sábado, 28 de abril de 2012

Felicidade

A felicidade batendo na janela:
ela vira para o outro lado e cobre a cabeça.
Não tarda a perceber
que a bela senhora seguiu em frente
e está na casa da vizinha.
Agora a inveja: consumindo toda ela.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Pagaram para ver

Tuas atitudes revelam espinhos deslocados
Com tua mão ceifeira cortaste nossos laços
Da roupa de festa ao borralho
- se ressente nossa amizade.
Em tudo teus passos confiantes
Em tudo, descubro, teus passos claudicantes.
Da loucura de um Midas maneta e esbanjador
deve revestir-se teu pensamento insano de agora.
Os espinhos furaram-me os olhos
- que pagaram para ver e cegaram.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Céu de abril

Sob esse céu de abril
derramo meus olhos
Sob meus olhos há as palavras
Sobre as palavras fala o meu amor.
Antes do amor, poemas sem cor
Infecundo
Depois dos teus olhos
Amor de amantes
Sementes de vida.
Entre as minhas mãos
As tuas
Nas tuas vestes
Eu enroscada.
Sob esse céu de abril
Saudades.


quarta-feira, 25 de abril de 2012

Bússola

Uma bússola para meus olhos perdidos
entre os desconsolos dessa vida.
Andamos a esmo por essas ruas
procurando fora o que esteve desde sempre dentro.
O campanário e sua cruz
encontram-me as órbitas abertas
na tentativa de compreender as dores do mundo.
Em minh'alma há terra e frutos
e nela, como aqui, há sede.
Uma cruz para os passos perdidos.


terça-feira, 24 de abril de 2012

Cordas de navio

Depois de apagar as luzes sairemos noite adentro
Eu e tu, destinos atados com cordas de navio
- nós de marinheiros uniram nossos olhos
Vamos, invencíveis, à procura do farol.
No caminho sob os nossos pés descalços
sinto doer-me a ausência antecipada, meu amado
- tu vais depois, mas já agora sinto tua partida.
Penso que amar a pessoa ida é mais forte que tocar minhas feridas.
Nosso amor viajante ascende da terra batida
o cheiro das flores ainda não nascidas.
O que haverá nas palavras não proferidas?
Decerto a madrugada responderia,
mas nada perguntamos.
Adormecido em meus braços, tu,
na tua inalienável pertença a mim,
ocupas meus braços, meu colo.
Então, me calo e deixo o sol tocar tua respiração.


segunda-feira, 23 de abril de 2012

Pesadelo

As contas do meu colar rolando pelo chão
Os pés sem saber a direção
Paredes ocas e intransponíveis
Testa franzida e úmida de medo.
É noite. Está quente e estou só.
Na cama meus fantasmas
me olham da janela.
Deveria ter vestido meu pijama de flanela
Vejo luzes ao longe
Escuto vozes sussurradas.
Crispam-se minhas mãos ao redor do lençol.
Cerro meus olhos, forço-os a enxergar
Escuro. Escuro.
Fugaz momento. Desperto do pesadelo.
E a vida é o cheiro de lavanda do meu banho
e meus chinelos aos pés da cama.

Ilustração do blog www.elcerdo.com.br

domingo, 22 de abril de 2012

Coração passarinho

Meu coração canta como um passarinho
Feliz e saudoso
Dividido se faz inteiro.
Está empoleirado no galho mais alto
de onde sente e separa os sentimentos.
Aprendi a voar procurando o dia para raiar.
Meu coração é passarinho no meio da caatinga.
Meu coração canta como um passarinho
- que sou.
Canarinho - amarelinho.


sábado, 21 de abril de 2012

Amigos (rumo ao céu)

Sentamo-nos lado a lado, na condução, na sala de espera do consultório ou no banco da praça. Não importa, somos desconhecidos e como tais conversamos sobre trivialidades, coisas superficiais, cascas de feridas. Não somos amigos e por isso não sabemos para onde estamos indo, de que estamos doentes ou quem esperamos naquele calor do meio da tarde.

Conversamos sobre cascas de feridas e não sobre como elas estão ali, sendo remediadas. Não sabemos como surgiu, entre os olhos e o coração, um machucado que está custando tanto a sarar. Não temos ideia de como a felicidade esteve presente na ânsia de (re)encontrar a pessoa que está quase a chegar e que, enquanto não chega, vamos tagarelando sobre a corrupção, a baixa dos juros, a criminalidade.

