sábado, 31 de março de 2012

Saudade

Tenho saudade
E ela não passa
Há estradas abertas 
Que isolam meu coração.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Eu não tenho medo de morrer

Não ter medo de morrer. Eu não tenho medo da morte, da escuridão. Tenho medo de partir antes da hora que eu ache que seria a certa. Deixar as contas pagas, o guarda-roupas arrumado, as plantas podadas, as filhas criadas. As filhas criadas: pensamento recorrente.

O depois do último suspiro, o corpo hirto, os olhos fechados, as mãos postas, as cinzas restantes. Nada disso me amedronta. O que dói é saber das lágrimas que brotarão, do corpo convulsionado de soluços pela dor da minha partida e da minha incapacidade técnica de consolar.

De frente de minha casa há duas árvores. Uma é Ficus e a outra, Acácia. A pequena semente, frágil e solitária, soterrada, hoje estende seus galhos e suas folhas sombreando minha calçada e meu terraço. De tempos em tempos os dias de mudança se avizinham, secam suas folhas e as espalham pela rua. O ciclo, para aquelas folhas, se fecha. E sendo folhas são árvores. E a árvore, mesmo desfolhada, continua árvore.

Não tenho medo de morrer. Deus é Deus e ainda quando, um dia, eu estiver morta, serei filha de Deus.

Uma folha que cumpriu o seu ciclo de vida e, caída, ficou pendurada numa teia de aranha é lembrança do viço de antes, é presença do que partiu e ficou, é rede que interliga a vida e a morte.

No livro A menina que roubava livros, de Markus Zusak, a morte diz assim: "Quer saber a minha verdadeira aparência? Eu ajudo. Procure um espelho enquanto eu continuo". Nada de capuz, olhar soturno, foice. No final serão os nossos olhos, as nossas mãos. No final será a ausência da clorofila. Estaremos desobrigados da vida do ser e ainda assim, e mesmo assim, seremos nós no final.



quinta-feira, 29 de março de 2012

Pálpebras cerradas

Olhos de grão de areia, de ventanias, de cercanias
Era estendida no horizonte a sua vontade de viver
Estava sentada sobre o granito
Altiva e de pensamentos perambulantes.
Desenhados na fronte daquela menina
Finos traços - era mulher.
No seu peito todos os amores
Ardores cingidos nos seus pés descalços.
Havia lacunas entre os seus seios
e veios profundos nas suas pálpebras cerradas.
Ela era o outono naquele dia de verão.
Sabiam dos seus segredos
Os pássaros a voar no arrebol.

Para Deus

Arrumei-me para ir trabalhar
Os procedimentos de sempre
Desodorante, perfume, maquiagem
Roupa e salto.
Cabelo preso, bolsa de lado.
Entrei no carro e parti.
No caminho, a minha frente um horizonte tão azul
que enxerguei cinza.
A chuva desse ano ainda não veio.
Pelo retrovisor vi poucas nuvens
e pensei em como tenho me arrumado para Deus.
Não sei bem se Ele me faria um elogio,
se diria que estou bela.
Quero ter a minha alma cheirosa a lavanda suave
vestida das boas ações de todo dia.
Saio para trabalhar e levo comigo meus anseios de eternidade.


quarta-feira, 28 de março de 2012

Braguilha para trás. Patim. Lundum.

Tem dia que você amanhece com a braguilha para trás? Eu, sim.

O dia está lindo, eu acordei na minha caminha confortável, o café da manhã está pronto, meu cachorro "me sorri, latindo", minhas filhas estão com saúde, meu marido está do meu lado, minha família não está passando por nenhum problema gravíssimo, tem até uma rosa graciosa no jardim. Ainda assim meu humor não está bom.

O sol 'está muito claro'. O carro está muito quente. O telefone tocando me impacienta. O menino correndo no meio do salão é motivo para eu 'fuzilar' a mãe com meus olhos. E eu não estou na TPM. Só estou chateada. Não é nada que ninguém fez (ou esqueceu de fazer). Não é expectativa frustrada. Talvez seja mesmo o que diz a minha vó: pantim.

