sábado, 31 de agosto de 2013

Desse jeito

Não sabemos fazer música
sabemos fazer amor
amor com jeito de fogueira
com cheiro de alecrim.

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Temp(o)estade

Choveu
uma tempestade
de céu cinza
no meio de nós.
Ficou frio
ficamos estranhos
cada qual num canto
eu querendo escutar seu canto
por entre os cantos do meu corpo.
Mais uma estação.
Choveu
para limpar o céu
para fortalecer as raízes
Queimou
virou cinzas
aquela palavra que doeu.
Mais uma estação
- e brotou da antiga terra do amor
flores no peito e raízes no coração.

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sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Sentença

Eu já contei que era para sempre?
Sempre que eu sinto o teu cheiro
e acordo dentro dos teus braços.
Desde que escrevia poeminhas nos guardanapos dos restaurantes
até mesmo quando o que tu tinhas reservado para mim
eram sorrisos e até logo.

Era para sempre
essa ânsia de te encontrar no meio do dia.

Eu já contei que era para sempre.
Eu sei que vai ser para sempre.
Por isso
nasce o sol:
para sentenciar o nosso amor.

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quinta-feira, 29 de agosto de 2013

A flor sou eu

Eu te trouxe uma flor
Não são apenas pétalas e perfume

Estão nela nossos segredos
nossa cumplicidade
esses anos todos que nos sulcam o rosto
embranquecem nossos cabelos
nossos suspiros
nossos projetos
os entardeceres na rede
a cama em que deitamos nossos amores
os caminhos que trilhamos
os filhos que plantamos
as músicas que dançamos
os horizontes que alcançamos
os sonhos que deixamos para trás
Nessa flor a promessa de que somos para sempre
de que nossa aliança é muito mais do que um anel
de que, embora madura, vou ser tua menina
com as mãos estendidas
e o coração apaixonado por teus olhos sisudos.

Eu te trouxe uma flor.
São pétalas e perfume. Sou eu.


Mãos

Mãos
Juntas em oração
Postas em reflexão
Calejadas, produção
macias, mansidão

Em obras
juntando pedacinhos
remendando vidas
enviesando as trilhas
alargando os caminhos

Nas mãos: os olhos
(nos olhos o fim da solidão)
andam entrelaçados
colando estrelas nos cabelos das moças
recolhendo as flores do ipê na praça.

Nunca mais sozinhas
as mãos
dadas em comunhão.

Esperança

Os olhos cheios de esperança.
Não esquecera dos contratempos
dos ventos que sopraram contra.
Simplesmente a sua cor era verde
Eram suas preferências
as folhas, as águas
a esperança.
Os olhos marejados
fitavam além, sempre.
Era marcado o seu coração
- marcado para ser feliz.


segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Flores e frio

Algumas pessoas são flores na primavera
outras o vento frio do inverno.
As primaveris deixam de ser flor
e passam a ser sementes
doam-se à terra
como pétalas que se misturam ao chão.
As invernais são capazes
de esfriar-nos a nuca
regelar-nos os passos
arrancar-nos todas as folhas.
Todas passam
passamos nós também
como estações.
Que a futilidade dos adornos
não nos façam esquecer para que viemos
e de que fomos feitos.
Pelos olhos seja a luz
pelas palavras (que não sejam vãs, nem vazias) a edificação do espírito.

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sábado, 24 de agosto de 2013

Inexperiente

O tempo adormece e desperta a semente
Ele, sábio
Eu, inexperiente

Neste momento
sinto o frio do final da estação
O tempo sabe como passar
Eu não sei o passo que vou dar.


