sexta-feira, 27 de julho de 2012

Sementes de esperança

Recebi agulha e linha
roupa nova
num caminho de flores e borboletas.
Para que serviriam?
Canteiros tão lindos!
Logo à frente um jardineiro
macacão cheio de remendos
braços marcados pelos espinhos
- ele também tinha agulha e linha
(pás, sementes e esperanças)
Eu não sabia que tinha
pás e sementes.
Caí, rasguei meu coração
feri minhas mãos.
Descobri que devo costurar
sem remendos
palavras novas.
Tecido novo na velha roupa
aumenta o rasgo.
Para isso a agulha e a linha:
pequenas bolsas para sementes de esperança.

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quarta-feira, 25 de julho de 2012

Multidão e solidão

Eu sou só
e multidão
Sou eu
que acaricia e açoita
e fecho os olhos para o dia
e bato as asas durante a noite.

Eu sou multidão
e solidão.


terça-feira, 24 de julho de 2012

Caminho de volta

As palavras falam
calam os meus silêncios.
Tenho dormido com elas
esparramadas no meu travesseiro
noites frias.
Misteriosos esses meus labirintos
em que me encontro 
me perco
e não ouço nem o ritmado amanhecer
do dia
que já entrou no meu quarto.
Tragam-me dicionários 
que traduzam esse fremir
do que eu não disse
mas que anda estampado no meu peito
aberto
fechado.
Os silêncios calam
falam dessas palavras
de edificação 
de muros e pontes.
Eu deveria ter marcado o caminho de volta.



segunda-feira, 23 de julho de 2012

(V)ida sem volta

O caminho da vida é elástico
Ando sozinha
mando irem os meus pensamentos
vou com os amigos
converso com os desconhecidos.
O caminho moldado pelos passos
- é assim que é.
Então pé ante pé
permito-me surpreender
com a porta que deixo entreaberta.
Vez por outra me surpreendo
encontro a mim mesma
entre os canteiros de tomate
e as confissões da minha alma.

O caminho da vida é de ida
é mais do que rima
é sem volta.


domingo, 22 de julho de 2012

Coração de joelhos

A minha oração
é para que meu coração se ponha
de joelhos diante de Ti,
Senhor da minha vida.
Dentro de mim há uma saudade
do eterno de que sou feita
e todo meu ser
exalta a Tua existência.
Com meu coração de joelhos
sinto a felicidade do aconchego
dos teus olhos de Pai e amigo.
E é com esse coração
cheio de marcas e flores
que me apresento diante da Tua presença
e sinto que Tuas mãos ninam minha alma.
A minha oração é de agradecimento,
de entrega.
Em Teus caminhos quero colocar os meus pés
e descansar meu espírito na Tua misericórdia.



sábado, 21 de julho de 2012

Já passou

Sabe o que é engraçado?
Ando pensando com os meus botões
como é difícil deixar para lá
deixar de lado quem machucou
quem traiu, quem mentiu.
Aquela cicatriz,
cuja dor é pelo avesso,
onde o golpe foi dentro do peito
e a casquinha formou-se de fora para dentro.
Essa cicatriz que só eu vejo
quando contam uma história
tocam música em francês
falam palavras insanas e maldosas.
O corte queima e tenho que insistir na lembrança
de que já estou curada
de que já superei o espinho disfarçado de pétala.
Na verdade, não é engraçado
É humano.
Aí eu coloco perfume e batom
escuto do meu próprio peito:
-Já passou!
Vou para o jardim:
um elixir para as feridas
esse olor de flores!

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À margem de mim

Os remos estão nas minhas mãos
Paro diante do barco
e pergunto:
- para onde?
Quando estou em dúvida sobre que caminho seguir
abro possibilidades
ou ignoro-as?
O crescimento a que nos obriga a maturidade
põe rio, mar, lagoa
suas vazões e marés
tudo embaixo do casco.
Para onde devo remar?

Meus pés se despedem do cascalho
chove dentro do meu peito
Peço ajuda ao vento
e vou.
Há de ser bom o próximo porto
à margem de mim.

