quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Dúvidas?

Com dúvidas enchendo-lhe as brechas
suspirou, olhando para o céu.
Lembrou-se da mão de Deus
a mesma da criação
essa que a sustinha nos ermos pensamentos
e no silêncio das palavras.

Sentiu o sabor da eternidade naquele dia de verão
a quentura do dia
o anil do céu a perder de vista

O Deus de agora, novo, cheio de amanhãs,
o mesmo de outrora.

Cheia de dúvidas
mas cheia de Deus.




terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Cheiro de lua

Trazia no peito o cheiro da lua minguando
no peito, papoulas e arrebóis

Não era mais que uma menina
não trazia mais que horizontes
e esperanças de que a dor
(a sua e a alheia)
iria se transmudar em passarinhos.

Pela janela via o tempo
a criançada
a ventania
a moçada
a monotonia
-deslumbrada via a noite
via o dia.

Vez ou outra
quando a lua crescia
- cheia de segredos -
adentrava quartos
como flor alada.

A menina que habitava em seus olhos
muda
embevecida
vez por outra lembrava que crescera
(lua bela, lua linda, palavras de terna poesia)

domingo, 7 de dezembro de 2014

reDescoberta

os passos
eram pássaros
eram trôpegos
foram rápidos
estão lentos
um momento
todo tormento
silêncio, luz, escuridão
cabe a vida na palma da mão?
raiz, terra escura
movimento
brotam cercas e horizontes
(o mar distante habita em mim)
hei de ser pó
poeira e alma
nos olhos (maresia e calma)


sábado, 29 de novembro de 2014

Encontro

deixei um recado
logo cedo
na cabeceira da cama
(para assegurar me,  janela e coração abertos)
"Amor encontra-me".







Dos saberes

No céu a lua crescendo
me dizendo das coisas indizíveis
e seculares de que nada sei.
Uma maresia brota dos meus olhos
Uma água que verte em dias assim.
Dói não saber.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Fragilidade

me deixava brincar na máquina de costurar
não conseguia deixar de perguntar a que horas eu voltaria mesmo que ainda nem houvesse saído
encheu minha cabeça de ditados que somente mais tarde descobri o sentido

seu ocaso faz das minhas palavras, fugitivas

sem saber bem o que fazer com seu choro infantil
pedindo coisas que não se podem dar
fico ali, sentada, olhando a fragilidade do mundo materializada nos cabelos brancos
e no silêncio da minha vó.


quarta-feira, 12 de novembro de 2014

A vovozinha, a netinha e a lua

Toda poesia incrustada naquela lua redonda e amarela
nascida ao pé da serra
fez-me ver, distante,
uma infância arrodeando o vestido de minha vó. 
A criança hoje crescida e
a senhora numa idade desmedida,
com olhos distantes,
já viram da porta da cozinha,
recitando quadrinhas
essa lua cheia de outras histórias. 

Não se perdem no tempo
nem os olhos
nem a luz
nem as palavras infantes:
"Bênça,  mamãe Lua
me dê um pouquinho de farinha
pr'eu dar a minha galinha
que está presa na cozinha'

Vem, mamãe Lua
iluminar esses olhinhos ermos
sentados, agora,  na sala de estar.
A poesia então é outra
- hoje está cinza e silenciosa.

domingo, 17 de agosto de 2014

Das coisas insondáveis

Abrem-se crateras entre meus olhos e meu coração
Não de dor
mas de espanto
Por saber tão pouco e achar sem encanto
mais perguntas que respostas
no entardecer dos dias.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Pelo amor

cheiro de nós dois
na solidão do quarto
pelas vidraças adentram escuridão e ventania dessa noite que habita a metade do mundo
não haverá encontro
de braços em abraços
nas linhas e nos selos
guardadas estão as declarações do meu peito desnudo e descarnado pelo amor.
 

quarta-feira, 11 de junho de 2014

De pássaro e flores

Apressa o passo
Cria raiz
Ora feliz ora abalada
Como vela no cais
Ansiando imensidões de céu e mar.
Cheia de poesias e nuvens
Carrega no peito palavras
Em seu leito o pulsar de quem já houvera habitado entre a luz e a escuridão.
Mais rápido, mais rápido
Num carrossel ritmado
Onde passam cores 
E ela é pássaro.
- Que tudo é canto, pranto, espanto.
E sempre são as promessas de flores
que rompem seus grilhões
e trazem a eternidade para o caminho.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Chão do universo

