domingo, 22 de agosto de 2010

Faces e fases, a lua e eu

"Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua" ...
Cecília Meireles






Introspecta. Café. Caneta e papel. Ouço o silêncio da noite e os gritos do meu ser. Eles vêm vindo e se transformam em letras paralelas e azuis na pauta do papel. Saem florezinhas rabiscadas no canto da folha. Pontos, interrogações, exclamações, de mãos dadas cantando uma canção riscada naquelas palavras.
Sou o que penso. Penso no que transformo, executando a vida que arde em meus pulmões -  que agora repousam sem vociferar parábolas.
Na medida em que desabrocho, estendo meus galhos através dos vãos do portão, e toco o braço da anciã e a mãozinha do bebê. Simbioticamente torno-me grão maduro na colheita e semente na terra molhada.
Em exibição. Suco de laranja, sanduíche americano, máquina digital. Ouço os carros, vejo os passeios de bicicleta, o arrulhar dos namorados. Anseio saber desenhar. Na minha folha, andrajos rabiscados. Exposta no final de tarde poucos me vêem, há ainda muita luz naquela hora.
Hoje à noite, sou nova, luz cinérea em meu enigmático sorriso. Só risos antes de tornar-me cheia de sonhos e caminhos. Antevejo a minha ausência. Pulso latente. Antiga nova fase.
Introspecção. Revelação. Silêncios. Vagalumes.
Vem chegando o dia.
Vem chegando a noite.
Concordo com Cecília, às vezes me escondo, às vezes me revelo.