quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Parabéns para Gabi

Enquanto comemorávamos duas décadas do nascimento de nossa filha mais nova, comendo hámburgueres junto com ela, fomos abordados pelo menos três vezes por pessoas pedindo "um trocadinho". Dois adultos, ambos aparentando estar alcoolizados e uma criança, com não mais que oito anos.

Quanto mais o tempo passa mais meu coração fica incomodado com as coisas tristes do mundo. Faço o que está ao meu alcance mas não tenho como atender e minimizar toda dor que vejo. Falta dinheiro, alimento, remédio, calçado, agasalho. Falta palavra, abraço, amor, compaixão. E os olhos que pedem estão tão sem brilho, as faces sem expressão.

Comemos. Uma das pessoas que pediram, receberam umas moedinhas. Pagamos com cartão. Fomos embora. O incômodo veio comigo.

No caminho de casa, numa praça, vejo uns seis funcionários do supermercado que fica pertinho dali, ainda de farda, ao redor de um banquinho. Tem refrigerante e um lanche. Um deles segura o celular, na posição de fazer uma selfie, enquanto os outros cantam e batem palmas. Deve ser também o aniversário de um deles. Comemoram, depois de um dia de trabalho, a vida.

Penso em Deus. Em como ele deve sentir os cansaços e as dores do mundo. E como deve se alegrar quando nos alegramos.

No sinal vermelho, paro. Aguardo e peço que bênçãos recaiam sobre todos e em especial sobre minha filha. Que tenha uma vida sem muitos espinhos, que socorra aqueles que dela venham a precisar, que seja feliz e esteja sempre à disposição do bem, que seja reflexo do amor.

Observar, florescer, partilhar. Renascer todo dia para não encrudescer e não esquecer para que viemos.
Parabéns para Gabi!