sábado, 29 de novembro de 2014

Encontro

deixei um recado
logo cedo
na cabeceira da cama
(para assegurar me,  janela e coração abertos)
"Amor encontra-me".







Dos saberes

No céu a lua crescendo
me dizendo das coisas indizíveis
e seculares de que nada sei.
Uma maresia brota dos meus olhos
Uma água que verte em dias assim.
Dói não saber.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Fragilidade

me deixava brincar na máquina de costurar
não conseguia deixar de perguntar a que horas eu voltaria mesmo que ainda nem houvesse saído
encheu minha cabeça de ditados que somente mais tarde descobri o sentido

seu ocaso faz das minhas palavras, fugitivas

sem saber bem o que fazer com seu choro infantil
pedindo coisas que não se podem dar
fico ali, sentada, olhando a fragilidade do mundo materializada nos cabelos brancos
e no silêncio da minha vó.


quarta-feira, 12 de novembro de 2014

A vovozinha, a netinha e a lua

Toda poesia incrustada naquela lua redonda e amarela
nascida ao pé da serra
fez-me ver, distante,
uma infância arrodeando o vestido de minha vó. 
A criança hoje crescida e
a senhora numa idade desmedida,
com olhos distantes,
já viram da porta da cozinha,
recitando quadrinhas
essa lua cheia de outras histórias. 

Não se perdem no tempo
nem os olhos
nem a luz
nem as palavras infantes:
"Bênça,  mamãe Lua
me dê um pouquinho de farinha
pr'eu dar a minha galinha
que está presa na cozinha'

Vem, mamãe Lua
iluminar esses olhinhos ermos
sentados, agora,  na sala de estar.
A poesia então é outra
- hoje está cinza e silenciosa.