terça-feira, 27 de setembro de 2011

Saudade

Tenho saudade.
Do meu amor com sua barba rente ao meu pescoço
E as mãos postas nas minhas.
E minha saudade me enche de um amor que quero derramar.
Ideia estranha - minha alma hirta:
Imóvel na ânsia de esvaziar-se em abraços no seu corpo cansado
e adormecido, ao lado do meu.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Porcos e laranjas

O que falta em algumas pessoas é vergonha na cara. Desculpe o gosto amargo dessas palavras.

Se seu familiar morreu, seja honesto, não queira receber durante dez anos o benefício que ele não faz mais jus. Você se acha injustiçado pelo sistema? Quebre os grilhões, vote diferente, faça diferente. Não pague propina porque a lanterna do seu carro está quebrada e você não teve a responsabilidade de trocá-la e agora, ops!, o guarda viu! Não alimente o vício do sistema.

Talvez seja fácil falar... O dito popular diz que a ocasião faz o ladrão. Entretanto não existe meio certo, meio errado. Fuja da situação, não se contamine. Por uma laranja se perde o cento. Minha vó diz também: quem se junta aos porcos come lavagem. Não é para ser soberbo e esnobe. A mensagem é para ser fio condutor, pessoa misericordiosa. Isso não nos fará cúmplices em engodos e situações vexatórias. Aos porcos nova paisagem e não ao contrário!

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Nossa Senhora do Livramento

Nasci no mês de setembro. No mês onde as flores primaveris desabrocham para marcar a despedida dos dias frios e suas ventanias. Também comemoramos por aqui, em Arcoverde, no dia 23 de setembro a festa da padroeira da cidade. Flor maior no jardim eterno - Maria, nossa mãe.

Aqui, aquela menina de Nazaré, chama-se Nossa Senhora do Livramento. Mas ela é a senhora dos mil nomes: Nossa Senhora de Fátima, de Guadalupe, da Conceição, das Montanhas. Aqui nós a saudamos como nossa patrona, fechamos as nossas portas para saudá-la com nossos corações contritos e felizes, pois ela é a causa de nossa alegria. Por ela, veio a nossa herança, nosso motivo de regozijo, nossa salvação: Jesus.

Ela foi a mão que guiou o menino, os joelhos aos pés da cruz, o candelabro para a exposição Daquele que nasceu para ser a luz do mundo. Não é deusa, é mãe do Filho de Deus e todas as gerações a proclamam, e a proclamarão, bem-aventurada.

Maria pedimos vossa intercessão, quando nossa boca não sabe o que falar, e nossos olhos não vêem o que é preciso enxergar. Deus que sabe todas as coisas, que nos sonda em nossos silêncios e agonias, em nossas ausências e alegrias, fez de Maria, mãe de Jesus, a nossa mãe.

Neste dia, canto, com meus irmãos, vosso hino, mãe querida!

Ó Senhora do Livramento,
vossos filhos, benigna, amparai!
E na hora do vil tormento
Nossa fé, vinde, confortai!

Vinde, ó mãe querida
Vinde nos socorrer
Nas lutas desta vida
Ó mãe, dá-nos vencer!

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Raízes

É a mesma paisagem de outrora - mas são outros os olhos
Ainda que me pertençam desde sempre.
Vejo o que se esconde?
Talvez. Na revelação oculta das linhas das minhas mãos há milagres.
Quero dá-los e não sei quem os receberá.
Na minha mente caminho numa trilha sem fim.
Cheiro de alecrim, de jasmim.
A vida em potinhos guardados no meu congelador.
Amor. Paciência.
Outras paisagens não me trarão as velhas pessoas.
Estou me distanciando da árvore?
Suas raízes já caminham no meu coração.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Papas na língua

Você tem papas na língua? Eu tenho. Gostaria de não ter. Algumas verdades ditas de supetão me fariam bem. Meu problema é que o peso da verdade me amarra. O que vou dizer é verdade para mim e pode não ser para o meu interlocutor. Vou criar uma barreira no meio da ponte... Não sei se serei capaz de transpor a parede, ou de destruí-la com um abraço.

Não sei explodir e em seguida agir como se nada tivesse acontecido. Preciso de um tempo para macerar tudo aquilo. E como na questão da verdade, o tempo também apresenta a mesma dicotomia. A relatividade das coisas consome minha capacidade de agir rapidamente em determinadas situações.

E então as palavras param no meio da garganta, o abraço morre em muitos olhares compridos (nesse ponto a outra pessoa sempre me pergunta - por que é que você me olha tanto?), o silêncio cria uma capa protetora para minha incapacidade de lidar com aquilo que me incomoda. Tenho sorte de muitas vezes a outra parte me socorrer nessa agonia em que não determino pôr um fim. Minha racionalidade, meu senso de justiça...