Os amigos, são poucos. Por que? Porque vamos aprendendo que a exposição de nossos pensamentos e nossos quereres não tomam a forma que têm com toda a gente. Amigo é afinidade, é a palavra dura no momento certo, é a verdade crua, sem tempero, falada ao pé do ouvido. Amigo é o consolo silencioso nas horas de dor e ausência.

Amigos nos habilitam no caminho para o céu. Mário Quintana diz que 'esses que puxam conversa sobre se chove ou não chove - não poderão ir para o céu! Lá faz sempre bom tempo'. E fico pensando em quantas vezes comentei, convenientemente, sobre as condições climáticas. Salve os meus amigos! E os amigos dos meus amigos! Em silêncio, lado a lado, sem constrangimento, como ficam os amigos horas a fio - numa espécie de comunicação telepática.


sexta-feira, 20 de abril de 2012

Olhos exatos e abstratos

Não pude deixar de perceber
as finas linhas ao redor dos meus olhos
e as suas mãos ao redor do meu corpo.
Fui caminhando naquela estrada larga
que alvissareira se derramou em estreitas passarelas
para aproximar-nos, nós dois.
Embaixo da árvore deixei minhas angústias
e levei, do lado esquerdo, todas as minhas dúvidas.
Sombras, folguedos, rosas do jardim alheio
Sou lagarta de fogo e borboleta
Metamorfose que poucos vêem.
As finas linhas, os finos tratos,
Meus olhos exatos e abstratos.
No retrato, eu, a menina
No caminho, eu, vento nos cabelos
No espelho, paralelos de mim.

Foto de http://www.1000dias.com

Ditados populares

E eu irei acrescentando os ditados que meus amigos e a parentada forem mandando:

Pelos santos, se beijam os altares.
Quem anda pela cabeça dos outros é piolho.
Quem espera sempre alcança.
Quem muito desdenha, quer comprar.
Devagar se vai ao longe.
Quem pode, pode. Quem não pode se sacode.
O apressado come cru.
Casa de ferreiro, espeto de pau.
Devagar com o andor que o santo é de barro.
A César o que é de César.
Para bom entendedor, meia palavra basta.
A corda sempre arrebenta do lado mais fraco.
A concha é que sabe o calor da panela.
A mentira tem pernas curtas.
Cachorro que muito anda, pega rabujo.
A justiça tarda mas não falta.
A fome é o tempero da comida.
A pressa é inimiga da perfeição.
A união faz a força.
Amigos: amigos. Negócios à parte.
Amarra-se o burro onde o dono manda.
Em terra de cegos, quem tem um olho é rei.
Águas passadas não movem moinhos.
As rosas caem, os espinhos ficam.
Após a tempestade vem a bonança.
Quem não pode com o pote não bota a rodilha na cabeça.
Burro velho não aprende.
Cada cabeça um mundo.
Cada macaco no seu galho.
Coisa muito oferecida, ou está podre ou ardida.
Cada louco com a sua mania.
Cada qual que puxe a brasa para a sua sardinha.
Quem cria a fama, deita na cama.
Cão que ladra, não morde.
De pequenino é que se torce o pepino.
De grão em grão, a galinha enche o papo.
Onde há fumaça, há fogo.
Em boca fechada não entra mosquito.
Em briga de marido e mulher não se mete a colher.
Não tenhas fala de cordeiro e coração de lobo.
Pau que nasce torto, morre torto.
Cavalo dado não se olha os dentes.
Focinho de porco não é tomada.
Em terra dos outros, boi é vaca.
Um homem prevenido, vale por dois.
Se conselho fosse bom não se dava, vendia-se.
Formiga quando quer voar cria asas.
Quem se acompanha de morcego dorme de cabeça para baixo.
Dize-me com quem andas e eu te direi quem és.
Quem anda com porcos come lavagem.
Antes só do que mal acompanhado.
Sério que só cachorro em carga alta.
Cara de cachorro que caiu da mudança.
Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.
Não adianta chorar o leite derramado.



quinta-feira, 19 de abril de 2012

Desaprendiz

O que é que eu faço com as palavras que não sabem caminhar
do cérebro até a boca
e com esse abraço que morre antes que eu levante os braços?
Faço distantes as coisas próximas
e bem perto, sofro as suas ausências.
Desde sempre há uma barreira
e meus olhos não a transpõe.
Fim de noite ensimesmado.

