domingo, 22 de dezembro de 2013

Reticências

sou toda reticências
a efemeridade dos dias que se dispõem no meu respirar
três pontos
as pontes
as fontes
os fatos
nas tardes nada há de tácito
além da proximidade da noite
derramar-me miúda
na grandeza das coisas
sou a vírgula
que ponho nos suspirares
nunca ponto final
nunca encontro o final.

sábado, 14 de dezembro de 2013

Quebra-cabeça

Acho que me encaixo
no teu peito
nas tuas sombras
na tua luz
acalento
olhos afagantes
respiração ofegante
sol sobre os meus musgos
palavrinhas com céus gigantescos
Acho que te encontro
miúda, tão pequena,
na tua calma.
Universo todo em digitais
no meu dorso

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Ser(tão) lindo

Eu, do sertão, terra seca
coração abrasado de tanto amor
que não me cabe nos olhos
e se espalha no adormecer do sol.
As sanfonas todas cantam
pelo amanhecer das cercanias
por entre as palmas e boiadas.
Eu sertaneja
de espinhos
de passarinhos em ninhos nas algarobas
fico aqui no aceiro do terreiro
a espreitar a lua branca
que escuta os segredos do alvorecer.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Cedinho

Acordemos antes do sol raiar
abramos nossa alma antes que nossas pálpebras
porque toda verdade reside
em saber
que antes de sermos nós
não estamos sós.

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quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Verão

Se meu coração acorda
cheio de notas,
eu, caixinha de música,
divago cantarolando marchinhas sob esse céu anil
onde Pedro, com as chaves na cintura,
soprou para longe todas as nuvens.

Tenho segredos guardados em paz
e amores alvejados pelos abraços e solidões.

É dezembro.
O calor do dia
guardado nas portas e carros
estão em meu peito
(declamando estradas e planos).

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Resposta a Zé (Ramalho)

Há muito mais que violetas velhas
há amores guardados em abraços escondidos
e uma lua do outro lado da rua
bordados em mãos enrugadas
um resto de perfume nos frascos encostados no fundo do guarda-roupa
há suspiros rotos
estradas de passos estreitos
vielas de segredos largos
Nos jardins há promessas de sombra
nas sementes adormecidas
vontades de céu
em viventes terrestres.
Há guizos, sol invernoso de fim de tarde
Há espaços. Há soluços. Há felicidades.
E um colibri.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Aurora florida

A espreitar por entre as folhas
pétalas e luz
nos olhos incandesciam
pequenas órbitas.
De que cores pintam os céus
os arcanjos que me depositam flores?

Amanhece todo tempo no jardim da minha vida.


Pela janela

Chegue para cá
espie pela janela
Diga para mim que é de esperança
o barulho nos paralelepípedos
Preciso de um abraço
de uma cartinha pelo correio
das coisas antigas que cabem nos frascos de lavanda.
Um espaço que cabe o mundo inteiro
Vem, segura minha mão
olha em meus olhos ora tristes.
Meu coração é passageiro.
Chegue para cá
e faça-me companhia.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Brechas

As saudades que moram em mim
são de uma urgência sem fim
querem transformar-se em abraços
em flores, em abelhas,
em peregrinos, em oração.
São brechas, meu olhos, 
espiando muito além...

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Amor e clorofila

deixa que eu te fale desse amor
que me escancara dentes e peito
fortaleza sem paredes
remanso de águas claras
farfalhar de folhas ao vento
sem meia luz
sem meio termo:
ele entrou pelo jardim
contou segredos
pintou de rosa as rosas dos cantos
pôs cheiro de aurora nas telhas 
cantou junto com os pássaros nos beirais
e eu remoço quando suspiro
como plantinha que se enrosca
nas treliças dos poemas eruditamente apaixonados.

há caminhos que irei
-não sem segurar-te as mãos.

