sábado, 17 de outubro de 2015

Sobre mim, os outros e as coisas

Das coisas de que sei e das pessoas de quem gosto
Estão repletas as minhas horas
Ainda que não as traga junto a mim, que importa?
São como parte do meu peito, são água que corre no meu leito
Sou feita delas e nessa simbiose viro flor, alumio a noite, raio o dia
Sou abraços e despedidas
Peso sem medidas
Banho com cheiro de lavanda, bolo quente, risada boba e lágrima derramada
Sou cruz e eternidade, esperança e meditação
Sendo tantas coisas e trazendo tantas pessoas olho o horizonte e vejo uma menina caminhando: sou eu transmudada, viandante, sonhadora, operadora de mudanças.
Levo o mundo em meus passos.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

De olhos e almas

Fizemos de nós as perfumadas flores do pomar
Somos o cheiro do limoeiro, a doçura das pitangas amadurecidas no pé 
Em nossos amanheceres despontam a revelação dos segredos das auroras que despertam para ver-nos
Elípticos e destinados à eternidade
Nossos olhos se encontram antes que se encaixem nossas almas.

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Jardineiro da noite

No meio da noite, de olhos fechados, sonhando, vi uma semente brotando do meio de mim
Tinha a cor da esperança e lembro bem que não era verde. Além de furta cor tinha também cheio de futuro e enredava-se por entre as minhas mãos e procurava outros olhos onde pudesse germinar.

E foi assim entre versos sem métrica e vento soprando ventania que minha alma tocando o céu descobriu, sem susto, que havia além da janela um amor somente pra mim. Jardineiro das minhas sementes.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Gira a flor do sol

Havia infinito em meus olhos
Vazios com cheiro de vida
Como a terra que pulsa esperando o plantio
Nunca soube bem como havia sido aquele encontro entre a flor e o sol
Toda aquela beleza e quentura apenas se completavam e no silêncio das horas faziam o que foram feitos para fazer: amor.

No meu coração, a flor
No seu, o sol.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Vida miúda

Dentro de mim as inquietudes do existir
as saudades do que já fui
as promessas de infinito
Ecoa devagar o dia nos meus sentidos
O tempo grita sobre as horas findas nos telhados
Entre as roseiras e o manjericão
o cheiro da vida miúda.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Velhos clichês

Clichês que me habitam
que sou, que escrevo, que transbordam
Todos se relacionam à primavera
e ao amor 
Dessa poesia que brota ao recordar-me de olhos e abraços e amanheceres 
e da minha cabeça no teu peito
e do teu peito no meu peito
e da minha vida enroscada no teu pescoço 
e de mim inebriada com teu cheiro.
Todas as flores que cabem em meus olhos
dou-te em versos e beijos.


quarta-feira, 17 de junho de 2015

Estações

E teus abraços enchem meu corpo 
de primavera.
Abraça-me com força e do nosso encontro surgirão borboletas.

Prometo todas as estações
ao tocar-te a mão.

Que sejamos luz de inverno a verão.

terça-feira, 9 de junho de 2015

Para amanhecer o dia

Em seus pulsos a quentura
que só possui quem está amando
Almíscar de flor de limão
Chão morno do sol do dia
E as mãos dadas
como garranchos que se enredam na cerca
No alpendre chega a sombra da tarde
balanço na rede
vento nos pensamentos de ser feliz
Lá longe a serra
desenhada de nuvens que se vão mudando
Olho seus olhos anoitecendo o dia
(seu dedo indicador na palma de minha mão)
Suspiro baixinho
e continuo sentindo esse amor
quente de sertanejo
No céu vai acabando o azul,
o rosa, o laranja
-do outro lado vêm vindo jabuticabas e estrelas
Faço a promessa de sempre
e renovo o que é sempre novo.
Amor para amanhecer o dia.

sábado, 30 de maio de 2015

Lá fora o que trago dentro
Semente de coentro
Folha de alecrim
Nos meus olhos abertos
A ventania que mistura meus pensamentos
À terra que rodopia pela janela.

Vem um passarinho na árvore do cercado.

Fui com ele.
Quem ainda me vê na janela?

sábado, 16 de maio de 2015

Sobre a morte

A partida foi antes que esperava
A medida foi menor que a prometida
Foi embora, flor ainda
Findou o dia antes do ocaso

Toda desolação possível escorria pelo canto dos olhos
e nesse canto triste
nesse cheiro de café de fim de tarde
doía a alma que sentia saudade
das palavras.

