quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Frases de efeito

Fico pensando em frases de efeito.
Coisas que eu escrevesse e todo mundo dissesse: - Oh!!!!!
Mas o que me ocorre são coisas triviais
Como a respiração ofegante que espera o toque singelo entre dedos apaixonados
Ou a ânsia que antecede a abertura de um envelope há muito aguardado,
A felicidade de reencontrar os amigos e falar em meia hora de coisas ocorridas em seis meses.
Hoje a lua está sorrindo, linda, num céu sem nuvens.
Eu também.


terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Macio

Por um momento
Pela vida inteira, que é parte divisível
Pulsando silenciosamente há vestígios seus em minhas veias
Não se ouvem passos
Não houve maior silêncio naquelas partes
Em que meu corpo descansava ao lado do seu.
Entreguei meus suspiros entre seus dedos
E pude ver seu reflexo macio esparramado
Diante dos meus olhos apaixonados.
Por esses dias senti sua falta
Senti fremir minhas mãos ao recebê-lo de volta.
Meus dias e minhas noites esperam pelas suas horas.

Minha barriguinha está com fome

Queijo de coalho assado com orégano
Café forte com leite e nata
Pão assado com manteiga
Biscoitinho de nata (de preferência o que dona Zefa, de Venturosa, traz para a feira no sábado)
Bolo de trigo novinho
Cuscuz com ovo
Xerém com galinha
Macaxeira, inhame, charque
Munguzá e tapioca
Sopa. Ah! Eu amo sopas.
Minha barriguinha está com fome.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Vertiginosa

A queda pode ser vertiginosa
E a vida é assim, essa montanha russa, todo dia
Surpreendo você?
Ora, celebro as horas idas e as marcas pelo chão.
Sobre os meus passos outros virão.
Quando em vez sei para onde vou
Mas a lua ilumina o caminho e me perco entre as veredas
de pedra e pó, de espinho e flor.
Muito além e aqui distante no espaço entre os meus olhos
Estão os meus amores.
Tropeço nos seus pés - obrigada por estar comigo -
Sua companhia nesse vagão faz-me lembrar de outro verão
Era eu? Vestida de sol e calor?
Recentemente revi meus olhos impressos no papel
Ali, sentada junto aos meus - o trem já estava de partida.

Bompreço no sítio

"-Não pode matar os bichinhos!"

Minha sobrinha afirma com todo encantamento que têm as crianças pelos animais, depois de seu avô matar dois bodes para o almoço do domingo. Pensamento ordenado e rápido, diz logo em seguida: "No sítio não tem Bompreço, então prá gente comer, tem que matar, né vó?"

Triste de um bicho que o outro come!



sábado, 24 de dezembro de 2011

Rua Velha

Deixei meu carro estacionado na Rua Velha quando fui ao comércio hoje à tarde. Não havia vagas na Avenida Antônio Japiassu, vestida de decoração natalina no seu canteiro central.

Outrora, na minha infância e adolescência, sua extensão era adornada com barracas de festa, os bingos, as roletas, as maçãs do amor, saquinhos de siriguela e jambo, churrasco alaranjado de colorau, o palco central, o Parque de Diversões Lima, e Roberto Carlos, o Rei, com seu último LP tocando nos auto-falantes.

Na volta para pegar meu carro encontrei Arlindo, que trabalhava com seu Chico do Foto - na casa da minha 'tia' Vilma. Eu ia para casa deles quase todo dia, porque o dia em que eu não ia, era porque Patrícia estava em minha casa. Ficavam mexendo comigo dizendo que Arlindo era apaixonado por mim - e naquela inocência dos que não tem o senso completo, talvez fosse mesmo. O fato é que reencontrá-lo me trouxe a memória tanta gente, tantas coisas partilhadas...

Quem me lê de longe talvez não enxergue as saudades do que escrevo então. Quem me conhece de perto sabe que falo do natal onde foi possível dizer boa-tarde a seu Chico, sempre de pé em frente ao Cine Foto, e cumprimentar outro Chico, o Canindé, na Sapataria Chic, comprar umas roupas novas a dona Neuza, na Miscelânea, tomar sorvete servido por dona Quitéria da sorveteria do português, a Caboré, deslocar-se para um lugar mais distante, com seu Jacy Padilha - taxista que ficava lá na praça da cidade alta - e era meu avô.

Sou saudosista. Hoje estou mais.

A felicidade eterna é contemplar a face do Pai, em sua presença desejo que estejam todos aqueles de quem Arlindo me fez recordar com sua saudação neste final de tarde: meu avô Jacy Padilha, seu Chico do Foto, 'tia' Vilma, Mônica Cecília, Penha Padilha.

Para eles e para nós: Feliz Natal!

Feliz Natal

Que o seu coração seja acolhedor
A sua vida, uma oração
Os seus atos, reflexos de um cristão.


sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Tênues cicatrizes

Não importa o berço de ouro
Nem os conselhos desde a mais tenra idade
A força do exemplo ou da palavra
Tudo fica derramado ao lado se a resposta for não
Se a resposta for sim.
Tudo junto, confuso e misturado.
Taquicardia, para-choque amassado
E é final de tarde quando nem bem amanheceu o dia.
Os trilhos conduzem o trem mas não determinam as estações.
Passageiros, maquinista, cobrador
Adiante as suas vidas, agora as suas impaciente retinas se entretêm com outras paisagens.
A fumaça de antes está presente na limpeza das roupas brancas
Alvas de ideias e amores vãos e amores ficam
Passa o tempo, passam os dedos, passam as marcas
Encalacrados em nossas tênues cicatrizes
Os pensamentos, os passatempos.
Neste tempo, florados estão os cajueiros.
Minha alma chora doces e ínfimos silêncios distorcidos.
As palavras não ditas são a fuligem que vejo nos trilhos. 

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Aceroleiro


por Elmário Ribeiro



Talvez essa formiga seja descendente daquela do Mário Quintana e somente por estar ali não precisemos mais do que contemplá-la no seu trabalho pequeno, de criatura pequena de Deus. Mas ela me olha, antenas enviadas pela foto digital do aceroleiro (é assim que devemos chamar um pé de acerola?).
Nesse globo cor de fogo, dependurado e advindo de uma humilde flor, está seu tenro corpo de operária. Cumpre seu destino. Cumpre ordens. Corta folha, corta fruto. Talvez dê a volta ao mundo - sem mover-se.
Formiga no formigueiro. Formiga no aceroleiro.
Gente esquisita e amiga.
Fogo no terreiro - porque queimamos o que amamos e até o que odiamos.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Para eu recortar as arestas




Não sei como dizer certas coisas
E sei bem que certas coisas nem devem ser ditas
Meu coração ansioso por dizer de mim
Desanda a bater descompassado.
Meus olhos vociferam fonemas
Fecho minhas pálpebras, escondo meu amor machucado.
A verdade é que não sei amar.
Excesso de mim.
O que peço é uma tesoura
Para eu recortar as arestas.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Me nego. Torno-me.

Me nego a escrever, neste momento, usando ênclise. As palavras escritas agora são um desabafo para mim e dessa forma não cabe escrever 'nego-me'.

Me desculpe, eu mesma, por violar suas vontades, deixar de lado suas prioridades, oprimir seu peito aberto e seu sorriso certo. Não sei de onde me veio a ideia de que eu sou duas, ou mais. Ajuste inconsciente de minha matéria para lidar com tudo quanto me espanta, me encanta, me divide.

Nessa estrada de pó e flores, carrego meus pés calçados de salto alto. Quando meus pés me levam, vou descalça - a poeira nos meus poros abertos. Na minha cabeça tantos amores - e dores - e doces - e pequenos seixos - e grandes pedras.

Embora tenham ido ladeira abaixo e tenham me encontrado morro acima são as palavras não ditas que me consomem, me formam e me deformam. Eu, as duas, as três, as deconhecidas de mim. Fito minhas mãos. A segunda de mim se despede. A terceira se exaspera. A quarta chama as outras e concordam em fazer-me calar. Torno-me próclise. Estou enclausurada e minha cela é aberta.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Aves estranhas

O que depende de mim?
- Sei lá, acho que quase nada.
Então enxugue essas lágrimas e vá trabalhar.
Os filhos de peixe são aves estranhas, às vezes.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Estranho e perfeito

Esquivo-me nessas horas em que me aprisionam meus pensamentos.
Alentos, tormentos.
Ouço tiquetaquear meu relógio de pulso:
Silêncios infindos.
Passados e amassados - os papéis e as lembranças
Esqueço-me e chamo por teu nome.
Lembro que li que preferimos carinhos de quem nos fez doer.
Estranho e perfeito.
A face que tenho e a que revelo
Quem sabe vê em suas órbitas (sementes ou pedras)
E conhece as mudas ocasionadas pelas estações.



quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Absurdo?