Hiato

os meninos cantavam, sorrindo, na esquina
era noite de novembro
ouvi aqueles versos
e, triste, lembrei da minha meninice ida
uma tristeza cheia de saudade
do cheiro do meu avô
dos abraços apertados do meu pai
das canjicas bem mexidas da minha mãe
(a melodia da vida
onde cada um executa um instrumento)
penduradas no meu varal
as brincadeiras no meio da rua
o feijão cheiroso da minha avó
os passeios de carro com a minha tia.

na verdade
não sinto tristeza
sinto muita saudade
de tudo quanto inflou meus olhos
e fez de mim essa mulher.

saudade da minha infância
cheia de goiabas, pinhas e siriguelas
de bolas e brincadeiras de roda
da menina que acreditava
(mais veementemente)
na natureza boa de todas as pessoas.


terça-feira, 12 de novembro de 2013

Entrelinhas

Trouxe meu peito aberto
cheio de desejo de ser feliz
segurando tuas mãos.
Coisa simplória de dizer
como raios de sol que tocam
a escuridão da madrugada.
Ofereço meus cheiros
de jasmim, de rosas,
das pequenas flores de limoeiro,
meus espaços vazios
minhas palavras reverberadas
em poemas de amor intenso.
Nas entrelinhas, ouça,
minhas visões de eternidade,
sinta, meu coração sobressaltado
apenas por saber de si.
Sua até o fim.

Janela das horas

Desejava janelas
Sim, janelas de onde pudesse avistar o horizonte sem fim
Por elas sairiam seus olhos
nelas debruçaria seu corpo
seus seios ávidos de cor.
Não queria portas
de largas passagens
sem o encanto do peitoril
Queria demorar-se em contar passarinhos
e escutar-lhes confessar segredos de árvore.
Eram as cores das horas
o encanto da observação
Era isso que desejava das janelas
que de longe acenavam.
A urgência do dia que adentrava pela porta
empurrou-a por seus ponteiros.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

De olhos fechados e coração aberto

Mais e menos
café e chá
biscoito e bolacha
sombra e luz

Amor em saquinhos de pipoca
adocicado como jujuba
e abraços no cinema

Pusemos as mãos uníssonas
nos caminhos que percorremos
de pés descalços e som alto
corremos sobre as pedras e seixos redondinhos

Miúdas e brilhantes
branca e majestosa
uma era estrela dalva
as outras eram luas caleidoscópicas

O vento do mês de novembro
soprava manso pela porta
do meu lado um mundo inteiro
insistia em sair pelos meus dedos.

domingo, 10 de novembro de 2013

Crescente

No céu sorrindo
sorriso de lábios grossos
a lua imprime nos meus olhos
a vontade de continua a fitá-la.

Amor meu
entranhado no meu corpo,
aninhado como gato de armazém.

Promessas de luz
de lua
de abraços e pequenas entregas

A noite tem desses mistérios
que revelo ao olhar pela janela.
Esse cheiro de escuro
me dá vontade de abraçar.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

(Re)encontro

Ah, que parte de mim esqueci
quando cruzei com teu olhos?
No meu peito
há muito mais do que um coração,
cabe um mundo inteiro
cheio dos teus cheiros,
de tuas mãos.
Ao ver-te, em meu braços,
encontro o que esquecida
deixei em ti,
dias de luz
como passarinhos em beirais,
alçando voos.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Minhas escolhas

Eu escolho acreditar que posso ser melhor
ainda que não esteja fazendo do modo certo
que tenha abraçado menos do que queria
menos do que deveria.
Escolho ter um quintal grande e uma casa pequena
comprar livros no lugar de sapatos
ter amigos suficientes e paz de espírito.
Viro para o lado
e prefiro café forte e amargo
palavras poucas
e mais atitudes.
Caminho olhando as nuvens
e gosto mais de dias ensolarados
e menos de dias chuvosos e nublados
sem desfazer-me da graça de saber que Deus escolhe como o dia vai nascer.
Lambo minhas feridas
e macero ideias antes de revelá-las
Eu escolho amar todo dia os olhos que me encantam
por somente fitar-me
Eu escolho a simplicidade
e devo lembrar-me de que nas tribulações o mais fácil
é parar, rezar e seguir.
Eu escolhi ser mãe
decidi continuar sendo filha
e nesse caminho enlaço e desenlaço
sendo aprendiz e mestre.
Eu escolho ter fé,
ser feliz, andar a pé.
Escolho miudezas - engrandecem minha alma!