Via de regra, obrigo-me a deixar de lado esse lundum - não gosto de amuamentos. Tomo meu café, conto até dez antes de responder a perguntas bobas, saúdo cordialmente as pessoas. A impaciência não me permite recolher a rosa, nem ler pacientemente um poema. Chamo uns amigos pr'um café. Até para cara feia e abuso n'alma há tempo. 

terça-feira, 27 de março de 2012

Cinzel

Exitantes.
Pensamentos e palavras, postos nas pontas de meus dedos.
Ao sair não me deixam
e desvelam meus segredos descorados.
Da minha alva pequenez
contemplo andrajo viajante
e não sei se no meu passado deixei-o assim
tão triste e solitário
entre as pedrinhas brancas e redondas
seixos do caminho.
Os olhos esmeralda 
postos na noite de estrelas serenadas
sussurrando lágrimas de entardeceres na biblioteca.
Os livros. As páginas. A vida.
A semelhança é coincidência
tenho olhos felizes
e vejo verdes os campos
sedentos de chuva e piedade
- a poeira é agora,
cinzel na madeira - a água:
folhas nos galhos.
Meus olhos verdes. Determinados.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Água ácida

O que me espanta não é saber de verdades diferentes das minhas
Nem encontrar-me, vez por outra, enovelada nas verdades dos outros (ainda que meias)
Saber que tudo é relativo me faz mais leve
mas não abrevia minha responsabilidade e não faz de mim inconsequente.
A consciência de mim não inibe a minha mistura fugaz e também perene nas vidas a que me entrego.
O que o espelho me revela nem sempre é o que vejo
nem o que esperava ver
e ainda assim a luz é somente fio condutor
não é ela que ocasiona a dor.
Suspiro e fecho os olhos:
Essa água já passou por debaixo da ponte
Evaporada, ainda não choveu
e eu, ainda sou eu falando sobre meias verdades ou mentiras inteiras.

Quando chover essa água ácida, sob um céu azul de abril,
meus olhos serão desejosos de pétalas e pedras.
O jardineiro sempre se transforma em flor
A menos, claro, que sua ambição seja a tesoura.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Antes de chegar ao cimo

Sofre por amor, reclama do calor.
Suspeita das boas intenções
sua consciência pesa até chegar alcançar o vão entre a cabeça e o chão.
Logo em seguida descobre que era tudo verdade e se sente culpada por não ter ouvido a voz muda da razão.
Mas se guiar pela razão é previsível
e o que quer que haja desenhado na folha
escondida entre os livros fará palpitar a camisa por cima do peito.
Peito nu e vestido de azul.
O cheiro de barba ausente invade os sentidos.
brinca com outros sentidos
reina em outros sentidos
faltam-lhe os sentidos.
Sobe a ladeira antes de chegar ao cimo
Desce à igreja em procissão de uma pessoa
- em redor de si a convicção do preenchimento do amor.
Rala o joelho no cimento
dobra-o diante do altar.
Tudo é silêncio.
Nada silencia fora de si.
Estende os braços fingindo galhos e folhas
Árvore. É. Ela é uma árvore da caatinga.
Firme sob o sol
Enamorada da lua
Suas lembranças, doces e assombrosas,
nas nuvens tão brancas, nas nuvens tão gris
Duas flores azuis
e abelhas operárias no tronco firmado na ventania.
Quer fazer da seiva oração.
Na caatinga. Duas estações.
Agora é quente
e todas as suas folhas balançam, à brisa da noite.
Reclama do sol e do frio da madrugada
Admira-se das verdades incontestes
e sepulta as mentiras deslavadas.
Condena o meio termo
lembra de seu disfarce
- a árvore foge por seus olhos abertos.

Por Elmário Ribeiro

Caixinha de papelão

Quando eu puser meus olhos em você
Tome-os e arrebate-me.
Fora de nós há ventania.
Desatino e prumo
Caminho, arvoredo, horizonte distante
dentro de uma caixinha de papelão.
Quando tudo for saudade
abre a janela e a mão:
nos seus olhos, o céu
nas sua mão a marca de mim
- para sempre, até quando Deus quiser.

