Conversa Fiada e Mata-Fome


Minifúndios

Olhos e corações farpados
- serviriam para afastar os maus?


Imagem em zaroio.net


Credibil(idade)

Com uns dividi a minha infância, a bola na rua, o picolé de 'ki-suco', as tardes de trabalhos escolares. Com outros partilhei descobertas: o primeiro amor, o primeiro beijo, a primeira decepção - souberam eles da minha tristeza em descobrir que as pessoas mais sorridentes e simpáticas às vezes tem um cruel e cinza coração. Uns permanecem, outros partiram.

Costumo acreditar que todo mundo tem boas intenções. Ainda não internalizei, mesmo depois de tantas vivências, que existe gente má. Tenho que lembrar de um verso que Cássia Eller cantava e pedir a Deus um pouco de malandragem...




Miserabil(idade)


Hoje tive a oportunidade de conversar com um senhor que está às vésperas de completar 96 anos. Contou-me que sua história com o Banco do Brasil era bem anterior à existência da agência Arcoverde e ainda adolescente ia 'fazer mandados' de sua tia, que era comerciante, na agência que ficava lá no centro do Recife. Ia de bonde. Frequentava festas em que havia uma média de dez moças para dançar com quarenta rapazes, e também por conta disso havia namorado pouco.

Está aposentado. Trabalhou 45 anos como comerciante. Nesse 'meio' tempo fez bons amigos e hoje reza o terço diariamente, oferecendo-o a todos aqueles que fizeram parte da sua vida e já partiram. Já partilhou com os filhos parte do que amealhou porque 'no caixão não tem gaveta'. Disse-me que se vivo estivesse o título de eleitor seria utilizado mais uma vez nas votações deste ano.

Refestelando-se na cadeira, recorda que certa vez passou um pedinte no seu estabelecimento e que um amigo respondeu de pronto: desculpe, não tenho agora. Afirmando a nossa condição, o mendigo replicou "Está desculpado, seu miserável!".

Bom papo. E fiquei pensando nessa miserabilidade. Resolvi o problema do cliente, e antes que se despedisse de mim com um abraço, sorriu e disse que embora viúvo, não estava só: tinha a companhia de Deus.

Miseráveis em nossa pobreza momentânea e constante, porém nunca sós.

Imagem de inscries.blogspot.com.br



Infantil(idade)

Crianças são apenas o máximo - parafraseando um grande amigo. São verdadeiras, despojadas de vaidades, interessadas no prazer das coisas cotidianas, parceiras de momentos ímpares. Vou fazer desta postagem um diário de apanhados. Da minha experiência (já que sou mãe de três filhas) e dos causos alheios.

Vamos enumerá-las:

1º) O filho de um amigo faz KUMON de português. Tem 5 anos. Estava lendo as palavras por meio das figuras. No meio delas surge uma não tão comum. A mãe pergunta: Tiago que palavra é essa. Ele, olhando para o papel, pensa, pensa, pensa e diz: BU... LE. E emenda rapidamente: isso é uma coisa muito ruim, não é mãe?
A figura era de nossa popular 'chaleira', mas a pronúncia era de BULLYING. E é isso aí minha gente! A criança já ouviu falar que 'tirar onda' do colega é muito ruim. E viva a esperteza desse menino!

2º) O avô vai buscar a neta no SESC. Vem ela e a amiga. Levantam o banco da frente e passam desajeitadamente para o banco de trás. Ela senta de qualquer jeito e reclama: ai, minha pipica E o avô, fingindo de sério: o que é isso, menina? Serelepe e de resposta imediata a netinha diz: é bumbum, só que eu estou falando em francês.

3º) A tia liga para resolver uns problemas. Do outro lado da linha, a mãe confidencia: se esse menino vier para minha cama hoje de noite, de novo, deitar entre eu e o pai dele, vou pegar nas suas duas orelhas e levá-lo de volta para o quarto... A tia ouve uma vozinha, distante: Aí, eu VINHAVA de novo!

4º) Por dedução, o contrário de liso é crespo, de escuro é claro, de muito é pouco. Para o menino atento há a presença da lua no céu, naquela noite. E ele indaga a mãe: tá vendo a lua SECA no céu? Era crescente, assim como a sabedoria dele...

Mais histórias no decorrer dos dias.