A imagem da justiça é uma mulher, de olhos vendados, com uma balança. Ela tem uma vantagem: o que os olhos não vêem, o coração não sente. No entanto tenho que fazer minhas escolhas de olhos abertos e tenho que manter meu coração aberto.

Ninguém disse que viver era fácil, mas gosto de acreditar que podemos facilitar as coisas, embora me seja tão difícil lidar comigo mesma.

domingo, 11 de setembro de 2011

Breve

A vida breve. Poderia escrever a vida é breve, mas a existência do verbo de ligação faz parecer que é mais extensa. Tão passageira que não cabe senão uma palavra que explique sua efemeridade.

Por isso devemos deixar de lado o que é tão difícil de relevar: as mágoas, as tristezas. Outros já disseram e muitos outros ainda dirão essas mesmices que ora escrevo. Sabemos que faz mal ao coração guardar ressentimentos, recordar maus pedaços. O que foi, já foi. É passado. E digo para mim mesma no silêncio noturno da minha cama que devo esquecer de lembrar as coisas que me embrulham o estômago.

Há uma diferença entre saber e fazer. Por isso no escuro, de olhos abertos, tento me recordar dos conselhos que dei e aplicá-los nas minhas próprias veias.

Vida breve. Devo lembrar-me. E para isso faço promessas: voltar a caminhar, aprender a tocar violão, melhorar a arte de escutar, enxergar o que há e não o que eu quero que haja, visitar com mais frequência, utilizar a promoção do meu celular e ligar para os meus amigos.

Vida. Fazer na minha brevidade alguma coisa para a eternidade. Daí vem a minha urgência.

sábado, 10 de setembro de 2011

Seja a pedra no sapato

Tem gente que não sabe a que veio. Passa a vida em cima do muro, se preocupando com coisas que não são da sua conta, ou dando conta de outras tantas que ninguém está interessado em saber.

Minhas filhas costumam dizer 'tudo é culpa dos pais' entre risos e caras cínicas de cumplicidade para justificar algumas atitudes e escolhas. Parcialmente estão corretas. Influenciamos suas escolhas, moldamos suas atitudes, mas chega o momento em que nossas palavras e exemplos são balizadores, são norteadores contudo não determinam as escolhas.

As pessoas do primeiro parágrafo me enervam. Permanecem no emprego, reclamando, porque não tomam a iniciativa de fazer o que gostam, não cumprem a sua parte, porque se escoram no outro - esperando que ele faça, não dizem não para não se comprometer, nem dizem sim. Essas criaturas mandam recados, se eximem das verdades cruas, preferem cozinhar mentiras, engendrar situações - melindres de quem vive pé ante pé numa parede estreita - esconderijo para suas volatilidades.

Tem um ditado que minha vó repetia para mim, quando eu era criança, falando da minha política da boa vizinhança: você é água me leva, água me traz. Dizia isso porque para mim estava bom brincar na rua, brincar em casa, passear de carro, ler no silêncio, ler no barulho. Minha adaptação às situações diversas vem de longo tempo, porém se não me agradava, era 'tchau e bença'...

Então, se o emprego não lhe agrada - corra atrás de outro, mas enquanto estiver no seu, faça a sua parte da melhor forma que puder. Se o seu namoro é sem futuro, acabe - antes só do que mal acompanhado. Deixe as coisas em pratos limpos, as arestas aparadas, as dúvidas dirimidas. Seja carne ou peixe. Como diz a minha mãe: seja positivo. Seja positivo, proativo, sincero.  Seja a pedra no sapato, seja o lenitivo para a ferida. Só não seja a indefinição da outra face do ditado: a folha seca que a água leva e traz.


terça-feira, 6 de setembro de 2011

Pérolas imortais

Estava eu atendendo uma senhora que me falava sobre suas comissões: que estava vendendo muito bem, que a clientela estava procurando por ela, mas tinha uma coisa, se o patrão dela não aumentasse o percentual ela ia pedir a carta de EUFORIA... porque assim era demais, estava se sentindo explorada.
Continuei impassível, com cara de paisagem...
Em seguida, pensando que a cota de pérolas estivesse esgotada, descobri uma coisa importantíssima, que até então eu não sabia:
- Valéria, será que o caixa já terminou meu depósito?
- Vou olhar prá senhora, só um minutinho...
- Olhe, não é que eu esteja desconfiando de você, nem do caixa, mas é porque você sabe, né? Nós somos IMORTAIS...
(Iuhuuuuu! Eu, o caixa e a cliente: I M O R T A I S).
Fui até o guichê, a língua coçando para comentar com alguém... Não deu, as risadas ficaram para o fim da tarde!