Imagem de http://artesanatopassatempo.blogspot.com.br/ 




quarta-feira, 21 de março de 2012

Sombra de Deus

A minha sombra:
Reflexo de mim
Quando me olham as luzes.
Adiante ou atrasada
se há luz, estarei sombreada.
A verdade revelada
é que à noite, na hora mais escura
Deus ainda está comigo
e a minha alma, sombreada,
se sente feliz por ser iluminada.



terça-feira, 20 de março de 2012

Passagem

Em Arcoverde, 20/03/2012 - por Elmário Ribeiro

Um dia direi dos crepúsculos que vi
e lamentarei todos que perdi.
Não serei uma velha
de mãos postas no colo.
Para o meu lamento haverá consolo?
O mundo é mundo
e eu só passagem.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Noite de verão

No escuro, respiro
Imagino que posso cortar o ar com uma faca.
Está quente e silencioso
A noite está muda, o vento nada balança
- talvez eu o tenha aprisionado.
Procuro a mão do meu amor
- está ali. Acaricio seu dorso.
Onde está meu sono?
Grita uma rasga-mortalha
- insone como eu?
No escuro, respiro
No claro, respiro
Pé ante pé surpreendo-me ao despertar
No escuro, dormi
Tenho medo de que tudo seja ilusão.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Poesia Corporativa



Das Utopias
Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!
(Mário Quintana)

A palavra poesia traz em si a ideia de que trata-se, quase como uma regra, de assunto ligado ao emocional. É bem verdade, na maioria das vezes.

Hoje quero fazer referência entre o mundo corporativo, a letra fria das metas e instruções, e a beleza do que trazemos dentro de nós (o que torna a gestão corporativa mais democrática e acessível ao nível das relações interpessoais).

O objetivo que traçamos para as nossas vidas, o planejamento pessoal ou profissional, o acompanhamento e realinhamento dos procedimentos, enfim, nosso envolvimento nos projetos a que nos propusermos, devem manter direta relação com nossas crenças pessoais (quais sejam).

Acreditar que terá valido a pena 'comprar' o problema do cliente, oferecer a melhor solução, divisar o crescimento do outro juntamente com o seu, tudo isso é poesia. E essa, somente os profissionais comprometidos e engajados, poetas do dia-a-dia, declamam.

A meta, em alguns momentos, parece fugir: dispara em nossa frente. Fico satisfeita em saber que algumas pessoas que disparam atrás dela não atropelam os que também correm para alcançá-la. E melhor, acreditam semear flores pelo caminho (e olhar para as estrelas do Quintana).


Bisturi (para pensamentos)

Da janela da minha casa não dá para ver a rua.
As janelas da minha infância davam-me velhos e meninas como eu
Feira-livre às sextas e aos sábados - e histórias dos sítios
- contadas entre os fumos de rolo e os tijolos de queijo coalho.
Do meu quarto, hoje,
Miro a cruz, lá na serra disposta
Fito-a vez por outra, na frieza da noite.
Guardadas as lembranças
Ficam expostas saudades dos respiros, das janelas
Medito sobre a extirpação dessas ausências e diferenças.
Não há bisturi para pensamentos...

Em Arcoverde (PE)


quarta-feira, 14 de março de 2012

Comportamento. O Estreito de Bering.

Viemos do mesmo lugar? Talvez já tenhamos todos falado a mesma língua, possuído a mesma cor de pele, possuído as coisas sem possessão, dividido outras sem medir a parte antes de entregá-la.

Evoluímos? Temos luz, ruas pavimentadas, canteiros de flores, comida congelada, livros, vacinas, internet. Contudo se pensarmos um pouquinho, a caverna e as atitudes trogloditas ancestrais estão contemporaneamente bem a nossa frente (talvez morando conosco ou sendo nosso cartão de visitas).

Acho que pode ser verdade a teoria de que migramos pelo estreito de Bering ou que, para horror de alguns, o homem tenha sido 'plantado' primeiramente na África. E pode ser que, pela nossa natureza, aqueles que tenham migrado tenham sido importunados (ou tenham sido expulsos) -  e o nosso problema de convivência seja tão antigo que os melhores tratados de paz e boa convivência não sejam suficientes para banir esse gene da diferença do nosso DNA.

