sábado, 26 de fevereiro de 2011

Arcoverde, Pernambuco

Xique-xique, macambira, coroa-de-frade, mandacaru.
Umbuzeiro, ingazeiro, juazeiro, arueira, quixabeira, jatobá, baraúna.
Doce de leite, rapadura, bolo de rolo, buchada, carne de bode na brasa, pirão de peixe, feijão verde, jerimum de leite, carne de sol, inhame, macaxeira, queijo de coalho, queijo de manteiga, tripa assada, tapioca na feira, munguzá, milho cozido e assado, chapéu de couro.
Missa domingueira, pega de boi, vaquejada, festa junina, forró, frevo, maracatu, côco de roda.
Sol de rachar a cuca, gente simples e acolhedora.
Arcoverde, Pernambuco, nordeste do Brasil. Minha terra, minha cultura, meu povo.


sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

No meu tempo de criança

No meu tempo de criança. Esta frase reaviva em mim as brincadeiras, os temperos, os cheiros reconfortantes, os dias mais ensolarados e os mais chuvosos.

Foi um tempo de meninice como foi o dos meus avós, dos meus pais, dos meus ancestrais. Não igualitário nas vivências porém com similaridade de expectativas. Nossa natureza humana faz com que estejamos inquietos, à espreita de uma oportunidade de nos libertar daquele agora - ora revestido de idade, ora de horário, ora da escola. Sentimos sempre que há uma coisa nos prendendo e o que está depois do horizonte é sempre o que nos encanta.

Uma inferência que gosto de fazer é a de nossa vida com os ponteiros de um relógio. Enquanto curtimos a infância o tempo parece passar morosamente - somos o ponteiro grande das horas. Observamos o entra e sai das pessoas, não compreendemos sua exaltação, sua urgência. De repente tornamo-nos o ponteiro dos minutos - crescemos, temos que ir à faculdade, escolher uma profissão, aprender outras línguas, ser perspicaz e antenado. Sem que possamos controlar a mudança transformamo-nos no veloz ponteiro dos segundos. Embalados no ritmado tic-tac do mundo externo. Rápidos, intrépidos, imediatistas, caminhando com coturnos de soldados obedientes.

No meu tempo de criança havia uns bombons marca Soft, coloridos e perigosos... Vez por outra se tinha notícia de que fulano tinha se engasgado - ficavam lisinhas depois de chupadas. Tinha também uns chocolates embalados como cigarros com filtro - fumar era moda! E a "perna cabeluda"? Lenda urbana que ajudava aos pais a controlar o retorno para casa após a brincadeira noturna na rua.

No meu tempo de criança eu era criança. A mesma criança que carrego comigo e que vez por outra salta feliz diante de um filhotinho de cachorro ou na papelaria (diante de uma caixa de lápis de cor com 36 cores) ou ao assistir desenhos animados bem cedinho, antes de ir trabalhar.

O meu relógio do tempo é à corda. Já me ofereceram a modernidade digital mas em alguns aspectos não posso dizer sim... o tic-tac ritmado dos meus passos apressados eu posso reduzir - esqueço propositadamente de girar o mecanismo frenético que me impulsiona, Nesse ínterim socorrem-me as flores, a oração, os amores, os livros, as linhas de croché, os amigos.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Distorcidas

Dos teus olhos
São o cheiro e a textura das minhas letras
Distorcidas no papel
Sem saberem como dizer da presença escondida
Da tua ausência.
São tão poucas as palavras
São tantas as saudades
Teus olhos, ah, os teus olhos
Por que não me vêem?

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Eterno e fugaz

Êfemeros. Passageiros. Somos nós, embora ajamos como se detivéssemos o tempo, como se nos pertencesse o eterno. Intocáveis, invencíveis, inalcançáveis - afinal fatalidades foram feitas para visitarem apenas o vizinho desavisado e desafortunado...