Catequético ensinamento da transformação do ponto final em vírgula.

Até logo.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

A centelha

Lá fora o que há aqui dentro
Ando como sempre andei :
Cheia de dúvidas e de amor.
Já não sou mais uma criança
insiste nisso o mundo inteiro
Cá dentro do meu corpo que caminha para a velhice sinto o gosto do pudim de leite da minha mãe e as minhas mãos estão ainda entre as do meu pai.
As promessas. O bem querer. A linda descoberta de me saber entregue ao amor que gera vida - tornaram-me uma adulta cheia de olhos infantis e abraços adolescentes.

Eu. A que olha pela janela, e acredita.
Eu. A fortaleza dentro de um vaso de flor.
Eu. A paixão e todo amor.

A centelha do infinito hoje está ardendo um pouco mais.

segunda-feira, 16 de março de 2015

Flor de espinho


Ao longe tudo é serra
E cheiro de saudade no céu de finais de tarde.
Meus olhos miúdos tentam enxergar corações
Nos peitos endurecidos
Mas o que me importa agora
É essa estrada de distância atrapalhada
É essa ausência das inquietudes de tua presença. 

Não aprendi a amar-te.
Descobri o que era o amor
Ao deitar-me nos teus olhos de vegetação de caatinga. 

Ao longe tudo sou eu
E na orvalhada da manhã
Minhas preces (onde se abraçam serra e saudade).

Flor de espinho pelo caminho.

domingo, 15 de março de 2015

Sobre o que há nas entrelinhas

Problemas
Lemas
Proles
Palavras
Lavras
Poemas
Peles
(a vida que não cabe em si)

quarta-feira, 11 de março de 2015

Pé de nuvem

No meu pé de nuvem
nasceram flores azuis
algo assim como brotar amor
de uma amizade.
Amor de gelar a mão
e palpitar o peito pela proximidade do encontro.

A lindeza no canteiro singelo
amordaça todo ímpeto de sentir-se sozinho ou triste
tal como a explosão de felicidade em saber
que há uma mão querida que está segurando a sua.

O amor é a pequena novidade
uma flor guardada dentro do peito.

Intervalo

Ao longe pedras que mudaram de cor
Porque o céu amanheceu escuro, cor de chuva
Fito-as de cá, onde estou, imóvel
de coração amiudado,
ansiosa pelos milagres que li nas inscrições rupestres
- homens e mulheres dançando
num futuro que nem sabiam existir
Eu, uma vírgula na feitura da vida,
querendo encher tudo
com meus pensamentos vociferados ao vento.
Da grandeza de mim conhecem as flores
Da pequeneza, ínfimas pegadas
no caminho sulcado pelas minhas rugas.
Sendo infinita nas brevidades de agora
muito de mim na imobilidade do horizonte
- que não pára de mover-se.

sexta-feira, 6 de março de 2015

Nas nuvens

desenhamos em conjunto
eu e as nuvens
quando vi elefantes
desenharam flores
- parceria durante o dia.
e à noite,
relembrando minhas meninices
apontei a lua cheia
- eu aqui feita de interrogações
ela lá repleta de eternidades.

mesmo quando não ouço
sei que toca em mim
um violino.

ele toca agora
ouço o amor.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Para mudar

Vamos embora. Que é tarde, que é noite, que é dia.
Vamos pra lua do outro lado da rua
Vamos cantar na torre da igreja
e derramar na praça qualquer coisa. Que seja.
Vamos dizer a verdade,
ouvir a verdade,
descobrir que o relativo mora na atitude
e na altitude, ar rarefeito, criamos asas.
Vamos agora.
Mergulhar, repousar,
espantar os peçonhentos e alimentar os passarinhos. 

sábado, 24 de janeiro de 2015

Novo do velho

Uma tarde de sutilezas
como nuvens nos pés.
O amor é assim
cor de céu na boca
ruidosas promessas ao se encontrarem em silêncio. 

Foram feitos um no outro
ninho, passarinho
trilha, coração de matilha.

Aquela felicidade era deles
e do mundo.

O amor é assim
costura e rosas
(sempre manancial).