É difícil compreender a diferença e mais ainda aceitá-la. Nossa evolução deveria ter-nos dado um coração cartilaginoso. Um coração que estivesse em nosso cérebro. Esse nosso é músculo que pulsa mas não pensa.

Aí vamos nós, seres evoluídos: matamos e não comemos, construímos mansões e olhamos as favelas pela televisão, engravidamos e despachamos as crias em bolsas de lixo na lagoa,  fazemos licitação para obter o menor preço e desembolsamos o maior valor para a empresa de um familiar, traficamos órgãos e remédios, estudamos para tratar mal os pacientes, discriminamos os ímpares.

Talvez o estreito, na força da palavra, precisasse ser mais largo. Uns de nós passaram completos. Outros vieram somente invólucro. Vazios ficaram mais leves e ágeis (e perigosos). Misturamo-nos, afinal somos todos encantadores. Viemos do mesmo lugar. Resta saber quando o bem vai vencer o mal (e o cérebro é que será a tiete dos versos, fazendo-nos corar).

Endereço da imagem


terça-feira, 13 de março de 2012

São Lucas - o médico e apóstolo

"Foi um menino forte e vigoroso, obediente, mas muitas vezes silencioso. Divertia-se com os brinquedos que José fazia para Ele e brincava como as outras crianças brincam. Mas, no meio de seus brinquedos, ficava de súbito imóvel como se pensasse ou refletisse. Era isso que aborrecia as outras crianças, isto, e Seu súbito afastar-se delas para ficar sozinho". Trecho do livro Médico de Homens e de Almas, de Taylor Caldwell.

Emprestou-me este livro um amigo querido, a quem depois pedi para comprar-me um exemplar. Fala sobre a história de Lucano (o nosso São Lucas, evangelista da Bíblia Sagrada).

Único apóstolo que não era judeu. Nunca viu Jesus. Para ele Maria revelou o Magnificat. Mostrou para o mundo da sua época que Jesus veio também para salvar os gentios (nós) e não apenas os judeus convertidos à Boa Nova (o que se aplica em muitas situações extremistas e excludentes de nossos dias).

Fica como sugestão de leitura.

João 20,29 "Disse-lhe Jesus: Porque me viste, creste? Bem aventurados os que não viram e creram".

segunda-feira, 12 de março de 2012

Pendurada no meu quintal

A lua, pendurada no céu do meu quintal
Deu-me boa noite na sua solidão.
Espreitei com inveja a sua beleza
Iluminada pelo sol - escondido e de revés.
Bobagem a minha achá-la sozinha
No meio de tantas estrelas.

A menina crescida olhou-me tristonha
Acenou-me com a cabeça e entrou em casa
Vi, não sem desejar,
Os beijinhos das suas meninas.
Bobagem a minha achá-la sozinha
No meio de duas estrelas.
(a terceira, cadente, anda brilhando em outra galáxia)

Lua (08/03/2012) - "capturada" por Elmário



domingo, 11 de março de 2012

Pelo sinal da Santa Cruz

Inclinai a tua cabeça, em oração. Contudo e sobretudo inclinai o teu coração. Derramai-o no templo. Porque de nada adiantará se tuas ações não forem guiadas pelo amor.

Em tua vida seja o Espírito o sopro que orienta e encaminha. Que em tua cabeça pulse o desejo de unicidade e conformidade com o Pai, que já se encontra em ti.

Quando orares e benzeres teu corpo, dizendo: pelo sinal da Santa Cruz, livrai-nos Deus, Nosso Senhor, dos nossos inimigos, sejas o sinal de que Jesus morreu, crucificado, não em vão - porque todo teu ser deseja receber a infinita paz e proteção que somente Nele existe.

