sábado, 5 de outubro de 2019

O amor é custoso

Todo amor é custoso. Se não nos custa tempo, custa-nos as suas próprias demoras.

Vejamos bem: custoso. Não, doloroso.

Custa-nos conquistá-lo, mantê-lo, recriá-lo. Não amamos se não conhecemos, se não nos doamos. Se não esperamos um pouco para ter a rosa, restar-nos-ão apenas os espinhos.

Amor é semente amadurecida. Debaixo da terra existe somente a promessa do dia de primavera. É preciso maturar. É preciso deixar brotar.

Entre as mãos dadas e os pés cansados é que se encontram os olhos alvissareiros. Não há brotos sem sementes e vontade.

Não há amor sem paciência. É de todo dia. E todo dia tem que ter um pouquinho. De paciência. E de amor. E de bondade. E sempre, de vontade.

O amor é tudo que se disse sobre ele. E ainda tudo que fica entre as linhas. É todo bem querer. E esse silêncio que invade.

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Estrelas cantam pro sol nascer

Há uma centelha
Há uma passagem
Um cheiro de eternidade ao olhar para o relógio
Há uma parede onde estão as fotos passadas
Há paisagens nos olhos que se admiram na janela

No amiudar do dia
O crescer das estrelas
- cantam para nascer o sol

Há vida
Para seguir, basta.

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Sobre amor e caminhos


Há um amor que habita ao redor e além de mim
É um broto em dias de verão
É uma luz nos dias de solidão
Repousa macio, tua mão na minha mão
Faz, de repente, que eu faça o que não sei
E rime os finais das frases
E invente receitas que lhe arranquem apenas o silêncio

No espelho, segurando o coração de papel entre as mãos, sem saber como amar, uma menina
Na suavidade de olhar pelo retrovisor, a moça
Na maturidade de descobrir-se planta podada, a mulher
Há um amor que habita profunda e profusamente em mim

É solidão e companhia
É sorriso e sisudez
É ponto final e muitas reticências

Inspiro. Ar de mar. Instante.
Do que sou feita e sobre o que me falta
Eu não entendo
Ninguém vê

Pela noite adentro
Pelo dia afora
Amor.


quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Vazante

Na cerca
O limite
Admite
Muito mundo para pouca ocasião

A mulher era uma menina
Que não sabia lidar
Com os desanuviados daquele céu
Azul e distante das suas raízes

Tinha um mar dentro do seu coração
Pisava em terra de aluvião
Enchente do seu peito
Fora das margens das horas

Era tarde
O adiantar da noite
Despertava suas papilas

A cerca. 
A brisa.
Seus pés finos e calçados.

Delimita o chão
A cerca

O que possue 
Em compasso
Em descompasso
Seu coração.

Muito mundo para pouca ocasião

terça-feira, 20 de agosto de 2019

O caminho


O caminho de casa
Não é o mesmo para casa
No mesmo paralelepípedo
Flutuo e tropeço
Vou de filha
Vou de mãe
Vou sozinha
Vou povoada
Pacientemente o tempo passa
(Ou ele fica e quem passa sou eu?)

Há palavras nos muros
Há palavras nos passos
Há silêncios nos olhos
Há silêncios no mundo

Lindezas de precipícios diários
Vistos com frio nas pernas
E coragem no coração

O caminho de casa
Não é um caminho

É a vontade.

quinta-feira, 25 de julho de 2019

Maravilhas de Deus


Desperta, tu que dormes

O amor pulsa desde o princípio por ti

E não há noite que dure para sempre

Nem fardo que sua misericórdia não ajude a conduzir

Escuta: no horizonte fremita a luz que aquece a humanidade inteira

O Sol da vida eterna

Na eternidade reside a promessa que vivemos já agora

Eu sei. Sinto. Creio.

É amor demais derramado pelos dias inteiros.

Reflexo. Somos reflexo.

Maravilhas de Deus.


domingo, 2 de junho de 2019

A madrugada e o dia

É de madrugada
O dia está guardado para adentrar pela janela
Dentro de mim pulsam as ânsias de não saber como resolver as dores que se esparramam pelos bancos das praças e seus canteiros
Tudo é paixão para o violeiro
Tudo é desgraça para o coveiro
Tem bolo para o café
Mas não há resposta para a pergunta sincera que nasce da vida frutificada entre as ervas ditas daninhas.
Na madrugada toda a escuridão canta uma canção de ninar: é preciso dormir.
Ao silêncio às promessas de ser feliz, de ser capaz de sonhar.
O dia vai adentrar pela janela:
Com a força e o vigor do novo




sábado, 16 de fevereiro de 2019

Ânsia pelo caminho

Menina. Mulher. Queria o tempo como aliado. Não o sabia fugitivo. Sua ânsia fez aquela noite chorar. Pelas esquinas por onde passaram aquelas águas já caminharam seus pés. Era somente uma menina. O tempo insistia em fazê-la senhora da sua vida. Nunca quis entardecer. Seus olhos eram auroras. Os pássaros por companheiros. Adeus às asas do tempo!!

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

A ponte

Parece fácil.
Parece difícil.
A lida da dor
A despedida da vida
No ar o cheiro das saudades graúdas
E das miúdas ausências

Nada nos pertence
Nada é nosso
Com exceção da efemeridade das letras e dos pensamentos
Uma lacuna entre as palavras, entre as frases, entre as músicas, entre os intervalos: no fim a promessa do começo.

O que ressoa. O que retine.
Apesar da morte, a vida.