sábado, 29 de março de 2014

Descoberta

Um dia,
eu que já te conhecia,
soube que era em ti
que eu guardaria
todo tesouro que possuía.
Entrou na minha vida
como música de viola
como festa de São João
Entrou para nunca mais sair.
E daquela ponte que eu atravessava
te dei a mão para irmos em direção à longa estrada.
E eu,
eu que já te conhecia,
te dei meu coração.

Canção do sol(ar)

Enfim, não adiantou...
no final da tarde
de todos os dias em que nos mantivemos separados
meu peito, apertado de saudade,
cantou junto com o sol se pondo
uma canção de amor
por todos os minutos em que nos amamos
declamou versos nas asas das casacas de couro
e dos galos de campina
e porque é tão natural nosso amor
derramar-se
chegou a noite para entregar pequenas dádivas
em nossos peitos nus
reencontrados ao final de tanta distância.
Toda luz
toda luz surgida das suas mãos
embriagam meus sentidos
e por isso, canto junto ao sol.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Fotossíntese

sim. era com olhos de criança que encarava a vida
e ainda não aprendera a moda da nova era
insistia em confiar
mesmo com todas aquelas feridas cicatrizadas
andava meio fora de moda
com todos os seus pedidos de com licença
as suas mesuras aos transeuntes
seus sorrisos educados de bom dia
suspirava, sempre, quase que invariavelmente,
com desejo de que amadurecida
(como deveria ser)
pudesse escolher melhor

então eram as facas e os grilhões
da modernidade
que andavam tolhendo sua felicidade

não era hipocrisia
o que queria
nem o que sentia

sentia era saudade do que estava por vir

difícil de explicar

dirigia-se com certa urgência
em direção ao sol
devia sofrer de fotossíntese aquele corpo
cor de luar.

quinta-feira, 27 de março de 2014

Dedos analógicos

céu de abril
mês de março
descompasso
prometem chuva
prometem pasto
prometo atitudes
olhos claros em órbitas gris
término
curso do rio
serpenteado entre a caatinga
curso da palavra
perpetrado nos meus dedos antigos
e analógicos
azul. azul.
sem nenhuma nuvem
(céu diferente o que está em minha boca)
ânsia de água
na terra seca
copo d'água na cabeceira
noite sozinha no universo que canta
planta
suplanta
somente a mente
tente. tente.
promessa de água fria
dor de dente.

terça-feira, 25 de março de 2014

Das coisas como elas são

Posto no horizonte
sol das manhãs com cheiro de flor de caju
deitando por trás das nuvens
acorda desejos noturnos
de descobrir-se raiz
Naquelas estrelas
as ideias amadurecidas
nas pedras pelo caminho

Sem dizer nada
luzindo
e morrendo
e vivendo

as sombras
toda luz
o vazio de tudo que há
a completude de tudo que são.

Posto os olhos 
no peito
inspiro a vida da madrugada

Lá fora
e aqui dentro
tudo pulsa.

sexta-feira, 14 de março de 2014

A menina dos poeminhas

Cantava na escuridão da noite
por entre os galhos e as fitas de todas as cores
Sabia ser poesia
no abraço, no cansaço, no remanso
de seus olhos fundos e verdes.
Cantava como o vento
como quem não sabe, sabendo
Escolhia todo tempo
esquentar os amores com abraços.
Sentava silenciosa
a menina dos poeminhas
agarrada nas esperanças suas e do mundo.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Noite cheia de esses

Sina
Destino de quem acredita
que o vento
tem caminho
O ar que inspira minhas narinas
perturbando meus pulmões
fortalece minhas ideias.
Sono
noite adormecida no meu peito
desperto e nu
Soma das pequenas coisas partidas
em papéis guardados nas gavetas.
Sumo
do mapa das futilidades exatas
sumo derramado, engolido com aspas e reticências.
Sinos
campânulas de vidro
ecoam madrugada nas almas sorridentes
depositam hortelã e miosótis nas tristes partidas
lembram ao vento da sua sina
- não saber de onde vem e nem para onde vai.