Inclinai a tua cabeça e o teu coração. Abri a porta. É Ele mesmo que te chama,  te tem como eleito e muitíssimo amado.

sábado, 10 de março de 2012

Prefiro quando estou bela

Na identidade, estática e colorida,
sem sorriso,
Estou eu.
Há dias em que estou numa escala de cinza
Onde vou minha alma não revela
Onde estou?
Bem aqui.
É feio ficar triste.
Bonito é ser alegre
- o caminho das flores do campo.
A tristeza tem espinhos
Mas não me furam os dedos.
Fico feia no meio do dia
No fundo do mar
Na cadeira de pensar.
Na vitrine minha identidade
Parto rumo ao horizonte
Sol poente. Sem lamento.
Também sou paleta de cores.
Prefiro quando estou bela.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Marcados na fronte

Não se sabe como se encontraram
estavam marcados na fronte
- se reconheceram na praça.
Ele, olhos da noite
Ela, olhos do dia.
Deram-se as mãos, os braços
Usaram novelos na teia de pensamentos.
Ele escutou
Ela falou - e seu coração aquiesceu.
Simbióticos. Semióticos.
Significados e justificados naquela noite
Onde as estrelas tocavam tambores.
"Há coisas que escondem outras
- que só se revelam a quem as sabe desvendar".

Infantil(IDADE)

Crianças são apenas o máximo - parafraseando um grande amigo.

São verdadeiras, despojadas de vaidades, interessadas no prazer das coisas cotidianas, parceiras de momentos ímpares. Vou fazer desta postagem um diário de apanhados. Da minha experiência (já que sou mãe de três filhas) e dos causos alheios.

Vamos por números:

1º) O filho de um amigo faz KUMON de português. Tem 5 anos. Estava lendo as palavras por meio das figuras. No meio delas surge uma não tão comum. A mãe pergunta: Tiago que palavra é essa. Ele, olhando para o papel, pensa, pensa, pensa e diz: BU... LE. E emenda rapidamente: isso é uma coisa muito ruim, não é mãe?
A figura era de nossa popular 'chaleira', mas a pronúncia era de BULLYING. E é isso aí minha gente! A criança já ouviu falar que 'tirar onda' do colega é muito ruim. E viva a esperteza desse menino!

2º) O avô vai buscar a neta no SESC. Vem ela e a amiga. Levantam o banco da frente e passam desajeitadamente para o banco de trás. Ela senta de qualquer jeito e reclama: ai, minha pipica E o avô, fingindo de sério: o que é isso, menina? Serelepe e de resposta imediata a netinha diz: é bumbum, só que eu estou falando em francês.

3º) A tia liga para resolver uns problemas. Do outro lado da linha, a mãe confidencia: se esse menino vier para minha cama hoje de noite, de novo, deitar entre eu e o pai dele, vou pegar nas suas duas orelhas e levá-lo de volta para o quarto... A tia ouve uma vozinha, distante: Aí, eu VINHAVA de novo!

4º) Por dedução, o contrário de liso é crespo, de escuro é claro, de muito é pouco. Para o menino atento há a presença da lua no céu, naquela noite. E ele indaga a mãe: tá vendo a lua SECA no céu? Era crescente, assim como a sabedoria dele...

Mais histórias no decorrer dos dias.

Imagem: http://bloganimatrix.blogspot.com.br/2011/02/calvin-e-haroldo.html

Porquinho circulante

Muita gente, inclusive minha própria filha mais nova, tem o hábito de guardar moedas num cofrinho. Os mais velhos já ensinam: quem guarda tem. Contudo, guardar o troco no porquinho, além de tirar a moeda de circulação pode levar o tiro a sair pela culatra (entenda o porquê mais abaixo).

Por esses dias estive conversando com um colega. Ele trabalha num setor que sente o reflexo desse ato de economia: a tesouraria. Disse que embora haja distribuição de moedas para a população, através da troca de numerário efetuada pelo comércio, poucas vezes há o retorno.

A gaiatice do nosso papo ficou por conta do comentário que ele fez:
- Oxe, Valéria, eu mesmo estava guardando umas moedinhas em casa. Vê se pode! Eu que oriento não fazer isso... E o pior é que quando balancei o porquinho só caíram umas quatro... A pessoa que ajuda lá em casa já tinha dado destino as minhas economias.