Definição

Eu tenho um mundo guardado no meu coração
tenho verdades e dores expostas nos cantos dos olhos
Sou alegre e triste
disso sou formada
de alegrias e tristezas
das miudezas e retalhos alheios
das doçuras e agruras dos caminhantes que encontro pelas sendas
de palavras não proferidas
de silêncios assustadores.
Eu sou um coração com pernas e braços
sou palpite e imaginação
sou a mulher que nasceu
a menina que mora no espelho
a mãe e a filha
a linha que costura pelos dias afora a mim mesma.
Eu sou essa que se vê
sou a ave escondida pelo meio dos poemas
sou a flor depositada no vaso
Eu sou a destemida
a mais temida
a desvalida
aquela que desenha com graveto na areia fina.
Sou eu. Essa que caminha.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Estranha

um momento para pensar
um momento, pára
pensar num momento
pensar, um momento.

ponto final
final. ponto.

hoje estou sem paciência para vírgulas, pontos e vírgulas, explicações. estou na urgência da decisão, a lua é cheia, eu estou cheia de muros, com vontade de dar murros. na marra, arrancar essas palavras, quebrar a cara, quebrar os pratos. surtar. uma louca que desconheço engoliu meu bom senso.

eu sei. eu sei. não parece eu mesma. e não é. é outra que me devora e me cospe em carocinhos. agora não sou a brisa leve. sou eu a ventania que assanha o chão seco e sopra em seus olhos, e vocifera que o dia vai raiar depois dessa noite fria.

inspira. respira. ai! palpitação! inspira. respira. rabisco com lápis comum, escrevo impropérios, desvio o foco. de novo: inspira. respira. expira.

um momento vai passar
um momento, vai passar
vai passar.

hora do jornal, hora do jantar. amar. adormecer. partir ou ficar? alma estranha essa minha.

um momento para pensar se vai passar.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Fome

Eu tenho fome
de palavras

Saem de mim
todos os dias
as letras
Saem pela boca
pelos dedos
- falo até pelos olhos.

A minha fome
é de respostas.

Por que tem que ser assim?
Uns tão perto
outros tão distantes de mim?

Falo pelos cotovelos
penso então que o mundo
deveria compreender que me doem os ossos.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Um conto - o início

Pequeníssima. Era assim que se sentia. Orbitando ao redor de si mesma sabendo que o próprio umbigo não ia resolver nada daquilo que a incomodava. Um solilóquio, deitada no sofá. Já era noite e a vontade que tinha era apenas macerar aquela ausência de palavras, extraí-las do silêncio.

Dentro de si, sentia, havia uma fera. Negava-se em alimentá-la mas ela insistia em arranhar sua memória. Bicho sem misericórdia esse tal de ciúme.

Um conto escrito sobre letras pontilhadas. Amor de folhetim. Não era isso que ela queria. Queria ser estimada e valorizada. Eram muitos os seus defeitos, era totalmente imperfeita, mas o amor, o seu amor! Ah! Era tão cheiroso e derramado pelos cantos da casa, pelos cantos do olhos. Como pôde ele achar graça em outra que não nela?

Dentro de si, urrava a fera. Uma xícara de café. Debruçou-se à janela. Inspirou a brisa da noite. Curativo. Veneno. Concentrou-se no horizonte. Talvez a força do tempo fosse maior que ânsia de dar um basta.

Pequena. Solitária. Observada pela lua, que já subia, alta. A fera escutava o tempo lá fora.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Vai passar

Uma hora passa
passa essa tristeza que mora nas tardes solitárias
passa do coração
para o papel
passa dos olhos
para a paisagem

Uma hora passa
uma
hora
há de passar

Comprar uma passagem
para um lugar
onde a noite seja a noite
e não caiba durante o dia
a escuridão
de dúvidas e abandonos.

Uma hora passa
essa hora chegará

Perfumar o dorso das mãos
escrever cartinhas de amor
guardar as dores para depois.

