quarta-feira, 27 de junho de 2012

Quando me roubam de mim


Dentro de mim moram rosas e angélicas
e saem com delicadeza em abraços e palavras doces
para os que amo.
Trago nos olhos a candura de quem acredita na vida
apesar da morte
porque na morte também há vida.
Os espinhos alheios andam ensinando-me a esquivar-me de certos canteiros.
O certo é que permaneço cuidando do meu jardim
mesmo quando me roubam de mim.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Pote e rodilha

Há uma longa fila, e cada um, em sua vez, pega uma rodilha e um pote. Uns pegam uma rodilha pequena para um pote grande, outros pegam a rodilha e não querem o pote, outros uma rodilha grande para um pote pequeno. Não adianta trocar o pote ou a rodilha. É certeza que se vivo você estiver caber-lhe-á uma coisa de cada.

Saber escolher e saber levar o seu quinhão. Esse é o desafio da vida.

Determine-se a seguir. Saiba que suas escolhas determinam quem você é (e não o contrário) e que por elas há de haver ônus e bônus. Não queira tapar o sol com a peneira. Desculpas esfarrapadas podem até enganar ao outro mas nunca a você.

Saber a hora de seguir e de parar. Esse é um outro desafio. Bom senso deveria ter sido feito para todos.


Imagem em nikkita.zip.net


quinta-feira, 21 de junho de 2012

Barquinho de papel

Miríade de estrelas dos teus olhos disposta em minha alma.
O meu amor canta para ti
e vamos, eu e ele,
num barquinho de papel lançado na água
que desce a ribanceira
sonhando em virar céu (e ser noite escura).
O meu amor flauta doce, oboé,
orquestra de silêncios e luzes.
Quero entregar-te meus segredos,
meus respiros.
Ao fundo ouço os tambores,
o sangue fluindo, meu amor tão lindo.
As estrelas todas a mirarem-se
- entre si comentam da beleza de sermos nós dois.

"Barquinho de papel" de Andrea Honaiser


Amor simples

Eu te vi amor
Eu te vi, amor
Tu e eu somos o amor
O amor soma tu e eu

Aritmética simples
Existência básica.
Eu e tu certinhos como na gramática
seres no plural
Nós, eu e tu transformados em um.

Eu te vejo amor
Eu te vejo, amor
Eu e tu tatuados de amor
O amor escreve certo por linhas tortas.

(Eu acho essa foto simplesmente LINDA!)

quarta-feira, 20 de junho de 2012

E vira do avesso o meu ar

E vira do avesso o meu ar

Os seus olhos de segredos profundos
os seus dedos mergulhados nos silêncios dos meus cabelos
Giramos, flutuamos, deitados de braços abertos.
Inspiro e expiro
passos largos para encontrá-lo.
O mundo de nós nada sabe
de nós tudo pede
a sós nos fitamos nos finais de tarde.
Conto, sussurrando, da areia que se derrama no tempo
- ampulheta.

Envolta em papel e pena
falo de nossa história de deixar estar
a flor e o espinho - no mesmo lugar.

Impassível, impossível
miniatura de ventania a vagar.

E (você) vira do avesso o meu ar.

Imagem em fernandeshercilia.blogspot.com.br

terça-feira, 19 de junho de 2012

O retorno

Entrei por aquelas portas
esqueci das minhas malas do lado de fora
senti todo aconchego de ter voltado
- sempre fui deste lugar, pensei.

Era uma noite do mês de outubro
e antes de cruzar o portal
lembrei que nunca estive de fato em outro local:
fitei teus olhos e beijei tua boca.

Retornei sem nunca ter partido.

Imagem em www.limacoelho.jor.br


Nada ao certo

Sou de terra molhada, de olhos de flor
meu encanto são meus anseios de ir além
são minhas dores de feridas abertas
são as pálpebras cerradas para enxergar melhor.