Absurdo?
Entregar-me sem reservas
Cair, ralar o joelho, quebrar a cara
Acreditar na bondade da pessoa que me encara com uma faca na mão,
Com uma mentira nos lábios,
Com o meu coração no bolso.
Não sei me desfazer diante de outros
Verter minhas lágrimas ao sol.
A palavra dura e seca que custo a proferir
Caleja minha garganta sedenta de verdades.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Quase dezembro

Antes que termine o mês de novembro vou derramar minhas letras nesta tela. Pensamentos e palavras. Atos e omissões. Estes últimos termos, sabem-nos os católicos - proferimo-os no ato penitencial, na missa.

Quando passo muito tempo sem escrever sinto dificuldade em coordenar minhas ideias. Não pela falta de treino, mas pelo atropelo das muitas coisas que transitam na minha mente.

A primeira coisa de que me lembro agora é um pedido de desculpas. Generalizado. Por ser quem sou, por ter feito ou não o bem, por silenciar, por falar demais. Por ser quem sou e ter magoado ou não ter amado o suficiente, por não ter sabido ouvir ou ver. Pelas minhas ausências, por não ter ligado ou visitado com maior frequência, por não saber partilhar das minhas dores e preocupações. Peço desculpas.

Depois lembro de flores. Sempre elas. Tempos atrás havia na minha casa arranjos artificiais. Dois vasos. Hoje não existem mais. Aos sábados minha mãe me compra flores na feira. Fico feliz ao recebê-las e mais contente ao vê-las amarelas - crisântemos, ou alaranjadas - sempre-vivas. Qualquer variedade me conecta a grandeza de um Deus singelo e cuidadoso. Ganhei de seu João, o homem que vende mudas na feira, um pezinho de angélica. Brota silenciosa haste de florezinhas brancas e excessivamente perfumadas. Saem do meu jardim para minha sala.

Agora recordo-me que domingo pensei em escrever sobre o ano novo. O evangelho de São Marcos (13,33-37) dizia: Vigiem e fiquem alertas, pois vocês não sabem quando chegará a hora. E essa hora é o tempo da colheita e devemos cuidar para estarmos maduros e disponíveis para o Senhor. No calendário litúrgico já estamos no novo ano e aguardamos a 'chegada do Messias'. Nesta rememoração posso sentir a inquietação maternal de Maria - aquietada pelo calor do corpinho santo do seu Filho em seus braços.

Padre Airton Freire canta uma musiquinha que diz assim: "É Natal novamente, festa do menino luz. Tornou-se um como a gente, nasceu o menino Jesus. Sua mãe era judia, tinha por nome Maria, seu pai era um carpinteiro, José, seu nome primeiro. Os seus não O receberam, deram-lhe morte de cruz. Vive no meio de nós, Divino Menino Jesus!". Nos meus silêncios ouço esses versos. O tempo do Advento causa-me espera feliz. Conheço pessoas que se sentem tristonhas por essa época - para elas minhas orações.

Desculpas. Flores. Novo tempo. Natal. Coisas correlatas? Para mim, sim. Ando preparando a manjedoura para o Menino Luz.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Tem dia que a gente acorda e a saudade dá bom-dia



Cheiro de terra molhada, de café bem cedinho e lavanda no cabelo.
Melodia de cantigas de roda, panelinhas de barro, fogão de carvão, pedaço de gesso para riscar o chão.
Livros, lápis de cor, farda e sapatos novos.
O silêncio dos olhos do meu avô.
Fox, o cachorro perdigueiro que mastigava as roupas da minha infância.
Tem dia que lembro dos antigos abraços, das partilhas secretas de palavras às vezes nem ditas, dos cheiros dos natais e seus jambos e siriguelas, das risadas emaranhadas nos bancos escolares, das lágrimas imaturas de quem não sabe lidar com a vida.
Tem noites que olho para a lua, a mesma de outrora, mas agora ela me lembra que o tempo passou e levou a minha boneca, o meu chinelo 'japonês ', o encontro diário com os amigos.
E não posso voltar. E não podemos voltar.
E a vida nos leva em frente e não considera o passo atrás, e não ouve nosso soluçar de criança, e não pondera a perda, nem o ganho.
Já não somos infantes, mas quem esqueceu de nos informar de que crescemos?
Tem dia que a gente acorda e a saudade dá bom-dia.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

No mesmo frasco

Tudo junto e separado - por estar no mesmo frasco
Tudo simples e complicado - no amor guardado em meus olhos
Tudo aqui e agora - na ausência das sublimações fictícias
O que digo, o que penso
Interesses só meus?
Onde estão nossos hífens
Nossas vidas costuradas com linha sessenta?
Tudo junto e separado - por estar no mesmo frasco.



segunda-feira, 7 de novembro de 2011

(Foto)Síntese



Minhas palavras, antes de escrevê-las, são suas
Assim como eu e o meu amor
E até parte de mim que não sei onde fica
- como a luz pertence ao dia.
Amealhando as horas costuro na barra da noite
A esperança de rever seus olhos
Fotossíntese das minhas vontades e desejos.
Seus beijos, seus beijos
Sou aurora quando lhe vejo
E fina textura de vento nos cabelos quando vai embora.
Como saudade, como verso de beija-flor ao bater as asas
Como as pedrinhas deixadas no caminho
Como sussurro que não se fez palavra
Como a vontade que não se fez verdade.
Antes de amar seu corpo com minhas mãos
Antes de desenhar meu amor com minhas letras
A saudade faz antever suas formas
Em mim, no meu caderno, no meu travesseiro
Na noite que antecede o dia em que sinto sua respiração.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Pensarinhos

Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Mário Quintana


Não sei de que pensamentos me visto,
de que roupas me dispo.
Ao olhar-me, às vezes, os ventos me levam.
Nesse silêncio de mim não faltam as palavras
porque o que se ausenta
são seus olhos desejosos dos verbos que não sei usar.
Passarinhos, abrem suas asas e vêm pousar na minha janela.



sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Barquinho



Um barquinho.
Somente um barquinho.
Vejo o mar a lambiscar-lhe os lados e a ouvir seus segredos contados de leve, naquelas brumas.
Em parca luz, escondido em sua farta memória - marinheiro saudoso da terra, dos braços macios de sua amada.
Entregue ao balanço do mar, o barco, o marinheiro, a saudade.
Fecho os olhos e não se apaga a imagem.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Minha voinha

Suas mãos enrugadas, as pernas já cansadas da caminhada até aqui
Os olhos que guardam as imagens de toda uma vida.
Estive aos seus cuidados, sob o seu zelo, às vezes excessivo.
Meus ouvidos vez por outra não queriam escutar suas palavras duras sobre a vida que havia de vir,
E algumas vezes, seus conceitos estiveram errados ou apenas não pude aplicá-los porque a vida era minha e eu tive que aprender e ensaiar meu crescimento.
Com você eu aprendi a dizer com licença, obrigada, a 'sentar feito uma moça', a ter horários para as refeições, a dividir o único bombom com o primo. Aliás, com você, não! Com a senhora, porque com os mais velhos há de se ter respeito.
Pensamos tão diferente sobre tantos assuntos... mas sou pedaço seu. Em mim navega uma saudade bordada com sua máquina de costura e ela tem cheiro de café. Separadas e unidas por 50 anos de diferença. E acho que começo a enxergar alguma coisa pelos seus olhos, minha voinha.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Casaca de couro

Meus olhos viam aquela paisagem e traduziam as saudades de que eu não ousava falar.
Naquela terra seca, debaixo do pé de algaroba, a marca escura do sofrimento pelo fogo.
Nos galhos da mesma árvore, um ninho de um passarinho chamado casaca de couro - trabalhando todo o tempo em que estive sentada, fitando-o.
Aquela mancha negra no solo, feita pela fogueira em homenagem a São João, contava das comidas, das músicas, dos risos fáceis daquela noite ida.
Naquela noite também a passarinhada aflita deve ter se aninhado em outro rancho - sua casa ardia na temperatura alegre das labaredas.


Pelo fogo passamos todos - provações da vida.
Para uns a perda de um ente querido, para outros a falta de emprego, o fim do relacionamento, a decepção da traição, as dores da doença.
Passamos todos pelo estalido de nossa alma e nosso corpo no ardor das chamas.
Às vezes ressurgimos como a fênix ou transcendemos as agruras transformando-nos em nova matéria.
Milho de pipoca - depois do fogo - branco e perfumado, se não estoura é piruá - vai para a lixeira.
Se é para passar no fogo que tragamos as cicatrizes e deixemos nossa verve espiritual recobrir-nos e reencaminhar-nos na estrada rumo ao horizonte (que creio, seja logo ali).

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Tá assobiando?