Uma hora passa
- sabemos que vai passar.

domingo, 18 de agosto de 2013

Pelas frestas

parou à porta
hesitou em bater
conseguia escutar seu coração saltitando nos pulsos
queria dizer das alegrias que sentiu
das saudades que consumiam a cor dos seus lábios
quase parou de respirar
na ânsia de conseguir ouvir aquela voz

as meninas dos olhos
eram moças agora
vestidas para o amor
cerrou-as

- o vento estava tão frio
abriu os olhos, o sol estava adormecendo
queria chamar pelo nome 
queria chamar seu bem querer
- dentro de si a noite da dúvida.

criou coragem
bateu suavemente

escutou o arrastado dos chinelos
o cheiro de banho tomado
- era tarde demais
antes que lhe abrissem a porta
a sua alma já tinha adentrado pelas frestas das janelas

era uma conversa para decidir a eternidade que lhes pertencia.



Brasas

deitada de bruços
ouvindo o pulsar do próprio coração
circulando em seu corpo
a ânsia de saber de si

conversa.
não. monólogo.
sua própria voz ecoa nos seus pensamentos.

sabe que é amor
o que a empurra
o que a machuca
e a consome.

naquela tarde cinza
de respiração rarefeita
desejava deitar de mãos dadas
entregar seu coração
seu corpo invernoso.

queria brasas.

sábado, 17 de agosto de 2013

A crença

ela trazia marcas
bem dentro dos olhos
fora levada pelo amor
já matara - a si própria
já ressuscitara.

naquele momento seu silêncio
desenhava contorcidas letras.

era difícil partir
ela dizia
e meditava
sobre o valor de ficar.

menina
acreditando em promessas de eternidade
como saberia se daria certo?

Vazios

Os vazios
nunca refletem ao que se propõem
estão sempre cheios
das dores mais doídas
das saudades mais sentidas
dos desejos que nunca se realizaram.

Os vazios são enganosos
sempre repletos
nunca deixam em paz
a alma irrequieta.

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quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Beijos de amor

Não se ouve o silêncio da noite
Em toda imensidão
apenas meu corpo nu
minha alma crua
sua respiração em meus cabelos
e todo abandono que é possível
em beijos de amor.

Não houve alvoroço nas folhas
balançadas pelo vento
na janela espiava a escuridão:
via, solitária,
alinharem-se órbitas corpusculares.

Amanheci com gosto de por do sol
no meu peito brotava cheiro de eternidade.

Fé na vida. Pé na tábua

Ficam para trás as sombras, os caminhos
as paisagens, o açoite, os silêncios,
todas as palavras.

Com as mãos postas
a alma exposta
o ciclo se repete
a miudeza das horas
a clareza dos fatos
o enegrecido das dores
o lenitivo das curas.

Se põe o sol
pomos fé na vida
pé na tábua
dedo na ferida.

Ficamos onde fomos
vamos sem partir
partirmos sem saber onde ir
descobrimos mapas
revelamos segredos
apontamos estrelas
marcamos uma hora, enfim,
para a felicidade chegar
-que não se atrase,
que não demore-
a boca da noite quer cansar de sorrir.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Entrega

Eu prometo amar-te
ter minhas mãos entre as tuas
dar-te até mais do que precisas
No entardecer do dia
lembrar-te de que será em meus braços
que descansarás teu corpo cansado
Raiaremos na aurora desperta por detrás da serra
em caminhos juntos e separados
e dir-te-ei baixinho
das flores que fizeste brotar entre meus seios.
Com a certeza
das coisas relativas
absolutizo as palavras
entrego em cartas e versos
e em beijos prolongados
o amor que te prometi. 

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Filhos do amor

Na estrada
No caminho
Descobrimos que somos fruto
Fomos semente

Quem sabe
quem sente
que o horizonte é a sua casa
e a beleza de amanhecer
se compara com o ocaso das horas?

Promessas de eternidade
plantadas no coração
a alma sente saudades
de quem pode infiltrar-se
em toda imensidão.