Dançamos com passos ora largos, ora curtos, fitando o espelho no salão e insistindo em não enxergar as marcas do muito andar entre as gentes. Alguns têm uma alma todo dia saída da caixa - nova, mas não imatura. Carregam no fundo dos olhos uma atividade que se traduz na inovação, no crescimento. Não guardam consigo o que lhes poderiam enferrujar. Outros trazem uma velha alma nova - esquecem o que lhes causou aquela marca, têm feridas sempre abertas, não aprenderam a utilizar o bálsamo que receberam pura e simplesmente por existirem.

Não importa se sorrimos para esconder, entre os dentes, as agruras, as desmesuras, as aventuras, as desventuras. O que importa é o exercício da felicidade. Talvez por isso seja enigmático o sorriso da Monalisa.

A cortina do palco pode estar encerrando o último espetáculo. Quem garantirá se entre um ato e outro haverá retorno? O nosso contrato é conforme as nossas características - efêmero e passageiro. Não ser o melhor ator da peça, não ser o ator principal. E daí? Ser coadjuvante por vezes é mais divertido, é mais frequente, é mais aglutinante. A parte, afinal, não é o que completa o todo?

O que nos pertence? Numa análise rápida, nada. Do pó ao pó. Fico feliz em pensar que indo vou ficando. E que ficando, parto. Minha matéria entristecida com a fugacidade. Meu espírito enamorado com a eternidade. É nesse diálogo que amanheço e anoiteço.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Luaré. É lua. É maré.

Uma grande e linda lua esteve no céu nesta última semana. Uma lua cheia, redonda e amarela. Eu a vi sobre um céu azul, roxo e rosado - destaque alvejado num lindo círculo. Ela me chamou a escrever, mas não tive como - e guardei as palavras, como costumo guardá-las para derramá-las febrilmente depois.

Uma lua tão linda! Não me engano em achar que todos pensem e vejam da mesma forma. No noticiário local foi destaque a minha lua e a maré influenciada por seus encantos: ruas alagadas na cidade do Recife com água fétida vindas dos esgotos transbordantes. Gosto de pensar que o mar eleva seu nível na ânsia de alcançar tão bela luz...

Tão bela lua. Tão nua. É verdade, não tem luz própria, contudo cresce todo seu tamanho para refletir a magnitude dos raios do sol.

A lua é sempre lembrada pelos enamorados e eu também sou e pretendo continuar enamorada, mas na minha vida 'complicada e perfeitinha' espero esse ciclo lunar na companhia quase que diária de um grande amigo - partilhamos um "viu como ela está sorrindo hoje?", ou "vai lá fora, tá nascendo agora, é lua cheia!". Eu apenas vejo e escrevo. Ele vê e fotografa. Lindas fotos. Já postei uma delas em Faces e fases, a lua e eu.

Nessa caminhada de todo dia eu filosofo como Sócrates, pois "só sei que nada sei". Tudo é referência e o meu conceito é sempre relativo se não sou eu quem está dizendo que é absoluto. As faces, as fases, as frases, os disfarces, os alicerces.

Talvez aquela senhora ilhada em sua casa, reclamando para a repórter que todo ano se repete a mesma coisa, tenha se irritado com o amor do mar pela lua. Onde está o poder público que não faz nada que impeça a explosão dessa paixão adolescente?

Eu, do meu sofá, chupando uma laranja bahia, confesso: fiquei sorrindo por dentro - vi quando a lua chamava as águas do mar para si. Eu vi. Meu amigo não pôde fotografar...

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

À margem

Se você me disser que é azul
Embora o que tenha escondido em sua mão seja verde
Irei acreditar primeiro na sua palavra mentirosa.
A inocência e a descrença
Espadas de um amor
Que consome.
Protejo com meus olhos
com meus dizeres noturnos
toda uma vida, esperando que o caminho certo
Seja a sua escolha.
À margem, à beira
Vou ficando
E estranhamente você vai me levando.