"Tá assobiando? Agora assobie a noite toda..."
Essas palavras, segundo o vigilante que trabalha comigo, foram de Lampião para um 'cabôco' que se atreveu a assobiar num baile em que o Rei do Cangaço estava.

Eu assobio desde a mais tenra idade. Aprendi com meu pai. Como boa pulga de cós, onde ele ia, eu ia junto. E ele assobia quase todo tempo, às vezes bem baixinho. Assobiar me traz paz, me tranquiliza - talvez seja por acender dentro de mim a imagem da criança, seu pai e suas mãos.

Meu avô dizia que eu parecia um moleque quando eu chegava da escola, cadernos e livros nas costas e o 'bico' musicando a minha alegria: "Menina! Parece um moleque assobiando no meio da rua!". Desculpe, voinho! Ainda permaneço com o mesmo mau hábito.

Hoje amanheci saudosa de coisas idas porque parece que elas não foram.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Respeito é bom e eu gosto

Respeito é bom e eu gosto. Antes de ser música de Flávio José, já fazia parte das paradas de sucesso dos ditados populares da minha infância, assim como 'quando um burro fala, o outro baixa a orelha'.

Respeito é uma forma de dizer, sem falar nada, que sua crença, sua escolha sexual, seu gosto musical, sua forma de vestir, são suas e as escolhas dos outros, são deles. É claro que para tudo há que se ter ética. Minhas escolhas não deverão obrigar as pessoas a se sujeitarem a situações as quais não devem.

Pedófilos, gente que maltrata animais, extremistas e terroristas, maníacos diversos. Suas posições já são desrespeitosas por si.

Respeito é bom e eu gosto e fico estarrecida quando me deparo, no tempo em que vivemos, com pessoas que chocam a comunidade com suas palavras, dando início a polêmicas sobre tema que não se discute (fé e religião, por exemplo). É certo que todos temos o direito de falar, contudo sempre há balizadores (o que, onde, com quem, para quem, para que) e para isso deveria servir nossa capacidade de viver numa sociedade  em que as pessoas são livres.

Em determinadas situações o 'burro' do ditado é estimulado não a baixar a orelha mas a dar coices...

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Dias cinzas

Peço por mim e por você:
Paciência, plenitude, paz de espírito
Saber controlar a ansiedade
Ouvir a voz de Deus, sussurrada de mansinho
Na hora em que um turbilhão de coisas está impedindo até os pensamentos.
Peço numa oração rápida que haja mais momentos felizes
E que nos momentos tristes haja alguém para auxiliar na caminhada
Agradeço por mim e por você:
Saúde, lar, amor, refeição, lembranças boas
Olhos ardendo de saudade de coisas tão lindas já vividas.
Peço muito e agradeço numa proporção menor.
Peço desculpas pelos lapsos cometidos
pelas ausências nos dias cinzas.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Por falta de um grito, se perde uma boiada

Remendado. Emendado. Amassado. Machucado. Transfigurado.
Feliz. Arreliado. Escondido. Revelado. Renascido.
Meu amor é assim. Meus amores são assim.
É também reservado - como resquício de outrora, quando eu não sabia que amar doía na felicidade alheia.
Fiel e sincero. Sensível e paciente.
Se já fui ferida, não deixei de amar.
Quando fui preterida, não deixei de amar.
Deixei sim o amor escorrer e ao recolhê-lo não era mais o mesmo:
ora mais forte, ora quase morte, uma vez transmudado, outra vez calado
- poucas vezes gritado nos meus lábios calmos.
Por falta de um grito, se perde uma boiada.


terça-feira, 27 de setembro de 2011

Saudade

Tenho saudade.
Do meu amor com sua barba rente ao meu pescoço
E as mãos postas nas minhas.
E minha saudade me enche de um amor que quero derramar.
Ideia estranha - minha alma hirta:
Imóvel na ânsia de esvaziar-se em abraços no seu corpo cansado
e adormecido, ao lado do meu.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Porcos e laranjas

O que falta em algumas pessoas é vergonha na cara. Desculpe o gosto amargo dessas palavras.

Se seu familiar morreu, seja honesto, não queira receber durante dez anos o benefício que ele não faz mais jus. Você se acha injustiçado pelo sistema? Quebre os grilhões, vote diferente, faça diferente. Não pague propina porque a lanterna do seu carro está quebrada e você não teve a responsabilidade de trocá-la e agora, ops!, o guarda viu! Não alimente o vício do sistema.

Talvez seja fácil falar... O dito popular diz que a ocasião faz o ladrão. Entretanto não existe meio certo, meio errado. Fuja da situação, não se contamine. Por uma laranja se perde o cento. Minha vó diz também: quem se junta aos porcos come lavagem. Não é para ser soberbo e esnobe. A mensagem é para ser fio condutor, pessoa misericordiosa. Isso não nos fará cúmplices em engodos e situações vexatórias. Aos porcos nova paisagem e não ao contrário!

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Nossa Senhora do Livramento

Nasci no mês de setembro. No mês onde as flores primaveris desabrocham para marcar a despedida dos dias frios e suas ventanias. Também comemoramos por aqui, em Arcoverde, no dia 23 de setembro a festa da padroeira da cidade. Flor maior no jardim eterno - Maria, nossa mãe.

Aqui, aquela menina de Nazaré, chama-se Nossa Senhora do Livramento. Mas ela é a senhora dos mil nomes: Nossa Senhora de Fátima, de Guadalupe, da Conceição, das Montanhas. Aqui nós a saudamos como nossa patrona, fechamos as nossas portas para saudá-la com nossos corações contritos e felizes, pois ela é a causa de nossa alegria. Por ela, veio a nossa herança, nosso motivo de regozijo, nossa salvação: Jesus.

Ela foi a mão que guiou o menino, os joelhos aos pés da cruz, o candelabro para a exposição Daquele que nasceu para ser a luz do mundo. Não é deusa, é mãe do Filho de Deus e todas as gerações a proclamam, e a proclamarão, bem-aventurada.

Maria pedimos vossa intercessão, quando nossa boca não sabe o que falar, e nossos olhos não vêem o que é preciso enxergar. Deus que sabe todas as coisas, que nos sonda em nossos silêncios e agonias, em nossas ausências e alegrias, fez de Maria, mãe de Jesus, a nossa mãe.

Neste dia, canto, com meus irmãos, vosso hino, mãe querida!

Ó Senhora do Livramento,
vossos filhos, benigna, amparai!
E na hora do vil tormento
Nossa fé, vinde, confortai!

Vinde, ó mãe querida
Vinde nos socorrer
Nas lutas desta vida
Ó mãe, dá-nos vencer!

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Raízes

É a mesma paisagem de outrora - mas são outros os olhos
Ainda que me pertençam desde sempre.
Vejo o que se esconde?
Talvez. Na revelação oculta das linhas das minhas mãos há milagres.
Quero dá-los e não sei quem os receberá.
Na minha mente caminho numa trilha sem fim.
Cheiro de alecrim, de jasmim.
A vida em potinhos guardados no meu congelador.
Amor. Paciência.
Outras paisagens não me trarão as velhas pessoas.
Estou me distanciando da árvore?
Suas raízes já caminham no meu coração.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Papas na língua

Você tem papas na língua? Eu tenho. Gostaria de não ter. Algumas verdades ditas de supetão me fariam bem. Meu problema é que o peso da verdade me amarra. O que vou dizer é verdade para mim e pode não ser para o meu interlocutor. Vou criar uma barreira no meio da ponte... Não sei se serei capaz de transpor a parede, ou de destruí-la com um abraço.

Não sei explodir e em seguida agir como se nada tivesse acontecido. Preciso de um tempo para macerar tudo aquilo. E como na questão da verdade, o tempo também apresenta a mesma dicotomia. A relatividade das coisas consome minha capacidade de agir rapidamente em determinadas situações.

E então as palavras param no meio da garganta, o abraço morre em muitos olhares compridos (nesse ponto a outra pessoa sempre me pergunta - por que é que você me olha tanto?), o silêncio cria uma capa protetora para minha incapacidade de lidar com aquilo que me incomoda. Tenho sorte de muitas vezes a outra parte me socorrer nessa agonia em que não determino pôr um fim. Minha racionalidade, meu senso de justiça...



A imagem da justiça é uma mulher, de olhos vendados, com uma balança. Ela tem uma vantagem: o que os olhos não vêem, o coração não sente. No entanto tenho que fazer minhas escolhas de olhos abertos e tenho que manter meu coração aberto.

Ninguém disse que viver era fácil, mas gosto de acreditar que podemos facilitar as coisas, embora me seja tão difícil lidar comigo mesma.

domingo, 11 de setembro de 2011

Breve

A vida breve. Poderia escrever a vida é breve, mas a existência do verbo de ligação faz parecer que é mais extensa. Tão passageira que não cabe senão uma palavra que explique sua efemeridade.