Sou terra ressequida com olhos de dor
meu espanto são os obstáculos
são as feridas fechadas
são as bocas abertas sem palavras proferidas.

Sou flor e dor
partida e chegada
ferimento e curativo.

Sou assim
Poeta que parte e que fica.
Lago e mar aberto.
Nada. Nada ao certo.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Hastes do tempo

Nos beirais da minha casa pousam passarinhos
não sei ao certo se voam em bandos ou sozinhos
Nos canteiros de minha alma há sementes de tempo
e por meus olhos saem suas hastes.
Há na minha cama sussurros de livros
e quentura de cobertor velho que doa abraços no frio.
Por sobre meus ombros, vez ou outra,
repousam, agitados, pensamentos ou
tamborilam ferozmente como pingos de trovoada.
Nas noites silentes
dos cantos dos pássaros
minha respiração eriça, levemente, suas asas.
Por sobre os rios e os risos da minha alma
voam os pássaros
- e meus pensamentos.




domingo, 17 de junho de 2012

Cor de fogo e luz

A gente vai indo de mãos dadas
de olhos fitos e corações postos lado a lado
vai caindo em nuvens etéreas
e  céus azuis e gris
e vai caindo, e escorregando rumo ao horizonte
cor de fogo e luz.
A gente vai ficando ao largo da estrada
dentro dos canteiros
nos paralelepípedos
nos passos, nos espaços
vai pensando em cores
e enlaça pássaros e borboletas
pesadelos e sonhos de crianças.
A gente é sombra e ser
é rio e mar
é viola e lua
é barquinho e maré
é dois galhos de alecrim
é um vaso imenso plantado com jasmim.
A gente é imagem tão linda
é presumida despedida de poucos dias
é espera agoniada de retorno
é fogueira de São João e rede a balançar.
A gente vai se separando de mãos dadas
as almas fiando as noites 
e desafiando os dias:
vai se separando e esperando reencontrar.

Imagem em fernandeshercilia.blogspot.com.br

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Palavras. Pontes. Abismos.

As palavras
ora pontes
ora abismos.

Falei de cuidados
e abri feridas
(eu desejava evitá-las).

A estatura te trouxe para longe de mim
e à margem fico sonhando com teu olhinhos.

Ah! Palavras!
Ora pontes
ora abismos.

Imagem em tetitapoesia.net

Distância matadeira

Vamos juntos enroscar nossos corpos
Encaixar as saudades de mãos e braços
numa brincadeira de procurar a felicidade.

Meus olhos ficam enevoados longe da tua presença.
Essas pontes e estradas
esses galhos e as flores
essa distância matadeira...

Hoje não me importam os encontros dos amigos
e os dias sem trabalho
O que eu quero é sentir teu cheiro de banho tomado.

Imagem em elefanteverde.wordpress.com

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Nós, os passarinhos

Eram passarinhos
viam o céu com seus olhinhos de treliça
e cantavam um lamento de saudade implacável.
Havia em suas penas um cheiro de liberdade
mas o cativeiro os transformava em quadros na parede.
Não se podia afirmar que não eram felizes:
voavam o que lhes permitia o pouco espaço
- porque a felicidade não habita apenas o liberto.
Os passarinhos que vi naquela esquina, ao sol,
eram brinquedos de adulto.
Estavam presos, mas alimentados
Engaiolados e cantando notas de bom-dia
cantavam como os sabiás do terreiro, na fazenda.

Em nossas prisões
- pensemos bem onde estamos aprisionados -
somos capazes de conseguir a felicidade
(nem que seja versejando palavras de liberdade).

Eram passarinhos.
Somos nós.
A diferença não está nas asas:
escolher se libertar do conforto da prisão, nós podemos.

Imagem em sementesaleatorias.blogspot.com.br


quarta-feira, 13 de junho de 2012

(IM)perfeito

Já é tarde. A noite avança no seu próprio silêncio.
Há tanta inquietude dentro de mim
que ela escapa para a folha do meu velho caderno.

