terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Cérebro desligado

No trabalho sou uma equilibrista na mesa de atendimento: telefone convencional, celular, clientes, colegas e zilhões de tarefas diárias e acompanhamentos diversos.

Olá para o colega que chega, bom-dia para o cliente que aguarda na linha. São metas de tempo de atendimento, de adimplência, de contatos telefônicos, de seguridade, de crédito pessoal, de utilização da internet, de captação de recursos. Oito horas de trabalho, no ar refrigerado - que é para os neurônios não derreterem...

Gosto do que faço. Gosto de atender as pessoas, de apertar suas mãos e resolver seus problemas ou evitar que venham a tê-los. Prestar consultoria, disponibilizar alternativas - fico satisfeita com isso.

Lido com meu estresse e com as impaciências alheias. Tiro de letra na maioria do tempo. A lição da cordialidade e disponibilidade apre(e)ndidas em casa faz-me mansa e humilde com as arestas não aparadas que se assentam de frente ao meu birô.

Muitas vezes faço coisas com as quais divirto-me ao lembrar: discar o número do telefone no teclado do computador, atender ao telefone de casa dizendo "Banco do Brasil, bom-dia!", esquecer para quem liguei e pedir para aguardar - enquanto forço minha memória a revelar 'o segredo'.

Costumo dizer que 'desligo o cérebro' quando faço as coisas meio no automático. É uma maneira de escapar da correria louca do dia-a-dia (e de liberar endorfina, ao sorrir de mim mesma).

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Fibras azuis

O fim de tarde quente talvez sirva para experimentar uma fatia dos meus pensamentos.
Ora, devo ser paciente e acolhedora com as minhas ideias alteradas pela passagem.
Hora. Já é tarde e eu preciso retornar para meus olhos, deixar a sua imagem - tão linda.
Há amor, rumores de nós dois emaranhados em fibras azuis.
As horas idas - esperança das que virão.
Despediram-se nossas mãos no início do outro dia.
Depositei minha doçura nos seus lábios e fomos, aguardando outras tardes - até o reencontro.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Pernas quebradas

Se não for urgência não ligue para mim
Olho aqui de cima, do farol, as ondas que quebram na areia - pouca e branca.
Está certo. Está bom. Não é verdade que estou de férias.
Mas eu estou mesmo no farol
Sendo luz ou alumiada.
Quem viu uma bengala?
Pertence a estas minhas poucas palavras de pernas quebradas.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Sensibilidade poética, mas não para a vida

Coesão entre a letra e a ação.
"Sensibilidade poética, mas não para a vida"
Peixe fora d'água, silêncio metafórico
- sera possível falar sem dizer?
É tão difícil. É tão difícil.
Água mole em pedra dura
Na maré baixa desiste.
- na tábua das mares o mar está "cheio" agora,
mas distante da lua e ela é nova.

sábado, 21 de janeiro de 2012

As visões do mesmo nunca se repetem

Quando somos pequenos, somos levados pelas mãos dos outros: para tomar banho, para nos alimentar, para atravessar a rua. Agarramo-nos às extensões das mãos, aninhamo-nos nos braços que parecem (e são) a fortaleza que nos separa do medo, da solidão.

Chega uma fase em que temos vergonha de segurar na mão, em público. A auto-afirmação não permite que nos mostremos frágeis e apoiar-nos traduz pequenez... Segurar na mão, só se for do namorado.

O tempo passa. Vem a maturidade e novo olhar. O tempo passa. E muito rápido.

Hoje vi um senhor e sua neta, possivelmente. Apoiado no antebraço, dizia algo para ela e sorria (semblante de cumplicidade). Com certeza, antes a levou nos braços a passear na mesma praça da cena de agora.

Somos mãos e braços. E abraços. Ternos. Fraternos.

As visões do mesmo nunca se repetem.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Resposta de amor


"Contou-me lindas histórias
Cantou as belas memórias
De seu álbum de canções

Entoou todas pra mim
Fez a noite não ter fim
Gravou no meu coração

O nosso encontro é bonito
[Trouxe sossego divino]
Teu aconchego eu, menino, aceitei" 
- no final das contas e dos caminhos, volto pro ventre procurando aconchego.
(Maria  Fernanda)




Não cabe nestas linhas,
Não expresso com precisão
Todo o amor de plantinha que tenho por você.
Sementinha, flor
Os ventos levando seu cheiro para outros campos,
Deixando-me saudades.
Cantarolo baixinho as canções de ninar
Minha menina - porque teu sono é leve
E nossa existência tão breve...
E fico feliz em ser porto.



segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Pensamentos como manteiga em Pasárgada

Um céu azul de doer nos olhos.
É assim que está o dia.
A quentura do sol, a quentura do dia
Os erros e acertos de antes, as realizações de agora e as promessas para amanhã: 
mas está tão quente, os pensamentos como manteiga...
A geladeira branca como a neve - devo colocar meus pensamentos lá.
Endurecê-los um pouco.
E se eu for me bronzear e esquecê-los?
E congelá-los?
É bem possível que eu volte do passeio com um monte de ideias novas
E até cumpra minhas antigas promessas.
Batem a minha porta.
Que pena!
Quase vou para Pasárgada (tem praia por lá?).