Por isso devemos deixar de lado o que é tão difícil de relevar: as mágoas, as tristezas. Outros já disseram e muitos outros ainda dirão essas mesmices que ora escrevo. Sabemos que faz mal ao coração guardar ressentimentos, recordar maus pedaços. O que foi, já foi. É passado. E digo para mim mesma no silêncio noturno da minha cama que devo esquecer de lembrar as coisas que me embrulham o estômago.

Há uma diferença entre saber e fazer. Por isso no escuro, de olhos abertos, tento me recordar dos conselhos que dei e aplicá-los nas minhas próprias veias.

Vida breve. Devo lembrar-me. E para isso faço promessas: voltar a caminhar, aprender a tocar violão, melhorar a arte de escutar, enxergar o que há e não o que eu quero que haja, visitar com mais frequência, utilizar a promoção do meu celular e ligar para os meus amigos.

Vida. Fazer na minha brevidade alguma coisa para a eternidade. Daí vem a minha urgência.

sábado, 10 de setembro de 2011

Seja a pedra no sapato

Tem gente que não sabe a que veio. Passa a vida em cima do muro, se preocupando com coisas que não são da sua conta, ou dando conta de outras tantas que ninguém está interessado em saber.

Minhas filhas costumam dizer 'tudo é culpa dos pais' entre risos e caras cínicas de cumplicidade para justificar algumas atitudes e escolhas. Parcialmente estão corretas. Influenciamos suas escolhas, moldamos suas atitudes, mas chega o momento em que nossas palavras e exemplos são balizadores, são norteadores contudo não determinam as escolhas.

As pessoas do primeiro parágrafo me enervam. Permanecem no emprego, reclamando, porque não tomam a iniciativa de fazer o que gostam, não cumprem a sua parte, porque se escoram no outro - esperando que ele faça, não dizem não para não se comprometer, nem dizem sim. Essas criaturas mandam recados, se eximem das verdades cruas, preferem cozinhar mentiras, engendrar situações - melindres de quem vive pé ante pé numa parede estreita - esconderijo para suas volatilidades.

Tem um ditado que minha vó repetia para mim, quando eu era criança, falando da minha política da boa vizinhança: você é água me leva, água me traz. Dizia isso porque para mim estava bom brincar na rua, brincar em casa, passear de carro, ler no silêncio, ler no barulho. Minha adaptação às situações diversas vem de longo tempo, porém se não me agradava, era 'tchau e bença'...

Então, se o emprego não lhe agrada - corra atrás de outro, mas enquanto estiver no seu, faça a sua parte da melhor forma que puder. Se o seu namoro é sem futuro, acabe - antes só do que mal acompanhado. Deixe as coisas em pratos limpos, as arestas aparadas, as dúvidas dirimidas. Seja carne ou peixe. Como diz a minha mãe: seja positivo. Seja positivo, proativo, sincero.  Seja a pedra no sapato, seja o lenitivo para a ferida. Só não seja a indefinição da outra face do ditado: a folha seca que a água leva e traz.


terça-feira, 6 de setembro de 2011

Pérolas imortais

Estava eu atendendo uma senhora que me falava sobre suas comissões: que estava vendendo muito bem, que a clientela estava procurando por ela, mas tinha uma coisa, se o patrão dela não aumentasse o percentual ela ia pedir a carta de EUFORIA... porque assim era demais, estava se sentindo explorada.
Continuei impassível, com cara de paisagem...
Em seguida, pensando que a cota de pérolas estivesse esgotada, descobri uma coisa importantíssima, que até então eu não sabia:
- Valéria, será que o caixa já terminou meu depósito?
- Vou olhar prá senhora, só um minutinho...
- Olhe, não é que eu esteja desconfiando de você, nem do caixa, mas é porque você sabe, né? Nós somos IMORTAIS...
(Iuhuuuuu! Eu, o caixa e a cliente: I M O R T A I S).
Fui até o guichê, a língua coçando para comentar com alguém... Não deu, as risadas ficaram para o fim da tarde!


sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Minha oração

Senhor que eu possa ser conforme a tua vontade.
Dá-me paciência para o dia-a-dia e
Tolerância para as diferenças
Faz brotar dentro de mim a temperança
Não me deixais esquecer de que sou feita
e para o que fui feita
Preenche meus vazios com tua misericórdia
e dela faz-me seguidora e disseminadora
Ajuda-me a separar o joio do trigo
Fortalecei meu espírito
Atiçai a luz que devo colocar à mesa
Em teus braços quero aninhar-me
nas minhas tempestades
Tu que sabes o que preciso
Dai-me a parte que me cabe
E abrandai meu coração ansioso por entender
os porquês do agora
Em meu socorro venha o teu Espírito Consolador
- nas horas em que tudo parece escuro -
e por Ele eu possa caminhar sem temer.
Amém.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Folhas sem pauta, para um amigo.


Por Elmário. Para Elmário.


Neste vaso com folhas disfarçadas de flores
Depositei todo amor fraternal que lhe tenho.
Nas pequenas hastes
Nossos sorrisos e segredos
Nossos medos.
Não lhe comprei livros desta vez
Neste vaso, sem outro adorno,
Dou-lhe um ornato para celebrar a felicidade
de nossos encontros e de sua existência.
As folhas que lhe dou,
sem pauta, sem exatidões,
são como nossa vida de alegres plantas no jardim:
nossa beleza ao dispor das abelhas,
dos namorados, dos jardineiros.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Para mim

Reler o que escrevi é como escutar o pulsar do meu coração dentro do meu próprio ouvido, como quando se apóia a cabeça sobre a mão. É a revelação do que nunca esteve escondido contudo só desta forma tenha se mostrado.

Frestas


Vejo a noite escura
Por entre as frestas da minha persiana.
Ritmado, o vento sopra para dentro do meu quarto.
Também o desejo de Deus se avizinha de mim.
A noite escura
O dia claro
Metáforas de que me aproveito.
Meu coração ansioso das coisas que não entende.
Sou toda dúvidas
E certeza.
Sinto sono.
Devo entregar minhas razões e meus tropeços
A quem tudo sabe.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Perdidas de amores?

Suspiros. Intervalos.
O caminho de ida:
Indo, voltamos.
Sentimento de completude
Ao ver aquela pequena flor azul.
Raios do sol da tarde queimam minhas pernas
Enquanto caminho pelas pedras.
Passou por mim um beija-flor
- ou teria sido eu a tremular por entre suas asas?
A chuva desabrocha
nas flores o desejo da beleza
- em suas pétalas sorriem para Deus.
São a moldura do meu caminho.
Respiração. Continuidade.
Independem de mim as abelhas que vejo:
Estão nas flores brancas (perdidas de amores?).

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Eu ando prá cima e prá baixo com os versos no coração

Eu ando prá cima e prá baixo
Com os versos no coração

Em pequenas reservas
Dentro dos meus olhos
Há a poesia das coisas
Que reveladas ao vento
Transformam meu caminho

Eu ando prá cima e prá baixo
Com os versos no coração

Grandes veios de frases
Muitas palavras nos leitos dos meus dedos
Teimam em não desaguar
No papel pautado ao meu lado

Eu ando prá cima e prá baixo
Com os versos no coração

Escondidas e imensas
Ínfimas e desnudas
Vistas pelas janelas e portas
As rimas fugidias, arreliadas

Eu ando prá cima e prá baixo
Com os versos no coração

Ouço-os sussurrar as palavras,
Histórias de amor e silêncios
Que hão de derramar-se no papel de carta
Com as letras declamando:

Eu ando prá cima e prá baixo
Com os versos no coração 

Claros e permanentes

Dou-me em enfeites claros e permanentes
Ainda que haja luz
E mesmo que esteja escuro.

domingo, 14 de agosto de 2011

Flores no altar

Há flores no caminho.
O sino da igreja lembrando que já é hora
De amar
De ajoelhar
De vir
De voltar
De abraçar
Há flores no altar
Oferta de quem dá
A quem já tudo pertence.
Há tanto silêncio na cruz
E gritos que não calam em minha alma.
E tanta alma
Nas minhas mãos e letras.
Ah, misericórdia!
Há sempre misericórdia
No cair da noite
No raiar do dia
No sopro da brisa
Infiltrada em meus cabelos.
Queria falar de outro amor.
Entretanto e entre tantos
Falo do amor que habita
A formiga e o beija-flor
O pobre e o pecador.
No silêncio
É que grita em mim o Seu amor.