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Descoberta

Todo pensamento é passarinho
há dias em que liberto colibris
noutros apenas um beija-flor
por dentro de mim
pintassilgos, cardeais, corujas,
gaviões, galinhas d'água.

Tendo tantas asas
resta-me gritar ao vento:
voa pensamento!

Decisão

Ficou pensando se amar não era uma questão de atitude, de querer mesmo.
Lembrou quantas vezes tinha decidido continuar amando e a contagem já não mais cabia nos dedos da mão. E não, não havia sido renúncia. Todas as pessoas que decidiu continuar amando foram escolhas.
De repente descobriu que amadurecera. Já podia falar das dores sem desmanchar-se, já sabia lidar com o desconforto de olhar nos olhos que foram facas, sem se cortar.

Por um momento desejou não ter tantas marcas, não ter tantas cicatrizes. Bobagem. Era a certeza da sua evolução. Engatou a primeira marcha, saiu lentamente rumo à respiração do mundo.

Amar era sim uma questão de atitude. E era isso que ela queria: continuar amando.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

O segredo da lua

Dentro da lua um homem,
um cavalo,
um dragão.
Ponhamos ordem na lua!
Limpem essas patinhas
arrodeiem para o outro lado
é hora do jantar.
Lua minguante
e a cozinheira põe a sopa na mesa.

Remendando

Como se conserta um coração?
- perguntou, olhando-se no espelho, a menina de vestido florido.
Tornou-se mulher e ainda procura a cola, a linha, a agulha...

Essência

Surgiam de par em par
olhos e mãos
a lapidar palavras
a derramarem-se no leito aberto
pelos ritmados corações.
Eram segredos e melodias
eram desvelos, abraços simples
luz de estrelas no céu das bocas.
Ressurgiam nas madrugadas
reencontravam-se nas calçadas
nas mensagens de poucas letras.
Como taça de vinho
como talha de água
irmanados na essência.
Surgiam de par em par
- o plano era como rio que vai ao mar:
no final
não era o fim
era recomeço cerúleo das nuvens que os habitava.

Tão breve

Tão breve!
Quero apenas as coisas simples
Que não dão nós nos pensamentos
Que já moram em mim
Centelhas, flores,
Tardes sentadas no chão
Vendo o sol se pôr entre os galhos da algaroba
Tão breve!
a vida passa...
Dez, vinte,
de repente quarenta e um
E a noite já engole mais esse dia.
A promessa de eternidade
quando pó voltarei a ser
pó cósmico, universal.
Poeirinha de Deus.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Urgência

Olho rapidamente
pelas janelas da vida
abertas ao meu redor
Aceleradamente
como criança descendo ladeira
descubro o mistério
de ser passageira
ou condutora.
Meu corpo pede calma
minha alma pede água
meu pés, sem descanso,
oferecem calos.

Despeço-me desse devaneio
no meio da tarde
A hora avança
os ponteiros trepidantes
apontam para fora.

Adeus às janelas
o mundo me aguarda
à soleira da porta.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Falando

Do amor
pequenino
brotado dos teus olhos nos meus
derramou-se nos meus seios
lavanda perfumada

Eu me entrego
disponho minhas mãos
ao largo das tuas
quase desfaleço
nos coloridos abraços
em que abraço teu corpo.

Não ouço, seu moço,
outra voz que não a do amor.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Desejos nascituros

Queria uma parede para pintar
uma janela para se debruçar
um cadafalso para expor as ideias inertes
havia dentro do peito
cadeados sem chaves
e chaves que não lhe pertenciam
- dependuradas sozinhas, lado a lado.
Um momento apenas
um brilho fugaz
intervalo entre chegar e partir.
Queria sapatos confortáveis
(saindo do ventre)
a caminhada, prometeram,
seria longa.

domingo, 13 de outubro de 2013

Árvore

as flores moravam dentro de si
ela, uma menina
com cheiro de bogarim
seus passos miúdos
e apressados
não cabiam no caminho
lua, luz, estrela, jardim
plantava sementes
que germinavam no inverno
e brotavam de seus olhos claros

suas folhas eram pautadas
eram de seda
eram pintadas

raízes profundas
era o que desejava.