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Formigueiro no travesseiro




Os pensamentos não deixam você dormir?
São como formigas incansáveis, trabalhando, carregando pequenas cargas de um lado para o outro.
Eu tenho um formigueiro na minha cabeça, ao travesseiro.
As minhas formigas são cortadeiras, ceifeiras e sonhadoras.
Elas sou eu.
Eu me permito dormir. Elas me acordam logo cedo.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Agulha e linha

Tantas vezes eu já quis dizer. E não disse.
E segurei o meu abraço e o meu grito
E o meu sorriso triste.
Quantas vezes eu quis ser beijo e fui espinho
E apaguei as histórias
Desconstruí minha vida
(desmantelei minhas costas e não aguentei o peso)
Larguei a corda e lamentei o resultado
Chorei escondido a derrota revelada.
Sendo eu, fui outras misteriosas partes de mim.
Entreguei-me ávida - a vida - e fui revestida
Parte de cetim, pedaços de brim.
Quem ajudou a vestir meus olhos de esperança
Traz agulha e linha.
Furou-me a retina, costurou-me a veia principal.
Nem tudo que reluz é ouro.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Parabólica


A parabólica, de Hugo Araújo. As palavras, do vento que passou.


Vi a foto e me enchi de palavras.
A imensidão desenhada de nuvens laranjas
E nelas o final do dia
O silêncio dos pássaros aninhados em seus galhos
A balbúrdia dos pensamentos, dos meus e dos outros.
Muda parabólica, espiando, do quintal, o arrebol
Sinais do sol - linguagem de fogo
Sombras lançadas no concreto do horizonte.
Quem poderia revelar mais do que o olhar?
A ponte para a lua - a parabólica - que antevia os raios de prata.
Enquanto isso, anoitece.

Cara de gente sem-vergonha

Passatempos. Cada um de nós temos uma forma de aliviar as tensões do dia a dia. A do meu pai é pescar. Pescar mesmo. Nada de ir tomar uma com os 'pariceiros', como diz a minha vó. Quem quiser ir com ele é para aguentar o sol na cuca, ficar no barco até à noite - sem enxergar um palmo além do nariz, fazer força para tirar e colocar o barco no reboque.

Mas não é só dureza. Tem o pirão de peixe fresco, de preferência de piranha graúda, e os passeios para as prainhas e as histórias (eu acho essa parte, junto com um sem fim de minutos boiando na água friazinha, a melhor).

Ele, meu pai, é caladão porém quando se espalha nos causos, a conversa é demorada.

Hoje ele veio jantar na minha casa: xerém com galinha e café preto. Cobrei meu peixe, reclamando que no supermercado só tem peixe congelado (não gosto!). Depois de justificar que nem tinha pescado no último final de semana, primeiro porque estava com o ouvido doendo e o sol estava de lascar o cano e depois porque à noite a ventania estava braba e que tinha desistido porque via a hora do barquinho virar, veio com uma das suas pérolas:
- da próxima vez que eu for para lá, vou levar veneno para matar a peste daqueles bodes!

Meu espírito, doutrinado por São Francisco de Assis, logo contestou:

- Oxente, painho, que invenção é essa?

- Pronto! São uns bichos danados! Pulam a cerca, entram em casa, derrubam tudo. Outro dia Aluízio (companheiro de pescaria) deixou um caldeirão de feijoada e a cabra entrou na cozinha e fez o maior sangangu (bagaceira, se você não conhece o termo)! A peste da cabra tinha a cara de gente sem-vergonha!

- Painho, quem já viu cabra ter cara de quem não presta?!?

- Deixa estar, respondeu, que quando eu for para lá, de novo, aquela cabra (contorcendo a cara, fazendo munganga de gente sem-vergonha) vai ver só uma coisa!

Meu pai, Izac Britto (Tutu)

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

A vida é breve

Meu amor, só quero dizer que não sei das rosas do meu quintal
E que no lugar onde sentávamos, hoje há um banco
Que já estava lá.
Preciso de palavras para dizer da brevidade do instante
Do balanço, dos meus suspiros sob o sol desse sertão
Que a vida é breve mas não passa em vão.



segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Os segredos

Os segredos da minha alma estão costurados com linha sessenta
Na retina dos meus olhos e tu os verás quando tristes estiverem
E nesses silêncios de luz e flor
A primavera brotou sobre a pedra iluminada no fim da tarde.
Outrora a menina de hoje era frágil borboleta
E hoje acha que sendo mulher prendeu uma das asas na árvore da vida.
Os segredos da minha alma dou-os a quem os puder ver.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Treze palavras e uma vastidão.

"A nossa felicidade é a possibilidade do amor se revestir com outra roupa".


A infinidade de coisas que rondam essas palavras não me permitirão, não agora, debulhar-me nesta tela.