sábado, 13 de agosto de 2011

Como o sol

Luz por entre as frestas.
Reclusos num canto qualquer são como poesia
Poema recitado numa sala.
Quando se encontram
Recordam as lágrimas e os sorrisos
As centelhas daquelas memórias
Rebrilham em suas faces.
Falam de silenciosas caminhadas
A dois, a três ou mais.
Naqueles esboços de encontros
Espaçados e cada vez mais raros
Sempre abre-se nova folha
Na velha planta enraizada.
São como o sol,
os amigos que escreveram seus nomes no meu pensamento.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Em construção

Decido ser assim. Faço das minhas pedras ornatos de jardim. Um canteiro esperando por uma flor.
Meu peito clama por mais e a vida tantas vezes me manda menos...
Num precipício suspiram meus olhos. De lá, bem do fundo, emerge o cheiro da origem das belezas sublimes de que me falaram outrora.
A esperança de um horizonte com cheiro de mar porque o que me inquieta é o sertão longe das ondas salgadas.
A meninice do meu coração: as sementes que planto com as pontas dos dedos, as miudezas e gentilezas do desabrochar por mim.
Sou assim. Caminho e peregrino, vento e solidão.
Esperando que tudo melhore, que a dor passe, que a saudade cesse, que me digam sim, que me digam não.
Inacabada. Em construção.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Três vidas

Não sou Maria no nome, mas sou no existir
Aromas coloridos nas flores pequeninas das imagens
dos quadros postos em minhas paredes.
Paredes. Redes. Balanço-me sem mover-me.
Você crê ser isso possível?
Sou Maria.
Três vezes, como na constelação que outrora apontei - na minha infância.
Em três vidas por mim paridas: Marias.
Não sou Maria mas estou impressa em suas grafias.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O sol se esconde porque sorrio.

Já quis abraçar e me escondi distante. Peço perdão pelos meus olhos tristes e minha boca solícita e sorridente. As inúmeras palavras que eu deveria falar são agora caminho entre o que vejo e o que reverbera nas finas paredes do meu coração sozinho, por escolha.

Não posso me prometer um caminho ao sol morno da tarde. A tepidez da água só existe na ânsia de senti-la a lambiscar meus pés - porque é sertão e já não chove mais. No sol morno encontro-me eu, exausta, sentada numa pedra, ouvindo as galinhas d'água lá longe.

Não se pode ser alegre sempre. Nem triste. Já aprendi, me recordo, que tudo são estações. O que preciso compreender e assimilar é o paradigma de que nem sempre chove quando choro e de que, às vezes, o sol se esconde porque sorrio.

Olho para trás. E para frente. Estou lá e aqui. Muito mais do que sei, sei que há. Exemplo claro é ser eu quem sou sem jamais poder tocar quem fui, ainda que ao sentir-me recorde-me da suavidade de outrora.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Simão Dias

Empatia, de acordo com a definição constante do site www.dicionarioinformal.com.br é a "capacidade de se identificar com outra pessoa". Filosofica e psicologicamente deve haver explicação (ou explicações): o fato da outra pessoa apresentar características de um ente muito importante na sua infância, de ser um extensão da sua imagem (gordo, magro, alto, baixo, vesgo e por aí vai), de gostar dos mesmos passatempos, de ser um tagarela, de ser um bom ouvinte. O fato é que a empatia é aquela mão na roda que a vida nos empresta com certa frequência.


Onde eu trabalho, nos últimos anos, já posso dizer isso pois estou virando uma pessoa de meia idade, houve uma certa rotatividade nos postos de execução. Muita gente nova, concurseiros que estiveram só de passagem ou que saíram de sua terra natal para assumir o emprego mas quiseram retornar para junto da sua família.


Nos meus relacionamentos há, de minha parte, uma coisa que considero pitoresca: passo a gostar de coisas que o outro gosta e a olhar meio atravessado para coisas ou pessoas que incomodam o outro. Exemplificando: você conhece Simão Dias, no estado de Sergipe? Eu não conheço, mas tenho um 'empático' que é natural dessa cidade. Quando trocamos nossos e-mails, ele me mandou um arquivo que falava da formação da cidade, dos costumes, das festas. E aí, vez por outra entro nos sites que falam da cidade que passei a 'gostar' porque tenho grande empatia por um seu filho que me apresentou aos seus 'encantos'.


A minha admiração pela lua também vem de muito longe. Tenho uma amiga que participou de um show com Caetano Veloso. Relatou-me que ele ao cantar Lua de São Jorge havia no céu uma grande lua amarela. Pronto! Ela no show, eu em casa. Pode parecer meio louco, mas quando escuto a música posso sentir a vibração daquele momento, do qual não participei!


Poderia escrever ainda muitas linhas. Não dá. Tenho que estudar. Falando nisso há um amigo que deveria fazer isso também, mas foi rezar. Diante daquele altar, dele também hei de me lembrar.

Letrinhas redondinhas

Suas letrinhas redondinhas num bilhetinho de amor. No cantinho do papel, nós duas de mãos dadas, sorridentes, num jardim florido e sobre as nossas cabeças muitos coraçõezinhos.
Essa imagem escorre em minha face.
Meu cheiro de lavanda me desconsola.
O tempo que não volta, a estrada de ida, o ponto de partida.
Fecho os olhos e guardo a imagem.
Só o silêncio. Noturno e solitário.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Céu da manhã

Lá fora a névoa esconde as serras, a capelinha, esconde o céu da manhã.
Ao longe escuto passarinhos, cães latindo e em cima da casa do meu vizinho, vejo, entre as telhas, que nasceu uma planta de espinho.
Aqui dentro uma ânsia para que mude o tempo (e não só isso).

sábado, 30 de julho de 2011

A dor vai fechar esses cortes...

Quem acha vive se perdendo... Já escrevi antes. Já citei antes essa frase de Noel Rosa. A música que vai levando essa frase é Feitio de Oração.
E acho que vivo perdendo algumas coisas. Detalhes pequenos e grandes coisas.
Eu acho que escolhi certo, que segui no melhor caminho, que agi da melhor forma, que orientei, que norteei, que mergulhei de cabeça, que dei o melhor de mim. Sempre achando.
Acho que gritei para não perder a boiada - e ela já passou da porteira.
Acho que emergi, no entanto ao meu lado há peixinhos.
Acho que a palavra fez efeito no ato alheio, mas foi ao contrário.
Acho que fui exemplo e nem fui notada.
Detalhes pequenos? O tempo. Aquele segundo decisivo entre ficar ou partir, olvidar ou acreditar.
Eu acho que eu vivo me perdendo. E me encontrando. E me perdendo.
E perdendo. E ganhando.
 "Em alguns instantes sou pequenina e gigante"

E sofro por ser pequenina e sofro por ser gigante, pois acho que sempre poderia ter sido diferente, ter feito diferente. Sinto como se o passado pudesse ter sido escrito com outra caligrafia, em outro papel e para determinados casos resultassem caixas de presente e não embalagens recicladas depositadas numa lata de lixo.

"A dor vai fechar esses cortes..." 

domingo, 17 de julho de 2011

Xcvfgtrptahjiur... Se conselho fosse bom...

Se conselho fosse bom não se dava, se vendia. Ditado certeiro. Quem está precisando de conselho quase nunca sabe de sua situação. Então, na verdade, você passará de conselheiro para um ser alienígena. Um inepto que não sabe sobre o que fala... E não adianta se chocar com o que escrevi agora. O seu conselho parecerá uma mensagem vinda de outro mundo e só será lembrado quando aquela profecia, dita ao pé do ouvido, por zelo e amor, se concretizar.

Alguns conselhos que já ouvi e outros que já dei:

Não seja fácil.
Não procure o caminho fácil.
A diversidade é para ser respeitada, não incorporada.
Não fique com a roupa molhada.
Não coma fritura frequentemente.
Seja igual no que é bom.
E diferente no que é ruim.
Seja honesto consigo e com os seus.
Seja fiel.
Tenha princípios.
Respeite os mais velhos.
Tenha horários e flexibilidade.
Lembre-se de que se houver necessidade de esconder é melhor não fazer.
Atravesse na faixa.
Respeite o sinal vermelho.
Creia: você é criatura. Agradeça ao Criador.
Ligue para os que amam estar com você - e não estão.
Importe-se com os detalhes.
Coma fibra e tome muita água.
Tenha bons amigos, ainda que poucos.
Tenha paciência.
Tenha amor próprio.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Eu só quis acreditar

Quando eu era pequena pensava que amar simplesmente era fácil.
Aquele amor quentinho entre passeios na praia, lanche às três horas da tarde, piscina aos domingos.
Quem disse que o amor é fácil?
Por amor já esqueci de mim, já emagreci, já me alegrei, já sofri.
Por amor já revelei minha lágrimas, já escondi minha face
Esqueci o que era certo falar, como era o correto agir.
Por amor já desarrumei meus pensamentos
Não soube nem explicar aquele momento.
Foi o amor que me fez tolerante, crente, paciente.
É o amor que me faz olhar para o horizonte
Porque quando não acredito que vou superar o açoite
Lá, adiante, está o cheirinho do meu amor infante.
Ninguém disse que o amor era fácil - eu só quis acreditar...