sábado, 12 de outubro de 2013

Classe

é que de repente
tornei-me vento
substantivo mesmo
querendo adjetivar essa noite
dentro dos teus olhos miúdos
o espanto é sempre ser verbo
(não a ventania do fim de setembro)
desvendar
descerrar
derramar
ajuntar
segredar
neste instante sou respiro
sou suspiro
sou a estrela
substantivada pelo verbo amar
sou amor.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Revelação

Ouço a noite
Em seu silêncio há os olhos de Deus
É Nele que quero repousar.

Endereço da imagem

Nós

Éramos nós
juntos num laço.
Fitas de muitas cores
em laços de vestidos
e flores no cabelo.
Não éramos mais sós.


segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Conversando com Quintana, parte 1

"Amar é mudar a alma de casa"
Mário Quintana

E me despedi
Larguei minha velhas coisas novas
(ora, eu só tinha vinte anos!)
Mudei-me para tua barba,
tuas mãos largas,
teus silêncios ao meu lado.
Amei teus olhos profundos
de céu de abril.
Nova casa. Velho amor
(esse que tenho por ti)
traçado em nossa história.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Real

o amor sobrenatural, perfeito, com sininhos tocando a cada beijo.
não. eu não encontrei.
vivo um amor de biquíni e cachecol
quando está frio ele me esquenta
quando está quente esguicha água fria nas minhas costas
como crianças brincando na semana que antecede o carnaval.
um dia enroscamos nossas almas
noutra noite deitamos tranquilos na rede
damo-nos as mãos
e adormecemos.
já plantamos árvores e hortaliças
e arrancamos dores que subjugavam nossos abraços.
tivemos (e teremos)
dias de sol
de muitas nuvens e dúvidas.
pudemos experimentar ser barco e mar
teia, aranha e mosca
reproduzimos, exterminamos, dividimos e multiplicamos.
eu prometi amor eterno
ele aceitou.
entre as palavras e os lençóis
brotamos, prometemos
justificamos nossa aliança.
pelo caminho de luz observamos
pelas trevas do caminho nos abraçamos.
amor natural
como curso do rio
nosso destino é (a)mar.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

A descoberta

enchi o odre
o coração
o vaso
preenchi formulários
respondi indagações
cantei cantigas de ninar
acordei o sol com a insônia da madrugada
todos
todos os verbos
que aprendi
usei para falar desse vazio
que é a ausência dos teus olhos
(descobri, insana, apaixonada, amadurecida
que há vazios
onde a tua presença se faz saudade).

Como um anjo

o mundo precisa de mim
no exato momento
em que passo
distante de si
do desalento
dos querubins decaídos
nas acácias da avenida

sopra a brisa leve
e carinhosa
que varre os papéis das propagandas
de eletrodomésticos

eu preciso ficar muda
no caminho que segue meu coração
pés descalços
muros altos
tudo tão perto
e tão distante
do paraíso dos bolsos vazios
das folhas desenhadas com giz de cera.

cuida de mim
cuidado comigo.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Seu Chico da Sapataria Chic

naquela tarde 
as mãos que arguiam
números
entre a fumaça dos cigarros
e os sapatos
decidiram segurar em outras

não era fácil
era o caminho depois da curva
e ele tinha que partir

dia de nossa senhora
festa do livramento

apressou-se
tinha hora marcada no céu
bolo e guaraná
na sua chegada

nós?
ficamos aqui
olhando
rezando
acreditando no encontro
dele com o Pai
com o Filho
com o Espírito Santo
(quem arrumou a mesa foi a menina Maria).