Uma flor no chão seco
Depositário do dia de amanhã
Mas do que falam os pardais
no seu canto por cima das árvores?
Misteriosos segredos
do brotar por entre muros
de exultação e bons dias.
Chão plantado
para ser universo.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Jardim de saudade.

o cheiro da noite
se confundia com o cheiro da saudade
da lua, redonda e clara,
do escuro, rompido pela luz,
emanavam juntas
minha inquietude e minha paz
silêncio nos lençóis intocados
nas cartas guardadas

um jardim no meio do peito
onde não consigo chegar
cheio de flores e dores
confusas e emaranhadas

faço uma oração silenciosa
que seja suficiente
que seja breve
a distância
o reencontro

nova estação com a mesma lua cheia

terça-feira, 13 de maio de 2014

De chuva e palavras

Amanheci junto com o dia de chuva
com aquela felicidade
de quem já compreende
ser completamente feita de estações.
Cheiro de minha alma
derramando-se pelas ruas
Lavam-me palavras
e eu broto onde me levou o vento.
Boas novas
letras alvissareiras
é minha oração de agora.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Vitrais viscerais

Reentrâncias
vitrais com histórias de amor
viscerais finais de noite
na companhia de meus olhos
ora risos e formosuras
ora espinhos e solidões
(de quem ama eternamente
o que se acaba a todo instante)

É melhor
abrir os velhos álbuns
sentir o cheiro das saudades
emanado das minhas retinas

Mãos e dentes
expostos no sol quente
e ao redor das mesas

Essa gente,
a minha gente,
nos recôncavos da alma
vazia e repleta (de mim)

sábado, 29 de março de 2014

Descoberta

Um dia,
eu que já te conhecia,
soube que era em ti
que eu guardaria
todo tesouro que possuía.
Entrou na minha vida
como música de viola
como festa de São João
Entrou para nunca mais sair.
E daquela ponte que eu atravessava
te dei a mão para irmos em direção à longa estrada.
E eu,
eu que já te conhecia,
te dei meu coração.

Canção do sol(ar)

Enfim, não adiantou...
no final da tarde
de todos os dias em que nos mantivemos separados
meu peito, apertado de saudade,
cantou junto com o sol se pondo
uma canção de amor
por todos os minutos em que nos amamos
declamou versos nas asas das casacas de couro
e dos galos de campina
e porque é tão natural nosso amor
derramar-se
chegou a noite para entregar pequenas dádivas
em nossos peitos nus
reencontrados ao final de tanta distância.
Toda luz
toda luz surgida das suas mãos
embriagam meus sentidos
e por isso, canto junto ao sol.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Fotossíntese

sim. era com olhos de criança que encarava a vida
e ainda não aprendera a moda da nova era
insistia em confiar
mesmo com todas aquelas feridas cicatrizadas
andava meio fora de moda
com todos os seus pedidos de com licença
as suas mesuras aos transeuntes
seus sorrisos educados de bom dia
suspirava, sempre, quase que invariavelmente,
com desejo de que amadurecida
(como deveria ser)
pudesse escolher melhor

então eram as facas e os grilhões
da modernidade
que andavam tolhendo sua felicidade

não era hipocrisia
o que queria
nem o que sentia

sentia era saudade do que estava por vir

difícil de explicar

dirigia-se com certa urgência
em direção ao sol
devia sofrer de fotossíntese aquele corpo
cor de luar.

quinta-feira, 27 de março de 2014

Dedos analógicos

céu de abril
mês de março
descompasso
prometem chuva
prometem pasto
prometo atitudes
olhos claros em órbitas gris
término
curso do rio
serpenteado entre a caatinga
curso da palavra
perpetrado nos meus dedos antigos
e analógicos
azul. azul.
sem nenhuma nuvem
(céu diferente o que está em minha boca)
ânsia de água
na terra seca
copo d'água na cabeceira
noite sozinha no universo que canta
planta
suplanta
somente a mente
tente. tente.
promessa de água fria
dor de dente.

terça-feira, 25 de março de 2014

Das coisas como elas são

Posto no horizonte
sol das manhãs com cheiro de flor de caju
deitando por trás das nuvens
acorda desejos noturnos
de descobrir-se raiz
Naquelas estrelas
as ideias amadurecidas
nas pedras pelo caminho

Sem dizer nada
luzindo
e morrendo
e vivendo

as sombras
toda luz
o vazio de tudo que há
a completude de tudo que são.