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Entre estas linhas

Preciso de uma fogueira que me esquente a alma, os pensamentos, a frieza das tristezas diárias.
Não sou triste, até pelo contrário. Os contrários, os reveses é que se avizinham e se apoderam como as ervas daninhas na horta verdejante.
Encontrar nos olhos de outrora a minha criação - é possível que eu tenha me perdido de ti, completamente? As perguntas não calam e não têm respostas.
Paralelepípedos no caminho: ouçam-me e traduzam-me pois que as antigas palavras não as sei usar agora.
Letras escorridas. Idéias embebidas no cheiro saudoso de lavanda.
Entre estas linhas, eu e você. Mais você.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Algodão, pelúcia e jujuba

Quis acreditar
Nuvens de algodão e mato macio feito pelúcia
Cresci dentro de mim
Dor maior...
Fora, além da cerca havia flores e besouros
e meus olhos insistindo em querer o que não havia.
Olhar infantil diante da rosa
Que encanta - é prosa
Nos espinhos residia a beleza - eu só sentia o perfume
A pequena cicatriz?
Que me importava, se eu tinha a beleza, a sutileza?
Quis acreditar e fiz da rosa um buquê
E dos espinhos suspiro
e da ilusão quadro mental.
Nem gosto de jujuba mas - tão lindas e coloridas -
usei-as no caminho em que retorno ao lembrar-me adulta.

sábado, 11 de junho de 2011

Flor de lis

Queria te dizer, mas não disse e sei que se leres, saberás que é para ti.
Para ti minhas orações, minhas preocupações
Em ti, penso quando desperto, quanto estás por perto ou quando de longe nem posso te encontrar.
Sendo tu uma flor, recordo-me quando eras semente,
-Flor de lis, me dizes.
Flor de sol, girassol nos teu cabelos
Flor de lua, pensamentos de tu ires pé ante pé lá adiante onde guardamos nossa cumplicidade.
Não sentes saudades?
Bobagem. Melhor assim.
Melhor um que dois, em alguns casos.
Queria te ouvir.
Só a luz entra pela janela.



sexta-feira, 10 de junho de 2011

Saudade

Um beliscão na boca do estômago, um tremor interno, a perna que teima em balançar sozinha. Desassossego. Estas são minhas associações para a ausência centrada de mim mesma. Costumo nas minhas aflições 'debulhar' o terço. É como se eu estivesse depositando tudo o que me aflige na cestinha de Nossa Senhora e ela, levando Aquele que tudo sabe, aliviasse aquele aperto da minha alma. De pouquinho vem o sono, vem a certeza de que nas mãos Dele estou.

Quando minhas filhas eram bem menores rezávamos juntas, à noite, o Santo Anjo. Fomos, também juntas, acrescentando umas palavras de agradecimento ao final da oração. Sinto uma saudade sem tamanho de quando dormiam as três no mesmo ambiente. Finjo que não há cama vazia quando adentro o quarto...

Maciel Melo canta uma música com Xangai que tem um trechinho assim: podem voar que eu sou a outra asa de vocês. E é assim: criamos os filhos para o mundo. Saem do ninho, batem as asas, alçam vôo. Por força de seu empenho e da orientação recebida, traçam novos rumos. Causam-nos aflição por termos tão grande afeição.

Mato um pouquinho da minha saudade fechando os olhos e vendo três cabecinhas loiras, com suas camisolas, bichinhos de pelúcia, chupetas e fraldinhas. Ouço-as rezar:

"Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, se a ti me confiou, a piedade divina, sempre me rege, me guarde, me governe, me ilumine, amém!
Anjinho, obrigada por meu papai, por minha mamãe, por minha família, por minhas irmãs. Obrigada por ter casa, por ter comida, por ter uma cama quentinha para dormir. Obrigada por as minhas roupas, meus sapatos e meus brinquedos. Obrigada por a minha escola, meus professores e meus colegas. Obrigada por tudo de bom que acontece comigo. Meu Jesus e meu anijnho, ensinai-nos a ajudar àqueles que precisam de mim e olhai por as criancinhas pobres - para que não falte alimento em sua mesa. Bença Papai do Céu, bença Mamãe do Céu e bença José. Pelo sinal da santa cruz, livrai-nos Deus, nosso Senhor, dos nossos inimigos. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém."

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Iscrivinhação

Chamboqueiro. Você sabe o que é? Se sabe é da minha região, se não sabe, aprende agora: é uma pessoa que tem as feições grosseiras - um nariz de pipoca, que não é afilado, um beiço virado...

Essas palavrinhas regionais são minha fascinação. Acho que são arretadas! Reflexo de nossa cultura, herança que recebemos e repassamos. E quando em vez aprendo uma nova. A de ontem: bisonho.

No final da tarde, conversando entre uma das mil atividades a fazer, diz meu amigo: - fulano é bisonho. Digo logo, que raio da mulesta de palavra é essa? E lá vem a explicação: é um cara amufinado, sem atitude ou que faz as coisas erradas.

Sou do interior de Pernambuco e acho bom demais! Nada contra os praceanos da capital ou de outros estados, países e blá, blá, blá. Mas pode crer, dizer oxe, visse, pitôco, batente, chamar o que não presta de peba, fazer munganga, ter amigo cheio de pantim e outras palavrinhas que você pode encontrar no endereço SÓ QUEM É PERNAMBUCANO ENTENDE, me deixa toda fofa.

Na minha bolsa tenho uma agendinha. Tenho anotado nossos regionalismos: atinhar, aperrear, barrufado, biliro, encafifado, escalafobético, estambocado, embira, esquipar, furibundo, fuá, irronhar, mocorongo, macambúzio, muzenga, pereba, triscar, xumbrega. Sei que você que me lê sabe mais. Enriqueça meu dicionário e me mande mais palavras!

Quer morrer, bestafera?

Sábado à noite. Vamos jantar fora? Entramos no carro e primeiro demos uma passeada, para não dizer que estávamos sem saber onde era o restaurante proposto... Em seguida decidimos voltar para Boa Viagem e irmos para a Jodie´s mesmo, comermos a "Supreme" ( que é o que pedimos toda vez!).

Antes de chegarmos ao nosso destino final, apareceu, do nada, um rapaz saído de trás daquelas árvores que ficam no canteiro central. Tomamos um susto! Meu sobrinho gritou: quer morrer, bestafera!?

Dei uma risada na hora. Ele vociferou o meu susto.

Assim, muitas vezes, todos os dias, alguém deveria gritar aos ouvidos, que desavisadamente dão uns passinhos bem perto do abismo, palavras de alerta.

Quer morrer, bestafera?
Não fume. Não simboliza nem mesmo o status de outrora. Hoje em dia parece mais que o fumante é um alienado que desconsidera os avisos sobre os malefícios da nicotina, do alcatrão e de todos os outros mais de dois mil quatrocentos componentes do cigarro.

Faça o exame preventivo - Papanicolau, se for mulher. De próstata, se for homem. Não esqueça de fazer a mamografia. Não desconsidere achados 'esquisitos' em seu corpo. Não se auto-medique.

A idade é fator determinante para muita coisas - uma delas não é a ignorância. A ignorância mata. Procure não ser um ignorante aos 15, aos 20, aos 30, aos 60...

E sim! Olhe para os lados ao atravessar a rua. Olhe para os lados para escolher quem lhe acompanha. Considere seus passos uma marcação, uma escolha de alternativas.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Palavras ao vento.