Num arquivo

Uma carta escrita para não ser entregue.
Assim como um pensamento que não se traduz em palavras.
Dividir com as linhas toda aquela felicidade...
saudade... inverdades...
Abrir o envelope, abrir o arquivo
Reencontrar aquelas paisagens idas
Quase sentir os dedos entrelaçados - outrora enamorados.
Naquelas palavras um menino e uma menina
Acordes de uma banda americana
O sertão e a sua porta.
Tudo isso guardado numa folha.
Num arquivo.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Anatomia estranha da felicidade

Para amanhecer o dia, o seu bom-dia
Para a minha noite, o seu lado direito
Para a minha sorte, sua mão na minha
Segredos pequenos e permanentes
Que só cabem no universo inteiro.
Raminhos de alecrim - no meu jardim
Seus olhos postos na minha nuca
Seu coração, o meu pulmão
Anatomia estranha da felicidade.
Saudade. Saudade. Saudade.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Meu professor

No meu tempo de estudante não havia KUMON (que diga-se de passagem é um método muito eficaz de aprendizado didático e treino para autonomia). No meu tempo de estudante havia um professor de matemática chamado Jonas Costa. Exigente, cobrador. Minha primeira e única nota vermelha foi com ele.

Na aula dele havia disciplina, nada de conversas paralelas (quem se atrevia?).

Fora do colégio era um contador de piadas, sempre com um sorriso. Gostava de 'tomar umas' e houve um tempo que compartilhei da sua presença além da sala de aula: as farras na casa de Chico do Foto. Eu, menina, brincando com Patrícia e eles naquela algazarra.

Terminado o 'ginásio', encontrávamo-nos de quando em vez pela rua do comércio, depois na faculdade. Virou comerciante - banca de revista. Vez por outra batíamos um papo lá, na presença de dona Salete (que era quem ficava no tranco).

Tornei-me gerente de relacionamento e ele era da minha carteira de clientes e mesmo quando não era, procurava-me para sanar dúvidas e perguntar quando era que ia ser sorteado no título de capitalização.

Meu professor. Saudades e crença de que agora está num lugar com os melhores alunos, os melhores professores - no céu onde é possível ver face a face o Mestre dos mestres.

1985 - conclusão da 8ª série no Colégio Imaculada Conceição

Tepidez

Ouvi: há olhos cansados e mentes exauridas
Nos caminhos as raízes procuram água fresca
Não chove, nada se move
O verão consome a tepidez das palavras por dizer.
Esparramada na sala, a mentira fora do lugar.
Ventania que não adentra o recinto
Resta rezar para Deus abençoar e molhar os corpos ressequidos.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

É certo

Se o meu amor é grande?
Não sei como medi-lo, mas se ele me ocupa inteira é maior do que imagino.
Desconfio de que ele não caiba em mim
Pois escorre por meus olhos e minhas mãos
E também pelos meus pés - sempre em sua direção.
Então, meu bem, ser sua é como entrego a grandeza do que carrego
E nessa entrega ardo de felicidade
Esqueço dos tropeços e ouço apenas sua respiração nos meus cabelos.
Trilho em seus braços a felicidade de abrasar tanto querer.
O meu amor é grande. É certo.

Close your eyes, give me your hand, darling
Do you feel my heart beating?
Do you understand?
Do you feel the same?
Am I only dreaming?
Is the burning an eternal flame?
The Bangles - Eternal Flame

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Preocupação não amolece

O mormaço do dia me deixa preguiçosa
No calor deste verão algumas ideias insistem em não derreter.
Por que preocupação não amolece?

Determinação e dúvida

Talvez as meias palavras bastassem quando houvesse meios termos
Contudo nada se resolve pela metade
Mesmo quando protelamos assumir ou abandonar - o sol raia sem que o abonemos.
Passa a noite escura.
Passa o dia claro.
Não há lágrima que não seque
Nem sorriso que perdure a vida inteira.
Agora nem o vento sopra e posso ouvir, dentro de mim, o meu pulsar.
Determinação e dúvida - sempre.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Sem sairmos de cartaz

De acordo com nossa contagem no (CALENDÁRIO) estamos no início de um novo ano. Algumas coisas e hábitos continuam como antes - porque o espocar dos fogos não ocasiona o despontar de novas folhas no velho caule (quase sempre).

São muito louváveis nossos votos de paz, saúde, dinheiro no bolso e nossas muito boas intenções de mudar algumas coisinhas no nosso perfil, no nosso modo de agir. Mais importante seria não esquecer todas essas promessas e não esvaziar nossas ações de nossos discursos antes mesmo que termine a primeira quinzena do mês de janeiro.

Um novo ano é todo dia. E em todas as horas vamos moldando nosso modo de ser de forma que possamos, no final,  nos despedir da platéia sem sairmos de cartaz...

Para mim: ouvir mais, em alguns casos falar mais, em outros - falar menos. Organizar melhor meu exíguo tempo. Ficar mais tempo com a minha família. Entre essas palavras existem mais promessas do que parece.