Posto os olhos 
no peito
inspiro a vida da madrugada

Lá fora
e aqui dentro
tudo pulsa.

sexta-feira, 14 de março de 2014

A menina dos poeminhas

Cantava na escuridão da noite
por entre os galhos e as fitas de todas as cores
Sabia ser poesia
no abraço, no cansaço, no remanso
de seus olhos fundos e verdes.
Cantava como o vento
como quem não sabe, sabendo
Escolhia todo tempo
esquentar os amores com abraços.
Sentava silenciosa
a menina dos poeminhas
agarrada nas esperanças suas e do mundo.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Noite cheia de esses

Sina
Destino de quem acredita
que o vento
tem caminho
O ar que inspira minhas narinas
perturbando meus pulmões
fortalece minhas ideias.
Sono
noite adormecida no meu peito
desperto e nu
Soma das pequenas coisas partidas
em papéis guardados nas gavetas.
Sumo
do mapa das futilidades exatas
sumo derramado, engolido com aspas e reticências.
Sinos
campânulas de vidro
ecoam madrugada nas almas sorridentes
depositam hortelã e miosótis nas tristes partidas
lembram ao vento da sua sina
- não saber de onde vem e nem para onde vai.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

A(noite)cia

Tudo que possuía naquele momento,
a despeito de todas as bênçãos e machucados,
eram olhos apertados para enxergar
aqueles minúsculos acontecimentos milagrosos que ocorriam dentro de si.
Naquela tarde
era apenas um criatura ciente de sua pequenez
(e de sua magnitude).
Cheiro de chuva, cheiro de terra árida
- como seu peito às vezes ficava
Encontrava-se aberta em pétalas
olhos alvissareiros
como convém aos portadores das boas novas.
Os olhos,
os portais,
os beirais,
as portinholas sacudidas pela ventania.
Tudo que era naquela hora
cabia no silêncio momentâneo
que fez o sabiá
pousado na pitangueira.
Dos mistérios e de nuvens
seria seu anoitecer.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Declaração

Guardei para ti o meu coração
com toda sugestão de amor que nunca vai acabar
amor desses que se põe na mesa
na cabeceira da cama
no meio dos lençóis
nas pernas enroscadas
nos armadores de rede nos finais de tarde.
Descobri que para ti escrevia
antes que em ti houvesse depositado meus olhos
e que toda aquela poesia de guardanapos, 
de pequenos pedaços de papéis
falava dessa quentura de teus olhos postos na minha nuca.
Esperando por teus desvelos
nos versos coesos dos nossos encontros
exalo as primaveras das sementes que plantamos.

Tempo(ral)

Abro os olhos
ânsia de ter tempo

Contratempo esse do relógio com a minha vida!

Passa a hora
passo correndo
passos largos
do paço me olha o tempo.

As meninas
dos meus olhos
conversam sorrindo
sobre a urgência
de permanecerem ali.

Abertos os olhos
atentas as meninas
Num piscar:
Temporal.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Alumiada



A luz que me alcança
Se desfaz entre as árvores
Transforma-se em folhagem
Recolhida pelas formigas
Devoradas pelas aranhas
Dizimadas pelo medo e pela vida.

A luz que me alumia
Já deixou de ser claridão
Velhinha e passageira
Escorre pelas cercas, pelas porteiras,
Resseca olhos e mourões.

Final de tarde. Raiar do dia.
Ponho auroras e adormecidos horizontes
No meu peito de sol e sal.
Respiro cheia de promessas

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Retalhos e miudezas

dentro
imagens várias
coisas e pessoas
umas sim
outras definitivamente não
refletida naqueles espelhos infindos
inexistentes
trazia nas linhas das mãos
as palavras que quis proferir
letrinhas arrumadas
caligráficas
perfiladas como soldados obedientes
temerosos da missão.
dentro
uma imensidão miúda.
colcha de retalhos
costura de miudezas.
tornara-se depositário
relicário
oráculo.
a totalidade das noites
a sucessão dos dias
coloriam seus olhos de luz.

Quem?

enquanto o dia amolece a tarde
no verdejar das folhas outrora ressequidas
farfalham, sacudidos pela ventania,
meus pensamentos.
já não sou mais a criança das fotografias
com passos largos fui obrigada a crescer
e debruço-me sobre mim
tentando me entender
trago a lâmina nas palavras
separo agruras e doçuras
em verbos desenhados no papel
sou a moça do rabisco
das palavras grafitadas nos muros
do mundo, de ninguém
porquanto a tarde avance
a noite avizinha-se do meu quintal
não sou mar
sou um rio
repleto de pontes a passar.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Vazios

os vazios
abissais
inexoráveis
habitantes das minha órbitas
preenchem as entrâncias das rosas
formam seus ninhos em meus lençóis
estranhos
mostram claramente a face escura
abandonam-se ao meu redor
rebuscados
antigos
parnasianos
conversam com o silêncio das minhas veias
descobrem os sobressaltos do meu coração.

