quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Oração

A minha tristeza seja passageira
Sejam os meus olhos atentos para a vida
desenhada no pôr-do-sol
e no raiar do dia.
Esteja o meu coração disposto a recomeçar
mesmo depois de doer e sangrar.
Suspire a minha alma pelos odores de Deus
nas tormentas e em tempos de bonança.
A minha alegria seja a marca do meu ser
em tempos difíceis seja a reserva
para o inverno a atravessar.
Amém!


terça-feira, 30 de outubro de 2012

Enamorada

Tropecei nos meus passos
Meu coração já não era meu
Dei o que em mim havia de melhor
Era primavera.

Naquelas flores havia todo silêncio contemplativo do meu amor.

Era outubro na primeira vez
recordo que ardia minha alma
derramada dentro dos seus olhos.

Não havia mistério
eu também transformara-me em flor.


quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Enraizada

A gente se encontra por aí
porque, como no ditado,
o mundo é redondo,
não é quadrado.
Talvez não haja cumprimentos,
euforia, até mesmo alegria
em rever-nos.

De minha parte:
reticências.
Um coração acostumado a amor
não sabe receber menos do que isso.

Ofereço a minha face
para que veja minhas raízes.
Suas palavras e atitudes
foram como tempestade de vento:
sacudiram a copa
mas não foram capazes de mover a árvore.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Água salobra

Coração balançado na rede
não se acostuma à cama sozinha
O peito tem sede
não quer dessa água salobra.
Quer abraço
chamego
tempero
cheiro de flor

A moça tem um mapa desenhado no ventre
alumiado pela luz da janela.

Por entre as frechas
espia a lua
alta no céu:
tanta solidão
engana a noite.

As estrelas estão tatuadas
naqueles corpos (distantes) que suspiram
na frieza da madrugada.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Ipê amarelo

O relógio marcava apenas meio dia. Dia quente, do mês de outubro, num ano em que a chuva fez a curva antes de chegar à cidade. Quase tudo como todo dia, exceto pelo meu coração partido e pela visão maravilhosa daquele ipê amarelo.

Ter o coração partido tem remédio porque tantas vezes ele já esteve assim 'trincado' e teve a capacidade de sarar, confesso que muitas vezes sem o mérito do meu esforço. Não é um coração recheado de infelicidade. Nunca! A felicidade é parte dele, é como um visgo que não deixa ele partir. Ele anda triste com tanta coisa que não consegue digerir - tenho um coração com indigestão.

Aqui eu volto para a imagem que guardei do ipê. Lindo, imponente, contrastando com um céu anil, um tapete de flores ao seu redor. Naquele momento em que o fitei senti entrar pelas rachaduras do meu coração toda aquela felicidade de ser o que viemos para ser. Ali, plantada no canteiro da praça, estava a árvore sendo o que deveria ser: florida na primavera, mesmo na seca do sertão.

Não pude guardar para mim aquela euforia. Liguei para um amigo e pedi que fotografasse com seu olho digital aquela beleza exposta para quem quisesse ver.

Vou indo de encontro ao meu caminho. Sendo imagem do Criador. Florescendo, mesmo quando é seca. Meu coração fica confuso com tanta felicidade sendo posta por cima da indigestão cardíaca... Acho que é assim que Deus cura meu coração: me dá flores.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Cobertores

Meus pés frios.
Por um momento paro e penso
em palavras de consolo
abraços de mapa múndi,
silêncios de mãos dadas.

Lembro com saudade
e simpatia das pessoas
que me foram cobertores
quando a minha alma estava fria.

Estrelas da minha infância
vivem no céu que espio agora.
São mortas?!
Aprendi na escola.
Bordadas no manto da noite
para lembrar-nos da passagem
e orientar-nos de passagem.


terça-feira, 16 de outubro de 2012

Otimista

Eu creio que a dor vai passar
que eu vou lembrar do que já foi
sem minha alma latejar.
Sei que não vou esquecer
a menos que eu caduque
como diz a minha avó
mas no lugar de todo aquele lixo
brotará flor de maracujá.
E eu pego a enxada
crio asas de passarinho
beleza de borboleta
e corro atrás do pôr-do-sol
e do raiar do dia.

Assim, otimista,
Com curativos e esperança no peito,
paro para descansar
enxugo as lágrimas
limpo a garganta e canto
como bem-te-vi.