Por aqui tem amor

nos bolsos
nas linhas 
na folha em branco
nos lençóis amarrotados
nas rugas do final de setembro
nos planejamentos
nas surpresas

derramado
ajuntado
descabido
desarmado
sem pretensão
com intenção

o amor

aguardando
indo
voltando

o amor
nas minhas mãos
no meu corpo 

o amor
e eu
com destino (in)certo

é noite
aguardamos
eu e o amor
ouvir quem nos receberá.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Flores para nosso amor

Ele me trazia flores
e passava seus dedos ásperos
no dorso da minha mão
Não havia planos
no universo inteiro
eram aquelas promessas 
cheirosas que derretiam minha alma.
Nos canteiros 
as meninas dos meus olhos
diziam felizes
dos infinitos ao nosso redor.


quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Direção

E pensei em partir
dividir
sugerir nunca mais
encontrarem-se teu peito e o meu.
Mas tanto doeu.

Olhei nossas mãos
eram sementes
e a bem da verdade
dentro de mim
ardia o mesmo amor de sempre.

Deitei do teu lado
respiração tranquila
braços ao redor da minha inquietude

E pensei mudar de ideia

Inspirei teu cheiro de banho tomado

E decidi ficar
abraçar
sugerir nunca mais
afastarem-se teu peito e o meu.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Mutação

Ah! Eu quero sentir esse amor
que me abre os olhos
para ver estrelas
Quero mãos e boca
plenas e intuitivas
para semear
como semeiam pássaros e abelhas.

O fim é certo
a vida é breve
ao fim a brevidade da urgência.

Ah! Eu quero
eu quero ser a menina da janela
a menina que aninha
a menina que se descabela
a menina que espera
a menina que sugere
e se veste de mulher.
A mulher que almeja ser ouro e prata
e que se derrama no leito
dos rios que correm em tuas pálpebras.

Amor perfumado.
Nossa aliança de ser para sempre - mesmo que acabe.

Recorrência

recorrência
os olhos de Maria
passeavam sobre a seca
paisagem do sertão
seu coração
macio e perfumado
debruçado na janela
esmiuçando a quentura
do começo da noite
mais dúvidas que certezas
mais cores que durezas
menos pássaros com que se empalhar
e se admirar naquelas horas
Maria sabia das agruras
como sabia dos ninhos
nos galhos ressequidos.
eram verdes seus olhos
eram mansidão seus passos
foram escondidas suas asas
e por isso insistia em escrever tantas palavras.
caiu a noite
pelo terreiro
- dentro do peito amanhecia uma saudade que não dormia.


Verdades

Poucas palavras
muita observação
Um coração que se mantém tranquilo
agradece essa combinação de olhos e silêncios.

Agora mesmo
bateu uma vontade louca
de dizer verdades

Para o outro lado
seriam bobagens.

Melhor deixar para depois
depois do sol poente
depois do café quente
do soluçar escondido da noite

Um novo dia traz na aurora
a reboque da madrugada fria
novas ideias
(e pela janela eu observo acontecer
aquilo que eu ia dizer)

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Amor. De luz.

Entardeceríamos abraçados
na cumplicidade
de quem já sabe dos dias e das noites.

O amor continuaria segredo
decifrável
vez em quando
arrulhado como canto de passarinho.

Sempre tínhamos promessas de montinhos
montinhos de encontros
de reencontros
de ninhos
de jardins.

Nossas almas eram promessas

O vento varreu nossa varanda
nossas vidas
- não levou embora as tristezas -
enredou em nossas faces
sulcos de luz.

Horas e pensamentos

Falam
calam
mixórdias
vario o pensamento
a mesma
a mesma tão diferente
vária
miosótis nos projetos de janela
borboletas nos resquícios de jardins
Danças
e tambores
amores
os abraços todos dados em letras entrelaçadas
nas cartinhas
nos poeminhas.
Ouço o dia
seu sol nascente no meu peito
tudo
tudo sou eu
que determino
que termino
e recomeço
Adiante
meus pés a caminhar no horizonte.
Falam
calam
as horas e o tempo
(segredos que se revelam em minhas têmporas)

Felicidade sem fim

Ah!
A felicidade de miudezas
felicidade de água fria no calor
e cobertor na friagem
maravilha de mãos se encontrando
de dores cessando
de flores brotando

A felicidade de miudezas
que adentra os poros
e foge pelos olhos.

É a felicidade que desejo
que escrevo
que desenho com gravetos
que guardo
e distribuo.