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sexta-feira, 20 de julho de 2012

Somos amigos

Vamos caminhando
lado a lado
ou cada um do seu lado
Somos confidentes,
parceiros nessa vida
de felicidades
e agruras.
Nossas mãos estão dadas
mesmo na distância de nossos olhos.
Nosso reencontro é sempre orvalho 
no frescor da manhã.
Somos amigos
e nosso laço é nó que não se desfaz
Somos âncora e porto.




Poema de inverno

Essa quentura de pés abrigados embaixo do cobertor
Essa brandura de voz macia derramada nos meus cabelos

É o amor da gente
enredado dentro do peito
esparramado pela casa inteira
como flor e janela aberta.

Escrevo do lado esquerdo
onde você deita
um poema de inverno
Ponho minha mão na sua
Suspiro. Inspiro.
Ternura de saber-nos.

Assino os versinhos com um beijo de boa noite.


quinta-feira, 19 de julho de 2012

Seja onde for

Acredito na força que há na vida,
na minúscula formiga que carrega ínfimo grão
Em seu caminho vejo meu reflexo
minúsculo ser nessa grandeza sublime do universo.
Vou carregando dentro do meu peito
as luzes todas do céu
as vozes todas dos meus queridos
as belezas amiúdes dos espinhos
e também das flores.

Nada é capaz de obscurecer essa crença.
Essa certeza do fremir latente da vida
Seja onde for.


Embaixo dos lençóis

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Encantados

Eu já era essa felicidade de saber-me
mesmo quando eu esquecia de mim
por aí.

Na roda viva do tempo
tornei-me eternidade nos versos que vi nos teus olhos.

O tempo é eterno
e eterna é essa querência de sermos vivos
de estarmos lindos
mesmo depois de encantados entre as flores
ou entre as antigas árvores - hoje inertes.

Essa poesia da vida
- minha por empréstimo -
enquanto torno-me ocaso
renascerá ainda que eu tenha partido a caminhar
entre os canteiros.

Eu já era essa felicidade.
Eu já era poesia.
E o tempo passa sutil por minhas narinas.

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terça-feira, 17 de julho de 2012

Tempo propício

Essa ânsia de ver os frutos

Campo de trigo semeado
- por entre eles o joio,
como na parábola.

Aprender a esperar
para ceifar.
Difícil e doloroso.

Essa ânsia de ver os bons frutos
de sentir felicidade
de acreditar na semente
na terra
no tempo.

Essa ânsia
de aguardar o sol e a chuva.

Essa ânsia
Essência
Açoite de mim em mim.

Em mim
Há dessas sementes de trigo
no seio brotadas.
Estão maduras e aguardam as outras.

O ceifeiro, tempo propício
de recolher para o celeiro
as sementes, a ânsia
e os meus olhos de campos dourados.

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segunda-feira, 16 de julho de 2012

Reticências

Um ponto
de vista
de ônibus

Dá uma pista
do conto
do canto
do olho que vê a vida

Um ponto
de encontro na história.

Um ponto final na história

Um ponto para recomeçar
ou estancar essa poesia
de ir e vir nessa vida cheia de vírgulas.

Só não quero escrever três pontos
reticências me dão saudades.

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Inquietude

Trago no peito a marca da vida
uns silêncios inquietos
a olhar para a lua
esperando que fique cheia de amor.
Transfiro para o lado esquerdo
as dores do mundo inteiro

Não importa o tamanho do mundo
nem a cor dessa dor
de olhar pela fresta do meu peito.

A negritude do céu favorece a beleza das estrelas.


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sábado, 14 de julho de 2012

A semente

Eu confio, dou a mão
Tenho ânsia de ver em teus olhos
o reflexo da mais pura felicidade.

Eu confio no tempo da semente
que plantei no teu coração.

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Poesias secretas

Já falei tanto do amor
e outros falaram também
Como seria diferente
se é este fogo que consome
este abraço constante entre as almas
esta melodia de dançar freneticamente?

Meu amor é casa e campo
são teus olhos no meu colo
e tuas mãos na minha nuca.
Meu amor é todo feito de linha e arte
e teço uma peça para o descanso do teu corpo
junto ao meu.

Meu amor é respiração e entrega
fôlego em brincadeiras de roda
fogueira em noite de inverno no sertão

Meu amor é quando deito com você
e levanto com seus suspiros entre as minhas poesias
- secretas.


Peixe e passarinho

Queria ver nos teus olhos um pouquinho do mar bravio
do que ensinei sobre velejar
dos horizontes límpidos e incertos
de nossas mãos dadas no porto.

