estranhas

O que depende de mim?
- Sei lá, acho que quase nada.
Então enxugue essas lágrimas e vá trabalhar.
Os filhos de peixe são aves estranhas, às vezes.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Estranho e perfeito

Esquivo-me nessas horas em que me aprisionam meus pensamentos.
Alentos, tormentos.
Ouço tiquetaquear meu relógio de pulso:
Silêncios infindos.
Passados e amassados - os papéis e as lembranças
Esqueço-me e chamo por teu nome.
Lembro que li que preferimos carinhos de quem nos fez doer.
Estranho e perfeito.
A face que tenho e a que revelo
Quem sabe vê em suas órbitas (sementes ou pedras)
E conhece as mudas ocasionadas pelas estações.