Amanhece o dia
anoitece a noite
fiando e tecendo
um manto que não tem tamanho
No oco do mundo
a felicidade sem fim.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Gasturinha

é uma coisa que me dá
uma gastura gostosa dentro do peito
e eu só penso em você
em ouvir o ronco do motor
antes de sentir seu beijo
dizendo eu cheguei

a gente se reencontra todo dia
mas na verdade
eu não deixo você ir
dentro dos meus olhos
lá no fundo
carrego suas mãos que se enlaçam
nos meus dedos
e os seus silêncios
que me dizem que está tudo bem.

é uma coisa que me dá
e eu recebo
porque é bom saber
que vem de você.

Crença

Aos que me fazem mal
desejo todo bem
Acredito que assim
esqueçam de mim
e consigam ser felizes
sem tentar impedir 
a minha alegria.
Sim, a minha alegria
porque a minha felicidade
é da certeza de que nasci para brilhar
- não o brilho passageiro dos holofotes,
o brilho de quem foi feita com arte
e perfeição.
Sou filha do Deus vivo.

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segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Pequena e cadente

Querendo falar sobre coisas
bonitas e estranhas
Lembrei que amar
como rio desaguando no mar
é pequena imensidão.

A referência de grande
é ter um menor por perto de si
Estrela cadente
no céu de minha boca 
tão minúscula
que vai fazer cócegas na sua alma.

Abre os braços
abre bem os braços
que eu estou chegando
para cumprir a parte
que me cabe 
na história
do para sempre.

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sábado, 31 de agosto de 2013

Desse jeito

Não sabemos fazer música
sabemos fazer amor
amor com jeito de fogueira
com cheiro de alecrim.

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Temp(o)estade

Choveu
uma tempestade
de céu cinza
no meio de nós.
Ficou frio
ficamos estranhos
cada qual num canto
eu querendo escutar seu canto
por entre os cantos do meu corpo.
Mais uma estação.
Choveu
para limpar o céu
para fortalecer as raízes
Queimou
virou cinzas
aquela palavra que doeu.
Mais uma estação
- e brotou da antiga terra do amor
flores no peito e raízes no coração.

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sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Sentença

Eu já contei que era para sempre?
Sempre que eu sinto o teu cheiro
e acordo dentro dos teus braços.
Desde que escrevia poeminhas nos guardanapos dos restaurantes
até mesmo quando o que tu tinhas reservado para mim
eram sorrisos e até logo.

Era para sempre
essa ânsia de te encontrar no meio do dia.

Eu já contei que era para sempre.
Eu sei que vai ser para sempre.
Por isso
nasce o sol:
para sentenciar o nosso amor.

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quinta-feira, 29 de agosto de 2013

A flor sou eu

Eu te trouxe uma flor
Não são apenas pétalas e perfume

Estão nela nossos segredos
nossa cumplicidade
esses anos todos que nos sulcam o rosto
embranquecem nossos cabelos
nossos suspiros
nossos projetos
os entardeceres na rede
a cama em que deitamos nossos amores
os caminhos que trilhamos
os filhos que plantamos
as músicas que dançamos
os horizontes que alcançamos
os sonhos que deixamos para trás
Nessa flor a promessa de que somos para sempre
de que nossa aliança é muito mais do que um anel
de que, embora madura, vou ser tua menina
com as mãos estendidas
e o coração apaixonado por teus olhos sisudos.

Eu te trouxe uma flor.
São pétalas e perfume. Sou eu.


Mãos

Mãos
Juntas em oração
Postas em reflexão
Calejadas, produção
macias, mansidão

Em obras
juntando pedacinhos
remendando vidas
enviesando as trilhas
alargando os caminhos

Nas mãos: os olhos
(nos olhos o fim da solidão)
andam entrelaçados
colando estrelas nos cabelos das moças
recolhendo as flores do ipê na praça.

Nunca mais sozinhas
as mãos
dadas em comunhão.