Imagem de: luizaalvesoliveira.blogspot.com.br

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Morte encomendada

Hoje estávamos conversando no terraço da casa da minha mãe: eu, ela e minhas filhas. Noite quente de um verão que teima em se arrastar e devastar a plantação de milho do povo mais humilde, que só conta com a chuva derramada e que insiste em não se derramar.

Na calçada dessa rua, onde morei até casar e mudar para o pé-da-serra, tem todo tipo de transeunte: pedinte, velho, novo, criança de bicicleta, bêbado, doido, vizinhos, adolescentes indo ou voltando da escola, cachorro, gato e nesses últimos meses tem até vacas, cavalos e jumentinhos.

Pois bem, hoje chegou uma criatura que já tinha tomado um trago. O bafo dava para sentir de longe. Pobrezinho! Traição acaba com um homem, com seus brios, sua macheza... Contou que tinha uma namorada e que um homem tinha vindo até ele para dizer que não quisesse nada com aquela mulher, que ele já tinha ficado com ela e tinha feito 'tudo que queria', que ela era uma 'mulher da vida'.

Indignado, olhou para nós e disse: a senhora acha? Uma 'mulher da vida'. Ela não presta... E continuou relatando que um amigo tinha proposto escrever o nome dela e levar para fazer uma macumba, que ele desejava que ela levasse 'um pau' (uma surra bem dada). Perguntou-me o nome e qual era a minha religião.
Disse-lhe que eu era católica. Ele pensou por um segundo que talvez eu não iria aprovar a história do nome da moça na boca do sapo... Rapidamente ofertou-me a mão e perguntou: a senhora aperta a minha mão? Eu apertei (uma mão encaliçada de grude!). E ele, para não perder a deixa, segurando-me e olhando fixamente para o meu rosto, disse: - a senhora me ajuda? Fui saindo em direção ao carro e disse-lhe: Vai com Deus! Ele, já com o saco às costas, seguiu-me: - a senhora me ajuda, né? Quando encontrar com ela já vai tirando "um fino".

Foi trupicando nos próprios pés. A cachaça para ajudar (?) a suportar tamanha traição. E eu quase me senti uma matadora, contratada para 'atropelar' a mulher que traiu e enlouqueceu aquele homem...

Foto de templantaqueviroubicho.blogspot.com.br

Mestra e aprendiz

Você aprende e apreende quase tudo que lhe é apresentado. Isto é um fato. Agora se você vai pôr em prática, aí já é um capítulo novo de um outro livro.

Na vida há quem oriente, ensine, aponte, reposicione. Há coisas que são aprendidas pela dor, pela perda, pela cara quebrada, pela queda livre em direção ao vazio. E podemos até dizer que essas coisas são apreendidas, ficam presas nas nossas entranhas e servem como alerta nas situações adversas que teimam em se repetir.

Outras coisas são ensinadas no amor. São chatas e maçantes. São antiquadas. A maioria das vezes são relegadas e só resgatadas quando, mesmo que só intimamente, dizemos: bem que fulano me disse.

Se a caminhada é longa e vamos sair de chinelos, vem um andarilho e opina: se calçar um bom tênis a chance de se contundir será menor. Se há um trabalho extenso e importante vem um colega e diz: toma um café, alonga o espinhaço e começa de novo, oxigene as ideias. Se há uma atividade que ao seu término será vista por outros vem a mãe e diz a criança: faça bem feito, é a sua assinatura, é o retrato de sua personalidade impresso nos pequenos detalhes.

Se aprender é difícil, ensinar é uma missão penosa (e gratificante). Mestra e aprendiz. Eis-me aqui.

Plantas carnívoras

Prestem atenção
pois há pardais fazendo ninho nos seus beirais.
É verão já faz mais de seis meses
e embora peçam chuva, as criaturas de Deus,
recebem límpido céu de olhos anis.
Minha alma toca tambores e há flores
Oferendas para o ocaso.
As asas abertas riscando a paisagem, mergulhadas na imensidão
são passarinhos e minhas idéias.
Tomem cuidado
pois há pensamentos sendo plantados nas suas janelas.
É verão já faz uma vida toda
e embora pensem em dálias, plantas carnívoras podem brotar dos seus vasos.
Meus dedos escrevem versos de amores
sentem ventanias e pressupõem trovoadas.