sábado, 25 de janeiro de 2014

Espiando

cada casa uma janela
cada janela uns pares de olhos
olham a tarde caída aos pés da noite
enxergam as miudezas da escuridão
cada vaso uma flor
um vazio
um cheiro de eternidade finita
em folhas de umburana
em folhas de papel
os mistérios
as misérias
as mixórdias
a ordem das estrelas (de)cadentes
cada marca
uma estrada
um mourão
uma despedida
a chegada.
da minha janela
uma parte
tão pequena!
 

domingo, 19 de janeiro de 2014

Ciência

não saber 
nesse fim de noite
do horário das estrelas

por entre as cercas
limão. minha mão.

ferve cor de rosa o horizonte 
derramado nesse solo sertanejo.

pausa
espaço
tronco e flor

meu coração fala um dialeto
canta como galo de campina.

nesse fim de noite
não saber das meninas
das rotinas
das suaves brisas
das papoulas entumescidas em seus botões.
ah!
lua minguante
numa caneca de café.

Pelo caminho

Passarei.
Passarás.
Passaremos.
Não ficará o apreciador de nuvens
não escapará a varredora de ruas
com toda oração, partirão os padres e os pastores
em toda casa haverá saudades
por todo o mundo as cinzas, as lápides.
Das certezas
a única dos viventes
a passagem de chegada
é acompanhada da partida.
Aproveitemos as flores,
os espinhos,
os doces, as abelhas,
os silêncios,
os dias que se sobrepõem.
Iremos embora sem saber a que horas
deixemos nossos olhos serem nossos horizontes
antes que nossos pés deixem de caminhar.

Foto de Elmário Ribeiro


quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Primavera no inverno

Iniciados no amor
como flores primaveris
desabrochadas no inverno
assim eram nossos olhos
caminhando entre o espaço
finito entre nós.
Não era segredo
que o universo engendrava
histórias ao nosso redor
nosso destino (palavrinha de menino)
amarrado com laço de fita
para o café da manhã.
Pulso
grito
alegria
encontro de nós dois
flores primaveris
desabrochadas no inverno

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Memórias

No fundo dos meus olhos
olhos de quem se derrama pelos leitos
e pedras
um profundo suspiro
uma pausa para entender todas as coisas 
fugidias e memoráveis.
No peito claudicante
de mulher que ama e sofre
regozija e ora
multiplica e sonha com estrelas
há ventos que cerram os cílios
e espalham gritos na noite.
Sem saber que será fim
começa todas as canções
de ninar,
de bailar,
de deixar-se ir.
No baú de cartas antigas
deseja sentir as letras mornas
(a menina-moça que já fora declama versinhos em seus cabelos).

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Ano novo, raios velhos

Não há um sol diferente, não acordei levitando ou numa cama num lugar distante. Não sou uma princesa e os pratos da festa do dia anterior não amanheceram lavados e guardados no armário.
Na contagem do tempo, acabou-se um mais um ano. Rumo a um novo tempo, que na verdade é o mesmo tempo que vivo todos os dias, respiro e faço a promessa de ser mais organizada, de amar e abraçar mais, de dar menos bronca, de envolver-me em bons projetos e obras. Digo a mim mesma: feliz ano novo!
Na sequencia sei que é somente uma pausa para pensar, um fôlego novo para abastecer meu tanque, passar a primeira marcha e seguir viagem.
Não há mágica de fogos no novo dia mas queimam nos meus olhos os desejos de felicidade, de completude e o sentimento de gratidão por estar com saúde, ao lado dos que eu mais amo.
No calendário é um novo ano. Para o tempo é mais um dia.
Entre um e outro, espreguiço meu corpo, ouço a música que vem do celular da minha caçula, aguardo a filha do meio retornar da rua, espreito pela porta a mais velha - que dorme. Na rede, o amor da minha vida, balança minhas esperanças.
Foram dias de lutas e glórias, de vitórias e desesperanças à sombra do Senhor. Para tudo há um tempo. Agora é tempo de agradecer e fortalecer o espírito. Que desçam sobre nós as maravilhas do Altíssimo. Força e fé venham sobre mim, sobre minha família e amigos, sobre o mundo inteiro. 
Não houve um sol diferente. A diferença é saber que ele raiou e que seus raios recaem sobre todos. O universo conspira a nosso favor!