Esperança

Os olhos cheios de esperança.
Não esquecera dos contratempos
dos ventos que sopraram contra.
Simplesmente a sua cor era verde
Eram suas preferências
as folhas, as águas
a esperança.
Os olhos marejados
fitavam além, sempre.
Era marcado o seu coração
- marcado para ser feliz.


segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Flores e frio

Algumas pessoas são flores na primavera
outras o vento frio do inverno.
As primaveris deixam de ser flor
e passam a ser sementes
doam-se à terra
como pétalas que se misturam ao chão.
As invernais são capazes
de esfriar-nos a nuca
regelar-nos os passos
arrancar-nos todas as folhas.
Todas passam
passamos nós também
como estações.
Que a futilidade dos adornos
não nos façam esquecer para que viemos
e de que fomos feitos.
Pelos olhos seja a luz
pelas palavras (que não sejam vãs, nem vazias) a edificação do espírito.

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sábado, 24 de agosto de 2013

Inexperiente

O tempo adormece e desperta a semente
Ele, sábio
Eu, inexperiente

Neste momento
sinto o frio do final da estação
O tempo sabe como passar
Eu não sei o passo que vou dar.


Definição

Eu tenho um mundo guardado no meu coração
tenho verdades e dores expostas nos cantos dos olhos
Sou alegre e triste
disso sou formada
de alegrias e tristezas
das miudezas e retalhos alheios
das doçuras e agruras dos caminhantes que encontro pelas sendas
de palavras não proferidas
de silêncios assustadores.
Eu sou um coração com pernas e braços
sou palpite e imaginação
sou a mulher que nasceu
a menina que mora no espelho
a mãe e a filha
a linha que costura pelos dias afora a mim mesma.
Eu sou essa que se vê
sou a ave escondida pelo meio dos poemas
sou a flor depositada no vaso
Eu sou a destemida
a mais temida
a desvalida
aquela que desenha com graveto na areia fina.
Sou eu. Essa que caminha.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Estranha

um momento para pensar
um momento, pára
pensar num momento
pensar, um momento.

ponto final
final. ponto.

hoje estou sem paciência para vírgulas, pontos e vírgulas, explicações. estou na urgência da decisão, a lua é cheia, eu estou cheia de muros, com vontade de dar murros. na marra, arrancar essas palavras, quebrar a cara, quebrar os pratos. surtar. uma louca que desconheço engoliu meu bom senso.

eu sei. eu sei. não parece eu mesma. e não é. é outra que me devora e me cospe em carocinhos. agora não sou a brisa leve. sou eu a ventania que assanha o chão seco e sopra em seus olhos, e vocifera que o dia vai raiar depois dessa noite fria.

inspira. respira. ai! palpitação! inspira. respira. rabisco com lápis comum, escrevo impropérios, desvio o foco. de novo: inspira. respira. expira.

um momento vai passar
um momento, vai passar
vai passar.

hora do jornal, hora do jantar. amar. adormecer. partir ou ficar? alma estranha essa minha.

um momento para pensar se vai passar.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Fome

Eu tenho fome
de palavras

Saem de mim
todos os dias
as letras
Saem pela boca
pelos dedos
- falo até pelos olhos.

A minha fome
é de respostas.

Por que tem que ser assim?
Uns tão perto
outros tão distantes de mim?

Falo pelos cotovelos
penso então que o mundo
deveria compreender que me doem os ossos.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Um conto - o início

Pequeníssima. Era assim que se sentia. Orbitando ao redor de si mesma sabendo que o próprio umbigo não ia resolver nada daquilo que a incomodava. Um solilóquio, deitada no sofá. Já era noite e a vontade que tinha era apenas macerar aquela ausência de palavras, extraí-las do silêncio.

Dentro de si, sentia, havia uma fera. Negava-se em alimentá-la mas ela insistia em arranhar sua memória. Bicho sem misericórdia esse tal de ciúme.

Um conto escrito sobre letras pontilhadas. Amor de folhetim. Não era isso que ela queria. Queria ser estimada e valorizada. Eram muitos os seus defeitos, era totalmente imperfeita, mas o amor, o seu amor! Ah! Era tão cheiroso e derramado pelos cantos da casa, pelos cantos do olhos. Como pôde ele achar graça em outra que não nela?