Aí eu ri. Risada solta, antes do expediente, e disse para ele que aquilo havia sido castigo: é, meu querido, sua ajudante assistiu o telejornal e cumpriu, fielmente, a orientação de 'fazer a moeda circular'!

quinta-feira, 8 de março de 2012

Vida Internacional da Mulher

Hoje recebi muitos parabéns, aos quais cordialmente respondi com um muito obrigado. Os parabéns pela passagem do dia internacional da mulher.

Costumo dizer que só existe comemoração do "dia" para minoria ou para oprimidos. Dia do índio, do negro, da mulher. Não quero ser polêmica, nem tirar o mérito do reconhecimento da importância da mulher no contexto social, político, econômico. Quero somente externar que tantas mensagens exaltando nossos atributos e nossa importância, os comes e bebes, o esforço midiático de dizer-nos importantes não devem servir ao propósito de dar uma demão de tinta para cobrir imperfeições: as ações dizem mais do que as palavras, por isso vamos tratar igualmente o que não deve ser tratado diferente (salário, oportunidade, respeito - por exemplo).

Somos capazes e inteligentes. Somos sensíveis. Mães. Filhas. Esposas. Namoradas. Professoras. Donas de casa. Astronautas. Físicas. Jardineiras. Consoladoras. Apaixonadas. Humanas. Somos mulheres. E isso não nos faz melhores. Nem piores. Nem mais nem menos capazes. Sob a visão cristã, somos criaturas. Criadas à imagem e semelhança de Deus. E essa semelhança não é física, é essência. Carregamos a centelha do Criador. Nós todos. Inclusive os homens.

Uso este espaço para agradecer, mais uma vez, pelas delicadas lembranças e reiteradas mensagens, poesias, sorrisos. Uso também para lembrar de que ser mulher encerra um mundo inteiro. Que possamos nessa confraternização de beleza, de flores e chocolates não esquecer-nos de que somos todos esses elogios do dia de hoje - só que o ano inteiro, nossa vida toda. Sempre avante. Como a humanidade.

Hei de perder-me?

Temo por mim.
Entre os meus pensamentos, hei de perder-me?
Meus pés que sabem do caminho
não trazem a maciez de suas mãos ásperas
sobre o meu seio. Anseio.
Vivo assim
Entre as fases da lua e os dias ensolarados
à espera da sua sombra debruçada sobre mim.

Olhos fechados

Olhos fechados. Os seus.
É noite quente de verão.
Olhos abertos. Os seus.
Aurora despertada.
São seus azuis que me fazem feliz.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Aboletar

Hoje, passeando com meus olhos nos escritos alheios, achei uma palavra que usamos por aqui, na nossa terra: ABOLETAR (http://www.dicio.com.br/aboletar/).

E lembrei, não sem saudade, de quando eu me aboletava na casa de dona Zizi e de seu Nilzo: almoçava, ocupava a mesa da cozinha com meus livros, lanchava bolacha Cream Cracker com goiabada ou abacate machucado com açúcar e só ia-me embora depois de conversar mais uma meia horinha com Patrícia, no sofá da sala de estar.

Hoje sei o que construí naquelas tardes e quem me lê talvez não conheça os personagens, contudo, certamente, sabe o que é ter um amigo, uma casa acolhedora, um recanto na alma que cheira à infância partilhada com pessoas queridas.

Na contemporaneidade da minha vida vejo os amigos das minhas filhas se aboletarem nas minhas cadeiras, no terraço da fazenda e fico silenciosamente feliz com seu arrulhar de passarinhos. A grandeza das pequenas coisas. Pode ser um clichê, mas é a pura verdade.

Quando fui outra

Quando fui outra
Fui feliz e triste
Crente e incrédula das coisas más
Entreguei meu sorriso sincero
Recebi na minha inocência golpes (não tão fatais)
Fui passagem e água para sede alheia
Transformada em ponte, filha do mundo
dos meus pais e do meu
Estive nua e vestida para festa
Solitária entre abraços e canteiros lindos -
mas eram tão frios...
Quando fui outra
caminhei por esse caminho que me trouxe eu.
Hoje me apresento:
Flor de caule sem espinho
Flor do mato, flor de cacto
Flor no vaso, flor no chão.
Floresta inteira e vária - sugestão.