Fluidas em frase curtas
ou tão extensas num verso com pensamentos de amores
as palavras desenham nas linhas paralelas
meus infindos e irrequietos suspiros.

Não sei bem se o caminho que escolhi deveria ser este
ou se os abraços dados e os beijos roubados valeram a pena
ou se os olhos deveriam ter ficados abertos no exato momento em que os fechei.
Talvez eu devesse ter sido a seta e não a estrada.

Já é tarde. O dia seguinte promete ser límpido
Há lágrimas dentro e fora de mim
- insistem em não sair.

Como fazer, de palavras, água salgada?

Imagem em historiadaminhaalma.com.br

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Emudecer

Como faço meu coração calar?
Ele insiste em importunar com seus cuidados
aqueles a quem amo.
Coração, hei de arrancar tuas intenções
antes que me acabes todo sossego possível.
Emudecer tua teimosia.





sexta-feira, 8 de junho de 2012

Marca indelével



Marca indelével essa do amor
Marca d'água
Fita de segurança.
Quando chegar o fim invariável
Deveremos ter plantado
sementes de borboletas e pensamentos bons
pelo caminho já trilhado.

Marca indelével essa do amor.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Da janela

Das dores do mundo já ouvi falar
suas misérias e abandonos
suas ausências e silêncios sem fim.
Ora espio além da janela
Ora remexo dentro do peito
Dores. Sempre há.

Das felicidades que podemos causar
solidariedades e parcerias
doações de colos e pães.
Ora espio além da janela
Ora remexo dentro do peito.
Amores. Sempre há.

Imagem em betinamoraes.blogspot.com.br

Pontinho de luz

Ela disse:
você não o conhece.
Ele é o meu pontinho de luz por essas terras longínquas.

Eram tempos nebulosos
onde as palavras se perdiam antes de chegarem até os ouvidos.
(palavras lançadas como facas
abriam feridas que não podiam ser suturadas).

Pensava como era possível plantar uma flor
e descobrir um cacto...

Numa tarde, vindo de longe,
apresentou-se: incandescente e sutil.
Era mesmo um pontinho de luz
e foi capaz de fazer ressurgir a flor entre os espinhos.


quarta-feira, 6 de junho de 2012

Cicatrizes

Aprendi com a decepção
- mas quem não aprende?
Doeu, sofri.
Cicatrizou.
Na marca, nos meus olhos,
cicatrizes novas e antigas.
Não importa.
Os olhos são meus
e eu vejo além de mim.
Aprendi que ao regar as plantas
crescem brotos e ervas daninhas.
Podo as plantas e arranco as ervas que sufocam.
Doeu, sofri.
O que mudou em mim?
A experiência de descobrir que acreditar é bom
e que ficar alerta é necessário
(como um soldado).

Imagem em ivanikubo.blogspot.com.br

terça-feira, 5 de junho de 2012

A lua e eu

Redonda e nua, se oferecendo a todos
em sua alva brancura.
Nascia por detrás da serra
que vi durante toda a minha infância.
De longe, tão linda, tão linda...
Alva brancura
Sorriso dependurado num céu feliz.

Eu queria mesmo era que faltasse energia elétrica.

Lua de meus amores, de meus amigos
de minha pequenez e de minha altivez.

A lua é a mesma eu é que sou outra.

A lua em Arcoverde, em 05/06/2012

Coragem

Coragem para mudar, para partir, para voltar, para seguir.
Coragem de ver no espelho as marcas do tempo
Coragem de ser silêncio e ser luz
de ver que a tristeza se traduz.
Coragem para crescer, para falar, para emudecer, para estancar
Coragem de desejar o céu no final de tarde
Coragem de ser caminho e abrigo
de ser um verdadeiro amigo.