Dália amarela. Foto de www.fotoplatforma.pl

terça-feira, 17 de abril de 2012

Varal no caminho

Se você me der a mão encontrará a minha
que sempre esteve estendida em sua direção.
Eu sou toda ouvidos para as suas palavras silentes
e toda abraços para seu corpo distante.
Nada é mais do que a sua própria essência
O violão sem as cordas é pedaço de madeira
As cordas sem o violão, um varal para as roupas.

Foto de Athelie Varal da Bruxa

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Espinhos sem pudor

Quando eu quis dizer nas entrelinhas
do novo que havia em mim
Descobri que tudo era antigo
Como o instinto de sobrevivência.
Nada de novo. Tudo já existe desde então.
Novidade são os olhos pasmos
Os ouvidos surpresos
As palavras desenhadas num guardanapo
- falando de um amor que consome o sono.
O antigo se faz novo
Como broto de semente
- que deveras sente todo saber milenar.
Nas paredes ou nas ruínas
nas pedras rudes ou lapidadas
- as estrelas assistem ao próximo capítulo,
enfadadas por ver, mais uma vez,
despetalada flor e espinhos sem pudor.

Foto por Elmário Ribeiro

domingo, 15 de abril de 2012

Divina Misericórdia

"Os filhos carecem de amor, especialmente quando não o merecem."
Harold S. Hulbert

Senhor de todas as coisas, neste segundo domingo de abril, em que comemoramos a festa da tua misericórdia, possamos nós agradecer por tão grande amor e derramar-nos aos teus pés, na esperança de que nosso coração seja conforme o teu. PELA TUA DOLOROSA PAIXÃO, TENDE MISERICÓRDIA DE NÓS E DO MUNDO INTEIRO.

Tende piedade de nós e dá-nos o teu olhar de misericórdia. Sabemos que como Tu ninguém nos ama. Jesus, nós confiamos em Vós!


sábado, 14 de abril de 2012

Abrir-me em flor



Sertanejo
Meu corpo.
Não revela a minha alma de flores.
Estou sempre na primavera
Ouvindo melodias
Abelhas, músicas raiadas nos caminhos.
Sertão não vejo
Pedras e espinhos.
Do lado, beija-flor
Ó silêncio das águas
Que corre por entre os veios
As veias que piso com meus pés
Nas estreitas veredas.
Límpido, distante, céu azul.
Sertanejas minhas mãos.
Juazeiro, umbu no chão
Cheiro de jasmim no fim da tarde
Lampião sobre a mesa
Lembrando que vem a noite
De mansinho, cobrindo as cercas.
Flauta, zabumba, compasso do meu coração.
Maria, minha mãe
Marias, minhas filhas
A bênção seu Padre!
Que hei de dormir um sono breve
Crepuscular
Já vem vindo o orvalho
Preciso abrir-me em flor.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Vendavais de palavras e passarinhos

As dores do mundo, sinto, golpeiam o ar
Em movimento o vento assanha o meu cabelo
Eu vejo a lâmina afiada que passa no tempo, lá fora
Aqui dentro é tudo tão lento...
As cores do mundo, vejo-as e suspiro
- que paletas usarei para pintar esse amor que já não sabe ser vermelho?
Os silêncios guardados nas gavetas
Falam de sementes plantadas sob as pedras
Sobre flores natimortas
Sobre vendavais de palavras e passarinhos.
Nas asas encantadas de estrelas (de)cadentes
Os sorrisos tristonhos de uma menina enrubescida
Há tanto a dizer e tanto a escutar
Mas ninguém, ninguém fala.

Pausa para viver

Estalo meus dedos e penso na vida
Breves e urgentes são os meus dias
Não porque eu queira
Mas eu deixo que sejam
Mesmo assim.
Uma pausa para viver
Se é que existe coisa assim
Enquanto medito, vivo uma vida diferente de mim?


quinta-feira, 12 de abril de 2012

Relógio na parede e camas vazias

Na parede da minha cozinha tem um relógio. Por esses dias ele resolveu não funcionar mais. Primeiro achei que era a pilha, troquei por uma já usada, que estava guardada na gaveta. Ele desenganchou o ponteiro dos segundos. Fui trabalhar e quando voltei ele já estava engasgado novamente. Coloquei uma pilha nova e mais uma vez ele girou seus ponteiros. Pensei: está resolvido o problema.