Ouçam-me. Grito-vos aqui deste sofá.
Falo dos amores e injúrias
Das saudades esparramadas por sob a sombra das árvores.
Desenho letras miudinhas para falar de grandes hiatos
Breves tormentas, floridas primaveras entre as pedras.
Silencio meus batimentos cardíacos
Devo ouvir-vos, mas é tarde
O sono já vos carregou e dormis entre lençóis e sonhos.
Palavras ao vento... ao vento... e ele faz a curva
Volta-me sutil em pensamentos.
Ouço-me. Circulação.
É tarde. Desejo falar-vos ao pé do ouvido
Mas seriam muitas passadas em direção ao mar
Tão longe... tão distante.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Erva de espinho

Eu vejo coisas que todo mundo vê. Vejo coisas que não quero.
Há coisas que são inacreditáveis, como plantar uma flor e colher erva de espinho.
Em certos momentos não versejo porque as palavras estão machucadas
Espero do outro mais do que pode me dá?
Quase sempre.
Tenho medo do escuro. Não do que vê meus olhos.
A negra escuridão dos caminhos em que não encontro mãos
Nem ouço os breves suspiros das almas por mim veladas
Eu sinto coisas que não sei explicar
Sei de coisas que não ouso falar - e elas engolfam minha respiração.
É noite agora. E já era antes.
Lembro do conselho de outrora
Tenho que saber que tudo é estação
Já, já vou poetizar meus vazios outrora repletos de dúvidas e anseios.

sábado, 21 de maio de 2011

Ponto final

As coisas são como elas são?
Sim e não.
Dentro de mim grande proporção de tempos em tempos.
Eu não conheço os detalhes
Eu finjo que sou importante
- pacto com sorrisos e mensagens escondidas nos meus próprios olhos.
Tudo é muito pouco
Fingindo que sei do curso da vida parece que o horizonte revela-se conhecido.
Eu não sei, muitas vezes, nem do que seria obrigatório eu saber.
Quero que me mostrem, que me dêem a mão.
Meu querer não é poder.
Ponto final.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Só Ele é e basta



Eu me esqueço, às vezes. Sinto medo, sinto-me pequena e incapaz.
Eu me esqueço que só Ele é e basta.
Esqueço que sou filha de um Deus vivo, latente, latejante, presente na minha respiração.
Ele respira quando eu respiro!
E eu esqueço de dividir, de derramar-me no seu colo, esqueço da sua misericórdia.
Esqueço que só Ele é e basta.
Deixo-me esquecida na escuridão das perturbações diárias, abandono-me em mim
Esqueço do caminho do Pai
Esqueço da cruz e da ressurreição.
Esqueço da beleza posta para mim
Esqueço que só Ele é e basta.
Há os que me recordam de tudo quanto esqueço.
Há minha menina interna, pequenina e confiante.
Há os afagos filiais do fim da noite
Há a lua a me fitar no retorno do trabalho
Há minhas roseiras no quintal
Há meus amigos
Há o amor que escolhi para mim
Eu esqueço Dele
Ele não. Ele me manda recados.
Só Ele é e basta.

Assista e escute (na voz de Padre Airton Freire)
Nada perturbe o teu coração
nada te espante, não!
Pois tudo passará
só Deus não passará!
Só Ele ficará
Ele não passará!
A paciência tudo alcança
Quem a Deus tem
Nada faltará!
Fora de Deus tudo é vão.
Só Ele é e basta!

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Com fiança. Confiança.

Confiança é o ato de deixar de analisar se um fato é ou não verdadeiro,
 entregando essa análise à fonte de onde provém a informação e simplesmente considerando-a. http://pt.wikipedia.org/wiki/Confian%C3%A7a(Wikipedia)

Escutei muitas vezes que recuperar a confiança perdida era difícil. Não sei se alguém desacreditou de mim, se permaneci desacreditada. Sei bem que a afirmação da primeira frase é muito verdadeira.

Uma criança que se deixa lançar ao alto, sorrindo e fazendo algazarra. Imagem da confiança, de entrega. Ela se abandona, se delicia em aguardar as mãos que a jogaram para cima segurá-la e lançá-la novamente.

O que nos direciona em escolher um amigo, um banco para depositar as economias, um médico? Confiança. O que nos dá suporte num relacionamento? Confiança.

O ato de deixar de analisar. Eu escuto o que o outro me diz e acredito. Não duvido da história, da situação, dos detalhes mais estranhos - porque eu confio.

Com fiança. Assim separado. Confiança. Crer, apostar no outro, mergulhar de olhos fechados.




domingo, 15 de maio de 2011

Água perfumada

Nos meus desertos não estou só
São desertos que me despertam
Há plantas de espinho, grande extensão de terra árida
E bem no centro, palpitando, borbulha água brotada de uma flor singela.
É difícil e estranho
E nesse lugar só adentram eu e outro pedaço de mim
- que só se revela em dias de muito sol ou muita chuva.
Nos meus desertos
Nada há por certo
Decerto não sei rimar
- desculpem-me a falta de métrica -
É que me sobram idéias e me fogem as palavras.
Por debaixo daquela ponte corre o rio vindo da flor
Água perfumada, com cheiro de angélica de final de tarde.
Derramo-me por onde passo.

Endereço da imagem


terça-feira, 10 de maio de 2011

Calabouço


Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...
Mário Quintana


Todos os meus amores,
Todos de que me recordo,
De nenhum fiz estardalhaço
Nada mais que abraços, gentilezas e entrega
Sem carros com mensagens de paixão
Nem pintura nos muros
Apenas declarações em folhas de caderno,
Em palavras sussurradas - ora cantadas em canções de ninar.
Para os meus amores entrego-me com reservas
Esperando que as resgatem.
Silenciosamente, de mansinho,
os meus amores me fizeram fortaleza,
calabouço, monstro devorador.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Aquele momento

"Sempre tenho a estranha sensação, embora tudo tenha mudado
 e eu esteja muito bem agora, de que este dia ainda continua o mesmo,
 como um relógio enguiçado preso no mesmo momento – aquele."
Clarice Lispector


Eu também, Clarice. Sou a mesma e sou outra. E a outra insiste em recordar-me a mesma.


Passos à frente nem sempre significam avanço. Passos largos e apressados às vezes nos levam para tão distante de nosso objetivo que voltar é um exercício sofrido e descrente. Abrir a porta, abrir a boca, abrir a alma. Tudo mudado mas ainda sou eu aqui.


Os versos tristes são os melhores? Não, não são. Eles revelam nas letras estranhas ao nosso pulso as nossas entranhas. Derramamo-nos nas suas entrelinhas - no anonimato. A tristeza é sentimento que escondemos porque, sendo o inverso da alegria, é o nosso avesso machucado, acabrunhado. Um sorriso triste, quem detecta? Aqueles a quem tentamos ludibriar: os que nos vêem e nos amam.


Nessa dicotomia existente entre ser  e tornar-se há o momento decisivo, aquele ao qual voltamos - mesmo sem querer. O momento da mudança, da metamorfose, da revelação, da ruptura, do reatamento.


Em nós, ainda que mudemos, para pior ou para melhor, coexistem, não sem conflitos, os valores e os amores de antes, de agora. É como, desculpem a comparação pueril, adotar um filhotinho de cachorro para substituir o outro, que agora morto, foi seu melhor amigo. No mesmo quintal habitará o amor saltitante e o amor de saudade. E embora a felicidade esquente suas mãos com calorosas lambidas, a saudade queimará seus olhos ao encontrar apenas o filhotinho.


Quem acha vive se perdendo, já cantava Noel Rosa e me repete com frequência querido amigo. Por isso achando que meu relógio enguiça inúmeras vezes ao longo tempo, vou me perdendo em achar. Tem nada não... Perdendo vou encontrando e reencontrando e criando. Vou achando que apesar do relógio é bom viver!

terça-feira, 3 de maio de 2011

Além-mim

Camisa de algodão - listras brancas e azuis, calça jeans, tênis e meia. Estou vestida. Minhas partes que não devem se revelar, cobertas. Minhas partes que se mostram, confortáveis. A vida podia ser simples assim, mas definitivamente não é.

Acordar já é ato de escolha. Acordar, ajustar o desejo das partes. Há coisas que não se ajustam, não produzem nem sombra - que depende basicamente do outro. Pau que não dá sombra. Por que você o escolhe? Madeira que abastece a fornalha não é madeira de construção. Depois que o pedreiro senta as pedras do terraço de forma irregular, confiará você que na sua sala de estar se dê melhor trabalho?

Nova chance. Confiança. O vidro quebrado é substituído e não remendado. Na vida, não dá para ser assim. Ficamos olhando pela vidraça trincada, focalizando a paisagem, vendo além da rachadura.

O caminho é passagem, é tropeço, é recomeço. É dali para frente (ou para trás). O caminho é pergaminho de passadas. É isso. O caminho é a história de agora. É a história de além-mim. É a história, às vezes, do que já teve fim.

Conforto-me lembrando da minha camisola macia e velhinha, com cheirinho de roupa limpa na gaveta. Visto-me no meu ninho. Não acho pouso, minhas asas teimam em voar. Vou indo. Vou caminhar no aceiro que abri agora.

Tudo poderia ser simples. Mas não é. Complexa. Completa. Repleta. É a vida. E eu quero vestir a minha camisa de algodão, o meu vestido de minúsculas florezinhas e compreender, só um pouco, do complexo da vida.

domingo, 1 de maio de 2011

Pé de mim

O tempo mudou. Aquelas nuvens do horizonte estão sobre nossas cabeças. E chove. E a água não escoa, e os esgotos não a comportam. Há muito mais silêncio do que trovões e relâmpagos que insistem em iluminar o que está escuro.

Em mim paisagens. Passagens que teimam em retornar e não me deixar. Sensação de pés úmidos, que detesto. Sigo para o primeiro abrigo, quero enxugá-los, mas me dão uma toalha também molhada. Será que há uma conspiração? Respiro fundo, engulo seco, faço o melhor - acreditem - o meu melhor.