Descubro que querer não é poder
que asas de beija-flor têm que aprender
a bater em terra de aves de rapina.

O caminho é de areia, é de asfalto,
é de lama, é torto.

Olha nos meus olhos e vê o rio
e vê quando corremos para o mar.
Vê nossas mãos dadas.

Filho de peixe pode ser um passarinho.

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sexta-feira, 13 de julho de 2012

Equilibrista

Em minhas veias
frenéticas e passionais sementes de tempo
germinam flores de saudades.
Que posso eu contra a maré
onde irei eu dando marcha a ré?
Sempre em frente
tendo os teus olhos em mente.

Penso positivo
e me equilibro nessa corda bamba.

O vento assanha meus cabelos
há chuva no para-brisas
lágrimas nos meus passos
e alguma felicidade em partir.

Uma árvore imensa enredada nos meus cílios
Em minhas veias
horizontes
e olores de saudades.

Campos de lavanda dentro de frasquinhos.
Derramo-os e misturo-me em essência.

Em minhas veias
eu, vocês
as cidades
e minhas flores de saudades.

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quarta-feira, 11 de julho de 2012

Tempestade

Você me abre as portas do guarda-roupas
dos armários
das gavetas das meias.

Eu abri sua caixinha de guardados
querendo abrir seu coração.

Não vi mais do que flores estranhas
e não senti mais do que meu pulso acelerado.

Tremi. Temi pelo desconhecido.
Outra tempestade dentro de mim
Sei que vai passar.

O que me assombra é o que a água vai arrastar.

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sábado, 7 de julho de 2012

Em teus olhos distantes

Moça, em teus olhos distantes
descansam as águas do mar
Horizonte de flores e falas
teus braços abertos.

Não sabes do chão infértil
das pragas e da podridão
da morte das estrelas.

Tu rodopias no meio do vento
e gritas sobre os teus amores
e corres no capim alto.

És moça, menina, mulher
cavalgas o cavalo de São Jorge
tua lembrança açoita o céu negro.

Amanheces em preces
e recolhes lírios nas retinas alheias.
Moça, em teus olhos distantes
descansam as águas do mar.

Imagem em estrelasnoceudabocawal.blogspot.com




Nós vamos juntos

O amor cantando pelos poetas
mora dentro de mim
numa casinha à beira-mar
É simpático e risonho
e tem areia nos pés
e vento impetuoso nos cabelos.
Tem dias que passeia na praia
em outros debruça-se sobre a pessoa amada
e admira-lhe a face e suas expressões.
Nós vamos, eu e o meu amor,
nós três, eu, o amor e o meu amor
na íngreme encosta e no florido caminho.
Não importa... nós vamos juntos.



sexta-feira, 6 de julho de 2012

Fita de cetim numa caixa de lixo

Dizer a verdade, olhando nos meus olhos.
Procuraria dentro dos seus onde foi que você se perdeu
- mas não suporto a ideia de rever sua sordidez.
Gente é bicho estranho
Talvez você já estivesse camuflado de sinceridade
talvez eu tenha querido ver chifres em cabeça de cavalo.
Não há poesia em tuas mentiras.
Laços com fita de cetim
numa caixa de lixo.
É o fim.

Crédito da imagem

A felicidade (e eu)

A felicidade?
Anda por essas ruas entre a pressa do asfalto
e a calma silenciosa dos bancos de praça.
Temos nos visto com frequência
Bonitas e leves.
Andamos por avenidas diferentes por vezes.
Ela me conhece pelo nome
eu a reconheço pelos olhos.
Hoje marcamos encontro.

Imagem em confrariamalunga.blogspot.com.br

terça-feira, 3 de julho de 2012

Sou saudade

Sou saudade
Quando parto fico naqueles vãos
Quando chego ouço o silêncio de mim nas minhas mãos.
Partindo deixo e levo
Chegando trago outros olhos e sofro de ausências.
Sempre há a lua do sertão
e o mar na sua imensidão distante
o cheiro da cozinha de casa
e o aroma de flores envazadas e esparramadas por louros cabelos.
Sou saudade pequenina nessa imensidão de sentir os outros dentro do peito.

Imagem em resilientesempre.blogspot.com