quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Casaca de couro

Meus olhos viam aquela paisagem e traduziam as saudades de que eu não ousava falar.
Naquela terra seca, debaixo do pé de algaroba, a marca escura do sofrimento pelo fogo.
Nos galhos da mesma árvore, um ninho de um passarinho chamado casaca de couro - trabalhando todo o tempo em que estive sentada, fitando-o.
Aquela mancha negra no solo, feita pela fogueira em homenagem a São João, contava das comidas, das músicas, dos risos fáceis daquela noite ida.
Naquela noite também a passarinhada aflita deve ter se aninhado em outro rancho - sua casa ardia na temperatura alegre das labaredas.


Pelo fogo passamos todos - provações da vida.
Para uns a perda de um ente querido, para outros a falta de emprego, o fim do relacionamento, a decepção da traição, as dores da doença.
Passamos todos pelo estalido de nossa alma e nosso corpo no ardor das chamas.
Às vezes ressurgimos como a fênix ou transcendemos as agruras transformando-nos em nova matéria.
Milho de pipoca - depois do fogo - branco e perfumado, se não estoura é piruá - vai para a lixeira.
Se é para passar no fogo que tragamos as cicatrizes e deixemos nossa verve espiritual recobrir-nos e reencaminhar-nos na estrada rumo ao horizonte (que creio, seja logo ali).