O meu melhor não é suficiente. E sigo em frente, sempre em frente. Ao meu lado há companhia. Dentro de mim há companhia. Desculpem-me a ausência, os olhos postos além, meu eu esmaecido em gotas derramadas, em enxurradas que não me arrastam. Eu sou essa. Sou também aquela, deslumbrada, com um lindo céu de verão. 

Estações que passam: invernos de alma, verões de alma - na mesma alma. Passam por mim e me mudam e bem na sua frente troco de roupa, de tino. Desatino, quase sempre. Em minha face há jardins - e são eles que deixo o outro ver. O céu gris reservo para aqueles que conhecem os canteiros em que plantei minhas flores, minhas ervas, meu pé de mim.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Entregar-se sem duvidar - é fé.
Acreditar no que não se vê, esperar confiante.
A minha crença são muitas. Creio num Deus Trino, na ressurreição, na misericórdia do Cristo que veio para me salvar, me resgatar. Há um grande mistério em viver e às vezes, pensando nisso, sinto sobremaneira a minha pequenez e ao mesmo tempo é como se minha alma, lançada no universo, pudesse alcançar tão alto nível que, ainda sendo minha, não me pertence.
Eu tenho fé na boa vontade das pessoas. Creio que serão sinceras, verdadeiras. Anseio por encontrar nelas o que há de melhor, ainda que tropece em seus pés deliberadamente postos a minha frente. Ainda que me enganem, sofro por procurar-lhes motivo ou justificação.
Estamos rememorando a Páscoa, recordando a graça do resgate, a possibilidade de ressurgirmos de nós mesmos, de sairmos do sepulcro. A ressurreição, assim como o amor do Pai Criador, é todo dia. Deixar morrer o velho e aflorar novo ser. Também creio nisso, com fé inabalável.
As dúvidas da minha fé? Servem para empurrar-me sempre à frente. Sei que Ele estará lá, como está aqui agora. Minha exitação não muda em nada o eterno.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Amargura

A amargura é sempre ruim?
De pronto podemos responder que sim. É dor macia que fica por cima do respirar. Visguenta, sufocante e ajuda a emagrecer - porque nos enche o estômago e é de difícil digestão.
Pessoas amarguradas, aquelas de natureza sofrida, por opção ou imposição, andam diferente, se portam diferente, há um que de lâmpada apagada até no sorriso mais feliz e improvável. Nelas, o que surpreende é a fugaz alegria.
O contrário ocorre com o indivíduo que é feliz ao acordar, ao tropeçar, ao cantar, ao vender uma rifa, ao visitar um enfermo no hospital. Sua leveza preenche o ambiente, antagonicamente. Seus olhos enxergam beleza no céu gris, na folha seca, consolam - de soslaio - a solidão nada poética do dia-a-dia.
Amargura só no chá de carqueja, na semente de macela. Amargura medicinal. Amargura boa!

Úmidas

Poucas palavras ditas
Muitas em minhas mãos.
Não querem ser ouvidas
E calam-se, úmidas, nos meus olhos.
A dureza unilateral
A espera lancinante
Por seu singelo sim.
Escondida ou revelada?
Vem em meu auxílio a madrugada
Cansada e sonolenta.
entrego meu corpo ao abandono
Das letras não ditas, não escritas
Escorridas apenas na quentura do meu pensamento.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Papel-manteiga


O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. 




Tem certos dias que não são certos. Nessas horas de desacerto o dia parece mais longo, o céu mais escuro, a noite mais silenciosa e o relógio da cozinha parece possuir um grande amplificador. Tic-tac. Tic-tac. O pensamento é o mesmo, ritmado pelo tiquetaquear, de que não há possibilidade de respirar sem doer.


Perspectiva e expectativa. Parecidas, parentes, mas não se dão bem e em mim não andam juntas. Aquela como vejo, a outra como espero. Ao se encontrarem revelam o que já havia - eu só não ouvia.


Abstração. Distração. As letras, os números, as fotos, as flores, o que mais amo.


As dúvidas e incertezas. As alegrias, a pureza. Os olhos fitos no caminho. O caminho reto ora perdido. A árvore da curva revelada. Tudo e muito mais embalado no papel-manteiga que usei para desenhar o amor. Suas arestas cuidaram de rasgar-lhe o delicado invólucro.


Não adianta. Lá onde o vento sopra, dentro do meu peito, há um pé de folhas grandes e raízes profundas. Nos dias de alegria ouço-as dizer que passará. Nas breves tormentas obrigo-as a vociferar que vai passar. E vamos nesse canibalismo de sentimentos - eu a engolir o amor, o amor a engolir-me sempre.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Alquimia


Talvez a clareza das palavras
Vencesse a dureza das coisas
Mas é vão o desejo
E no vazio dos pensamentos se perdem,
iluminadas idéias.
Antes de ser a revelação,
Moenda de sentimentos,
A poesia tosca e diária dos meus dedos
Não é capaz de ser mais do que leitura
Nesse caso.
A alquimia dessa água corrente
-não conheço.
Desço rio abaixo
a procura de remanso límpido
que acalme o não saber turvo de minhas águas
-já navegadas.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

O filho pródigo


Já meditei muitas vezes este trecho do Evangelho de São Lucas (15,11-32). O filho pródigo: sua partida em direção ao mundo, sem pensar no sofrimento que aquela decisão causaria em seu pai, sua crença de que partindo para longe teria a bênção de uma vida feliz (amigos, diversão, dinheiro, reconhecimento...).

Ontem, na reunião de pais e mestres do Colégio Imaculada, apresentou-se para palestrar o senhor Hamilton, da Comunidade Boa Nova. Falou-nos da dificuldade de educar os filhos, de mostrar-lhes limites. Partilhou um pouco de si, da sua família, da sua história e apresentou-me nova maneira de ver a velha palavra. A Bíblia  é antiga e tão nova (parafraseando Santo Agostinho, ao falar de Jesus - beleza antiga e tão nova!).

Começou por perguntar-nos qual de nós teria dado a parte da herança, pedida pelo filho. Frisou que o pai dera o que o filho pedira pois vislumbrara naquele instante que não poderia demovê-lo da sua idéia. O filho solicitara a sua parte pois o que queria fazer, sabia, não era seu pai de acordo, não poderia ele concretizar seus planos naquele lar. Era necessário pois que partisse para longe dos olhos amorosos de seu pai.

Vai. Gasta seu dinheiro, descobre os falsos amigos, os amores especiais e fugazes. Entrega seu corpo, sua mente, seus recursos, passa fome e sede. Sofre seu corpo e sua alma. Pensa no amor paterno (Deus é misericordioso). Decide voltar, pedir perdão, se humilhar.

Em seu retorno, reconhece-o, de longe, seu velho pai. Corre em seu encontro. Manda que lhe tragam roupas, sandálias, anel - que matem um gordo novilho. É festa! Volta a vida o que estava morto.

O filho mais velho retorna da lida. Ouve de longe o barulho da festa e pergunta ao servo: o que há na casa do meu pai? Seu irmão regressou e seu pai comemora. Sem compreender além do que vê, recusa-se a entrar. Seu pai vem ao seu encontro, ratifica que é dele tudo que lhe pertence, que sabe da sua fidelidade e dedicação.

O filho mais velho fica do lado de fora porque sabe que não há tolerância naquele lar para irmãos que não se respeitam, não se amam, não sabem perdoar. O cerne da leitura, naquele momento, ficou sendo o limite e o respeito. Ambos os filhos sabiam que naquela casa deveria haver respeito pelos valores ensinados pelo pai.

Sai do colégio pensando sobre tudo aquilo. E ainda estou.

A letra abaixo é de uma música que fala sobre essa passagem do Evangelho. Escute.

Acesse esse link:
Muito alegre eu te pedi o que era meu
Parti, num sonho tão normal. 
Dissipei meus bens e o coração também
No fim meu mundo era irreal.
Confiei no Teu amor e voltei
Sim aqui é meu lugar
Eu gastei teus bens, ó pai e te dou este pranto em minhas mãos.
Mil amigos conheci disseram adeus
Caiu a solidão em mim
Um patrão cruel levou-me a refletir
Meu pai, não trata um servo assim.
Confiei no Teu amor e voltei
Sim aqui é meu lugar
Eu gastei teus bens, ó pai e te dou este pranto em minhas mãos. 
Nem deixaste-me falar da ingratidão
Morreu, no abraço, o mal que eu fiz
Festa, roupa nova, anel, sandália aos pés
Voltei a vida, sou feliz.
Confiei no Teu amor e voltei
Sim aqui é meu lugar
Eu gastei teus bens, ó pai e te dou este pranto em minhas mãos.