A decepção não é a falta de coragem para vida.
Obrigar a todos quanto possa a engolir falsas verdades:
Essa é a decepção para uma alma cheia de coragem
- e um corpo
(ouvidos que serviram como depósito para mentiras).



segunda-feira, 4 de junho de 2012

Desde sempre

Tudo era luz por aqueles dias
Todos os dias éramos nós naquelas ruas
Todas as ruas eram pequenos caminhos
para os nossos pés felizes.
Toda nossa vida era descoberta
- onde tocar no teu corpo dava acesso ao céu?
Tudo eram teus olhos azuis
Tudo eram as flores que tu me davas
Tudo era dado para florescer
- e naquela floresta só havia o silêncio entre os nossos suspiros.
Quando tudo não pode ser mais do que já é
faz recordar o horizonte onde se deita o sol
e se levanta a lua.
A beleza de ser tudo desde sempre.


domingo, 3 de junho de 2012

Balé esquisito

O amor é um balé esquisito
Enroscam-se as pernas e as vidas
Oferecem-se flores e braços.

Um amor profundo e abissal
se mergulhares nos meus olhos
- ou segurares em minhas mãos.

Quando dois continuam sendo dois
enlaçados e enredados
não desgrudam sendo sós.

O amor é uma dança à beira do abismo
um lançar-se no vazio
um reencontro entre suspiros.

Um amor entre os jardins
como abelhas e passarinhos:
silencioso e miúdo
que enche tudo de paz.

Imagem de hellowamandadai.blogspot.com

sábado, 2 de junho de 2012

A confiança e o vidro

Tem umas coisas que precisam retomar seu verdadeiro lugar porque por um motivo ou por outro vão tomando outras posições e isolando sua essência, como por exemplo a honestidade, a sinceridade, a confiança.

Não faz mais do que sua obrigação a pessoa que devolve a carteira perdida ao seu dono, intacta, sem retirar ao menos uma moeda. Não é um ato digno de estar nas manchetes dos jornais e revistas. Tem alguma coisa errada em ressaltar uma atitude que não tem nada de espetacular. Inacreditável é desviar verbas públicas, ter caixa dois, superfaturar notas fiscais.

Cansei de ouvir, em resposta a minha notícia de que havia tirado nota boa em tal disciplina, que eu não fazia mais do que a minha obrigação.

Então, não concordo com propina para que o serviço a que tenho direito funcione, nem para liberar meu carro de uma multa porque excedi a velocidade ou estacionei num lugar proibido.

É preciso ter hombridade para honrar a existência como pessoa e indivíduo. Nossa inversão de valores e nossos meio termos e meias temperaturas faz-nos meio bons? Ou meio maus? 

O dito popular ressalta que o vidro riscado jamais volta a ser como antes, que a palavra lançada não pode mais ser capturada, que as penas ao vento ninguém as junta novamente. Nossas atitudes somos nós e por amor, ou por força da justiça, as infrações e inverdades são-nos desculpadas. O difícil é lidar com o fato de que a confiança, ah!, a confiança é o vidro riscado.


Escrevo seu nome

Vai amanhecer o dia e minhas mãos estão vazias de sua presença
É bem certo que ainda é madrugada
mas tenho tanta saudade...
Encerro no meu peito um amor sereno para entregar.
Vai amanhecer um dia de céu azul
estranho para o mês de junho neste sertão.
Escrevo seu nome na folha branca
e ela fica cheia de amor traçado em letras redondinhas.

Gravura em: www.maildatreta.com

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Pontes e pedras

Sonhei que éramos pedrinhas
e estávamos no leito do rio.
Falávamos de noites e dias
de coisas triviais
de peixes coloridos.

Avizinhávamos as tempestades
o céu azul.
Entre uma felicidade e outra
haveria de existir tristeza.

É assim.

Somos pedrinhas
juntinhas umas das outras.
Pontes, caminhos.
Sobre nós o universo inteiro
Dentro de nós igual imensidão.

Imagem em saudeconsciencia.blogspot.com.br