A parede está sem o relógio. Tenho que levá-lo para o conserto. Lá se encontra apenas o prego, na parede branca. E eu olho, invariavelmente, para o mesmo lugar, todas as vezes que penso em saber se falta muito para o horário da escola, se já está na hora de ir trabalhar, se eu tenho muito ou pouco tempo para escrever no blog.

E vem a correlação com a cama vazia (no meu quarto e no quarto das minhas filhas). Eu sei que estão vazias porque seus donos estão ausentes, mas meu subconsciente não esquece de olhar para os mesmos lugares e sentir-lhes a falta.

Neste momento faço um laço entre o relógio da cozinha e as camas vazias. Os lugares vazios estão repletos de lembranças e da minha necessidade de restaurá-los como antes. O relógio, vou comprar outro ou levar o antigo para a Relojoaria Omena. Os lugares na cama - fico riscando no calendário os dias que passam e contando os que faltam para que os donos venham desforrá-las.

Foto de www.grandesmensagens.com.br

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Mixórdia

Um dia claro, de céu azul, sem nuvens
Vejo-o e sinto deletéria saudade
que me consome as entranhas.
São parcas as palavras
quase todas dissolvidas no acre
lembrar de seus olhos,
de mim distantes.
Temo a pieguice do amor comum
- existirá amor sobrecomum nesse mundo de meu Deus?
A mixórdia de meus pensamentos nessas primeiras horas
desenhando num papel virtual
a silenciosa metamorfose a que me obriga essa saudade.

Imagem de http://autoestorvo.wordpress.com/2010/06/23/saudade-e-desconhecer/


terça-feira, 10 de abril de 2012

Tempo de saber

Um dia atrás do outro e uma noite no meio - o tempo.
Tem uma frase de Martha Medeiros, que diz que 'O tempo não cura tudo. Aliás, o tempo não cura nada, o tempo apenas tira o incurável do centro das atenções'.
Ele nos dá a oportunidade de sofrer uma dor que não queima mais, de sentir uma saudade que fura como faca, de esquecer-nos de como foi penoso partir, chegar, despedir-nos, abraçar-nos, chorar até soluçar. O tempo é aquele amigo que diz a verdade e o seu ouvido aprende pela chicotada desferida pelas palavras, no coração.
Tão finitos nesse corpo de pele e osso. Tão ciosos de tudo e tantas vezes cientes de nada. E a tudo isso assiste o tempo: cíclico, pragmático.
Um dia atrás do outro e uma noite no meio. Posso acreditar que não perco meu tempo - ele nunca chegou a me pertencer.  O desejo de compreender o pulsar do mundo não cabe no movimento circular do ponteiro dos segundos. Relógio na parede para lembrar que o tempo corre até mesmo quando brinca de estátua.
Ventania me leva e me traz mas leve.
À mesa, espero sem saber. Ouço bater à porta. Onde estão meus lápis de cores?
Preciso fazer um desenho de mim. Só não sei que cor usar para o tempo que está ao redor e dentro de mim.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

A lua da Ressurreição

Ontem, dia 08 de abril de 2012, Domingo de Páscoa. Não postei nada aqui, no meu blog, mas comecei pensando numa oração ao olhar para a linda lua ostentada num céu sem nuvens, nascida por detrás da serra.

Fiquei pensando que naquele primeiro domingo após a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, a lua devia estar tão bela quanto ontem e hoje fui procurar no Google e achei este texto "ASPECTOS CIENTÍFICOS DA MORTE DE JESUS".

Nele há menção sobre a fase da lua na crucifixão. Era lua cheia, de acordo com os cientistas. Como cada fase dura aproximadamente sete dias,  então, na ressurreição, cheia de um amor divino, a lua devia estar saudando a humanidade pela sua salvação.

Uma lua cheia de amor do Pai por seus filhos, redimidos na cruz através de seu Filho mais querido.