Segredos da noite

Se meu coração bate descompassado e feliz?
Às vezes.
E eu o permito ser sempre assim.
Olhos de vidro esses que a vida têm
Pela vidraça nos deixa olhar além
E ali, na moldura, tem uma pessoa assobiando, de pé no chão,
calça dobrada, esperando os segredos da noite se derramarem no céu. 

terça-feira, 6 de março de 2012

Lírio de São José

Sinto que o cheiro de sono adentra pelos meus olhos.
Queria sonhar imagens de filme de amor
E encontrar amanhã cedo, do meu lado,
a respiração de outros pulmões inflados pela doçura de minha presença leve.
É tarde e já preocupo-me em acordar cedo
Os ponteiros incansáveis do meu relógio na cozinha
O pão assado que comerei - mastigando a impossibilidade de caminhar pelos aceiros
Antever os fatos é precaução ou medo de passar pela ponte?
Não ter um lindo lírio de São José no meu jardim
- talvez seja isso que esteja me deixando assim, desejosa de coisas.

by Elmário Ribeiro

segunda-feira, 5 de março de 2012

Pedaços pequenos de felicidade

Pedaços pequenos de felicidade:
chocolate em barra
dedos entrelaçados
beijo de filho
carta de amigo
observar uma ovelha e seu burreguinho
escutar o som da água a correr
colher fruta no pé
deitar ao lado de quem se ama
comida de mãe
consolo de pai
existência de um irmão
contemplação do sacrário
derramamento da noite sobre a tarde
nascimento do sol por sobre a madrugada
família e saúde
paz e solidariedade.
São felicidades pequenas e imensas:
retalhos coloridos, unidos com a linha da vida.
Sou feliz.

sábado, 3 de março de 2012

A gente brinca com as estrelas

A gente brinca com as estrelas,
aponta com os dedos,
sentados na pedra fria.
Deitados na dureza vamos, embevecidos, fitando o céu
Dedos entrelaçados
Pensamentos enlinhados entre os nossos cabelos.
No seu peito, suspiro, tentando aprisionar o que me foge:
O momento.
Da hora, a lembrança
Do amor, semente da vida eterna.
No escuro da noite vejo claramente:
nasci para ser sua.

Catuca

Quem sabe o que significa a palavra do título desta postagem? Talvez os mais jovens não saibam, mas meus contemporâneos sabem que era 'brincar de pega'. No meio da rua, de pé no chão. Era um tempo de menos veículos transitando, éramos os donos da rua, corríamos atrás da bola, brincávamos de esconder no meio das bancas da feira.

Não é saudosismo. Eram outros tempos, não tínhamos Play Station, nem X-Box, nem internet. Quando a gente queria conversar com um amigo, tinha que ir até a casa dele. Não era melhor, nem pior. Era divertido. Para mim era mais divertido do que ficar teclando madrugada a dentro (mesmo que eu tivesse que ir dormir e acordar cedo).

É saudosismo sim. Hoje, estando em Recife, lembrei de quando vinha para cá, com meu pai, ou com minha tia, ia para a praia, pro circo, pro teatro. Saudades da minha infância.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Hipótese

Não pude dizer as palavras que sabia
Olhei, do meu canto, os seus olhos tristes
Pensei em como era possível tanta distância
Entre duas mesas.
A ponte intransponível era aquele silêncio a que me forcei.
Quis dizer da minha fé, das minhas orações
Quis aconselhar.
A hora de ir chegou 
E fomos embora.
O carpete aguarda inerte o retorno dos seus pés.

Maria Carolina

Muito mais do que parabéns eu quero dar.
Quero confirmar o meu amor inexorável
O meu querer bem
Ser o seu abrigo, o seu colo amigo
Ser mais do que mãe, ainda e até mesmo quando as palavras forem duras.
Então, nos seus olhos azuis fechados
Nos seus cabelos depositados no braço do sofá
e nos seus tênis jogados embaixo da mesa
até mesmo na folha amassada e desprezada num canto da cama
- sendo você e os seus rastros -
sou também eu desenhada em sua palma da mão
e sua alma - desejos e suspiros - está gravada em minha vida
com nanquim, suavidade e cheiro de lavanda, mar e sol.