quinta-feira, 26 de agosto de 2010

(A)mar

Eu gosto demais do mar. É uma pena que seja longe do meu sertão.
Gosto do barulho da onda quebrando na praia, da água salgada, da areia entrando entre os meus dedos.
Gosto de sentar e ficar ali, quieta, só olhando.
Quando éramos crianças, eu e meu irmão íamos acampar no litoral do estado de Alagoas. Em Barra Grande. Mar calmo, areia branquinha. Na maré baixa dava para ir até os arrecifes olhar os peixinhos e ou ouriços. Caminhando sobre aquelas pedras, de biquíni, arrodeada pela natureza e pela minha família. Acho que no céu tem um lugar que vamos visitar que tem cheiro de infância.
A época certa de irmos era no carnaval. A tardinha íamos até o vilarejo comprar pão, queijo e gelo. Minha mãe fazia da nossa barraca uma extensão de nossa casa. Lembro que no nosso almoço tínhamos uma refeição enquanto nossa 'vizinhança' fazia só uma 'meia-sola'.
Antes da farra de ir ao vilarejo, tinha o banho com água doce, água de cacimba. Água fria, banho sem tirar a roupa, mas o dia todo tinha sido tão bom que valia a pena aquele sacrificiozinho.
Meu primo Ricardo também ia. Uma vez depois de tomado o banho e trocada a roupa, apareceu uma La Ursa (uns meninos batendo numas latas, outro vestido de 'urso' e todos cantando: a La Ursa quer dinheiro, quem não dá é pirangueiro!) . Ele ficou com medo e correu, mas já estava escurecendo e ele tropeçou nas cordas das barracas. Chegou parecendo um bife à milanesa...


Era uma alegria ir passear no barco do meu pai, antes dele ir pescar em alto-mar. O irmão do meu pai também ia e lembro bem que não havia quase nada que um dissesse e o outro concordasse: se um dizia que o melhor horário seria cedinho o outro dizia que era à noite, que era melhor pescar usando camarão como isca o outro 'contratava' a gente para caçar maria-farinha.
Depois do jantar, pegar uma cadeira desmontável e se distanciar um pouquinho. Um céu lindo, desnudo das luzes da cidade. Todas aquelas estrelas. Bem longe uma jangada com a sua luz de candeeiro - o pescador encantando os peixes.
Já naquela hora eu planejava procurar conchinhas no outro dia. Tinha muitas patas de vaca (na internet achei a imagem como bolacha-do-mar), aquele ser do mar que tem uma flor desenhada em cima. E as conchinhas recém desabitadas davam forma a lindas borboletas.


Na hora de desmontar a barraca, juntar todas aquelas tranqueiras para voltar para casa, me alegrava ouvir meu pai combinar com os outros adultos quando seria o próximo encontro. E voltávamos ao som de Roberto Carlos e dos Demônios da Garoa.
Meus pais me deixaram uma herança ainda em vida: felicidade.