Filhos do amor
na estrada
no caminho
grãos miúdos
caídos de uma árvore sem fim.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Travessia

à beira do caminho
pés calçados
como convém a quem vem da cidade
sua alma
à beira do abismo
gritando palavras de amor
apenas para ecoá-las
não parecia entender a vida
não havia nascido para a morte
era eterna a sua essência
da ponta aos cortes

parada ali
esperando o passar dos carros
sentia atropelar-se
por saudades e cheiros

não contava segredos
apenas sorria

ninguém sabia do seu abandono
do seu trono
da sua luta

era noite
parecia ser noite
seus cabelos escuros
castanhos e assanhados
emoldurando olhos
que viam de um lado a outro.

atravessou a rua
enquanto a vida atravessa a sua.

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Estrela

Atrasada.

O tempo não sabe
das horas
Eu escrava do homem
deixo os ponteiros
rodopiarem ao meu redor.

Urgentemente
veementemente.

Já é hora
de partir
já marca a hora
de voltar

Meu corpo
estrela
vai explodir
no universo
quem irá impedir?

Partirei
agora
depois
um dia..

Eu já cheguei partindo...

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segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Inverno

Pensei em cortar cebolas e tomates
podar as ramagens
colher umas rosas.

Era inverno
aquela chuva miúda
alagando minha varanda
acinzentando meu sorriso
enregelando meus dedos
(de onde nenhuma palavra fugia).

Dei-me a chance
de tomar café
ouvir as notícias mais tristes
- são quase todas -
do jornal.

A noite já havia adentrado no quintal
afugentado os passarinhos
e descortinado o véu de estrelas.

Ritmado
enlouquecido
meu pulsar.

Aquelas notícias da China
e da menina assaltada na minha esquina
faziam-me lembrar de que eu nunca fora
autora da vida.

Mera portadora
do encanto por formigas e flores pequenas.

Noite sem lua
- fico a pensar na felicidade de quem a vê
do lado de lá.

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domingo, 4 de agosto de 2013

Sementinhas

Plantei aquelas sementinhas
recolhidas pelo caminho
nem sabia ao menos se eram
árvores ou pensamentos
Nunca mais voltei
por aquelas sendas
mandaram dizer que floresceram
as ideias
e havia pássaros nos ninhos.

Abrigo-me de mim
nas sandálias cheias de pó da estrada
olho adiante
parto com as asas do sonho.

Ouço as cantigas da minha meninice
ponho-me feliz a recordar-me
do corpo banhado de luz e água.

Meus bolsos estão cheios
de sementinhas de flores.

Os amores enraízam-se na alma.

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sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Em papel de pão

Não soube de ti
quando te vi
Eu apenas não sabia de ti.
Então veio o dia
em que meu coração viu seus olhos
e desejei ser teu repouso
teu remanso
o porto de todos os teus retornos.
Se Deus escreve certo por linhas tortas
somos poesia escrita em papel de pão.

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Inominável

Eu tenho medo.
Caminho do lado de fora
da janela
equilibrando meus pés
no cheiro amadeirado
do teu perfume
na prateleira do armário.

Dentro de mim
mora um monstro
de olhos e cabelos escuros
Insisto em mostrar-lhe 
a saída.
Ele é teimoso
e não passa da minha língua.

Eu tenho medo
de não saber mais engolir
as chamas que lanço ao monstro.
Ponho-me à janela novamente
- o vento me leva.

Que o amor me traga!

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A menina

No corpo trazia as marcas
do amor de agora
Na alma
havia lindas histórias
dos amores que partiram
Ela, menina da terra ,
tinha no corpo
olhos etéreos.

Fingindo abandono
trazia para si
os pássaros coloridos
e toda sorte de pétalas

Sentada naquela cadeira
seu espírito
exalava cores rosas
como quem se põe
a descer no céu
num sol de arrebol.

Pôs-se a desenhar
rabiscos na palma das mãos
As horas idas
faziam morada no seu peito.

Os segredos da noite
enredavam-se em seus cabelos.
Anoitecia.

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