A vida é uma só
Eu vou. Estou vivendo.

Endereço da imagem

domingo, 14 de outubro de 2012

Noites

Quando tudo dentro de mim grita
e meus olhos não encontram a poesia
do dia
e minhas mãos não sabem desenhar os abraços
que são necessários
chovem palavras mortas nesse silêncio
de noites tão cedo enegrecidas.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Desejo meu


Não desejar, não intentar o mal
Não machucar propositalmente
Não fingir ser o que não é
Ser bom, na melhor intenção da palavra.

Ter uma alma com cheiro de flor de cajueiro.
Desejo meu. Estendo para toda gente.

Outono em outubro

Tenho saudades
constantemente
ininterruptamente.
Sou hoje aquela menina de outrora
Sou agora a mulher que me habita
Transformei-me em flor do campo
na ausência momentânea da paz

Crio asas
meu peito em brasas
Amarro o tênis
escondo o salto
escondo a lágrima.

Sou passarinho pequenino
céu imenso,
folhas de outono no mês de outubro
- este que muda a roupa do meu coração.
Estou em silêncio
nesta tarde que já começou anoitecida.

Tenho saudades
sorvo pessoas
rabisco desejos.

O mormaço do dia
o passarinho no meu pé de acácia.
Tenho saudades
sigo em frente.

A minha melhor parte

A minha melhor parte
anda fora de mim.
tem cabelos ao vento
e uma beleza sem par.

Um amor para toda vida
uma vida breve
para tanta coisa que temos para ver.

A minha melhor parte
tem nome
atende por Maria
tem olhos que vêem o céu
e braços que me circundam na tristeza.

Posso dizer que sou feliz:
a minha melhor parte
carrega de mim a melhor parte
- matéria vária
alma leve.

domingo, 7 de outubro de 2012

Encantamento

Formigas, clipes, vírgulas,
grãos, chuvisco.
Miudezas, imperceptíveis às vezes.

Dou para a vida
meus sorrisos,
palavras sem rima,
poesia dentre os abraços.

Minhas miudezas
neste mundo já não tão grande.

Meu encantamento
de almas
em silêncios
cuidadosamente escolhidos.
Como árvore
que aninha e sombreia.


sábado, 6 de outubro de 2012

Revelação

Olham-na.
Veem uma mulher sem mistérios?
Não se enganem
naqueles olhos
há muito mais que verdades proferidas.
Histórias inauditas
de amores e ódios
engendradas nos seus seios.
Árida e fértil
sua respiração infla os pulmões do mundo inteiro.
É frágil caniço ao vento
fortaleza de proteção as suas flores.
Suspira, impaciente.
Suas mãos cerram-se
seu espírito sente o crepúsculo.
Vejam suas raízes
à beira do rio.
Estendidas, desde muito longe,
contam seus segredos
perfumam as águas com suas poesias.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Mapa

No lugar do meu coração
encontrei jasmim em flor
Simples como a certeza de que a noite
sucede o dia
e que tanta flor cheirosa
era para falar do meu amor.

Nesses caminhos por onde tenho andado
surge no horizonte
o entardecer da alma que descansa
o palpitar do crepúsculo dos olhos saudosos de outros.

No lugar do meu coração
tem uma placa:
ponto de encontro para flores,
esperanças e amores lindos.

Bordado de luz


Eles já sabiam que era amor
Agulha e linha para unir o destino
(que ela não acreditava existir)
Ali, naqueles suspiros,
entre os novelos, um bordado de luz.

Entreolhavam-se espantados de si
meio dia, meia noite
completamente entregues ao ofício de amar.


quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Alma leve

Alma leve
em tempos de tribulação
Tento.
É difícil
em cada manhã
nos olhos nublados
- o céu azul anil -
nas mãos cheias de saudades
vazias de presenças.

Quero alma leve
canto cantigas de roda
nino meu coração
tão desejoso
de que venha o melhor
de que seja simples e suave.

Alma leve
em tempos de tribulação
Difícil.
Eu tento.

Quero colo,
calma,
palmas, braços e abraços
e umas palavras doces.

Os tempos são difíceis
o coração anda disparado
mas anda com cuidado
- que o tempo é breve
e eu quero a alma leve.