Tudo concorre para o bem. Jesus, manso e humilde de coração, fazei o meu coração semelhante ao Vosso!

Lua "Arcoverdense" - por Elmário Ribeiro

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Lenho da cruz

Meu coração derramado aos teus pés
- pés crucificados no lenho da cruz.
Minha vida enredada na tua
- promessa de ressurreição
Meus olhos postos no horizonte
Minhas mãos doadas a tua vontade.
Neste dia, todo tempo.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Senhor, Tu me lavas os pés?

Hoje, quinta-feira da Paixão. Jesus Cristo, louco de amor (apaixonado) por nós. Prestes a ser crucificado pela salvação de seu rebanho. Meditar a paixão e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo faz com que meus olhos marejem, como hoje na missa da instituição da eucaristia.

Sabendo Jesus da vontade do Pai, cumpriu fielmente, não sem sofrimento, toda dor que desde sempre sua divindade comunicara a seu corpo humano. Não afastou de si o cálice, não impediu que Judas o indicasse, nem fez calar a voz de abandono de Pedro. Carregou a cruz como homem chagado, humilhado e abandonado .

Despindo o templo de suas vestimentas, cobrindo as imagens com um manto roxo, silenciando os sinos. Vamos, nós, os seguidores contemporâneos do Cristo, rememorando ao mundo a passagem do amor mais sublime entre nós. Sua última ceia, com seus amigos, os apóstolos, narra o Evangelho. Lava-lhes os pés: o grande se faz pequeno, o mestre limpa-lhes a poeira do caminho, humilde e solícito.Gosto de acreditar que também Maria esteve por lá, ajudou-os a arrumar a mesa, preparou os pães, retirou-se para orar, pedir forças para suportar tudo que seu coração de mãe pressentia que ia acontecer.

Depois Jesus vai para o Horto das Oliveiras. Aflito, mas resoluto. Sei que ouviu o tilintar das trinta moedas de prata. Ouviu os passos firmes dos soldados. Podia ter fugido. Podia ter negado que era Jesus de Nazaré.

Como poderia ter feito isso se era todo palavras e amor?

Fracos e pecadores. Os discípulos, o povo que o aclamou no domingo anterior, em sua chegada a Jerusalém. Nós, que gritamos 'crucifica-o, crucifica-o'. Sim, nós gritamos como aquela multidão diante de Pilatos. E eu, na minha maturidade meditativa, junto-me aos paroquianos, e constrangida falo as palavras que soltaram Barrabás e abriram os braços de Jesus. E penso naqueles olhos divinos, misericordiosos com aquela gente de pouca fé, com essa gente, de hoje em dia, sem fé.

Cega e pequena que sou, brado: Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim! (Lucas 18,39)

Foto de amecristo.com

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Por-do-sol. Viva alma.

Nasci para adorar ao Senhor de todas as coisas:
Filha de Deus, minha alma tem saudade Dele
E por isso, eu creio, que para Ele voltarei.
Eu, na minha pequenez, fui feita à imagem e semelhança
Daquele que me concedeu ser perfeita
- ainda que eu seja tão imperfeita.
Os mistérios da criação e suas cores
A beleza da misericórdia.
Por tudo demos graças.
Por esse dia e pelo por-do-sol de ontem
Pelos amigos e pela chuva de hoje
Por a família e a redenção da ovelha perdida
Por tudo demos graças e peçamos o dom da fidelidade.

A Barriguda (árvore do gênero Ceiba) - e por-do-sol, em Arcoverde(PE), por Elmário Ribeiro

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Flor do sertão

Sou flor brotada no sertão
Cheirosa como o jasmineiro do quintal
delicada como as angélicas do vaso disposto na sala
Dou-me a revelar a poucos jardineiros
enquanto vêm me visitar os sabiás, os beija-flores,
as poucas borboletas dessa cidade de portas.
Exótica, forjada no espinho da vida
- que no fim é caminho e nascedouro.
Sou flor de beleza ímpar
de amores pares.
Desabrochada de tempos em tempos
em estações ritmadas pelo pulsar do mundo.



domingo, 1 de abril de 2012

Domingo de Ramos

Saudar a entrada de Jesus
Não em Jerusalém, mas em nossas vidas.
Estender-lhe mantos e mãos
No Domingo de Ramos e em todo tempo.
Senhor de tudo quanto há.