Dentro de si, urrava a fera. Uma xícara de café. Debruçou-se à janela. Inspirou a brisa da noite. Curativo. Veneno. Concentrou-se no horizonte. Talvez a força do tempo fosse maior que ânsia de dar um basta.

Pequena. Solitária. Observada pela lua, que já subia, alta. A fera escutava o tempo lá fora.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Vai passar

Uma hora passa
passa essa tristeza que mora nas tardes solitárias
passa do coração
para o papel
passa dos olhos
para a paisagem

Uma hora passa
uma
hora
há de passar

Comprar uma passagem
para um lugar
onde a noite seja a noite
e não caiba durante o dia
a escuridão
de dúvidas e abandonos.

Uma hora passa
essa hora chegará

Perfumar o dorso das mãos
escrever cartinhas de amor
guardar as dores para depois.

Uma hora passa
- sabemos que vai passar.

domingo, 18 de agosto de 2013

Pelas frestas

parou à porta
hesitou em bater
conseguia escutar seu coração saltitando nos pulsos
queria dizer das alegrias que sentiu
das saudades que consumiam a cor dos seus lábios
quase parou de respirar
na ânsia de conseguir ouvir aquela voz

as meninas dos olhos
eram moças agora
vestidas para o amor
cerrou-as

- o vento estava tão frio
abriu os olhos, o sol estava adormecendo
queria chamar pelo nome 
queria chamar seu bem querer
- dentro de si a noite da dúvida.

criou coragem
bateu suavemente

escutou o arrastado dos chinelos
o cheiro de banho tomado
- era tarde demais
antes que lhe abrissem a porta
a sua alma já tinha adentrado pelas frestas das janelas

era uma conversa para decidir a eternidade que lhes pertencia.



Brasas

deitada de bruços
ouvindo o pulsar do próprio coração
circulando em seu corpo
a ânsia de saber de si

conversa.
não. monólogo.
sua própria voz ecoa nos seus pensamentos.

sabe que é amor
o que a empurra
o que a machuca
e a consome.

naquela tarde cinza
de respiração rarefeita
desejava deitar de mãos dadas
entregar seu coração
seu corpo invernoso.

queria brasas.

sábado, 17 de agosto de 2013

A crença

ela trazia marcas
bem dentro dos olhos
fora levada pelo amor
já matara - a si própria
já ressuscitara.

naquele momento seu silêncio
desenhava contorcidas letras.

era difícil partir
ela dizia
e meditava
sobre o valor de ficar.

menina
acreditando em promessas de eternidade
como saberia se daria certo?

Vazios

Os vazios
nunca refletem ao que se propõem
estão sempre cheios
das dores mais doídas
das saudades mais sentidas
dos desejos que nunca se realizaram.

Os vazios são enganosos
sempre repletos
nunca deixam em paz
a alma irrequieta.

Crédito da imagem




quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Beijos de amor

Não se ouve o silêncio da noite
Em toda imensidão
apenas meu corpo nu
minha alma crua
sua respiração em meus cabelos
e todo abandono que é possível
em beijos de amor.

Não houve alvoroço nas folhas
balançadas pelo vento
na janela espiava a escuridão:
via, solitária,
alinharem-se órbitas corpusculares.

Amanheci com gosto de por do sol
no meu peito brotava cheiro de eternidade.

Fé na vida. Pé na tábua

Ficam para trás as sombras, os caminhos
as paisagens, o açoite, os silêncios,
todas as palavras.

Com as mãos postas
a alma exposta
o ciclo se repete
a miudeza das horas
a clareza dos fatos
o enegrecido das dores
o lenitivo das curas.

Se põe o sol
pomos fé na vida
pé na tábua
dedo na ferida.

Ficamos onde fomos
vamos sem partir
partirmos sem saber onde ir
descobrimos mapas
revelamos segredos
apontamos estrelas
marcamos uma hora, enfim,
para a felicidade chegar
-que não se atrase,
que não demore-
a boca da noite quer cansar de sorrir.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Entrega

Eu prometo amar-te
ter minhas mãos entre as tuas
dar-te até mais do que precisas
No entardecer do dia
lembrar-te de que será em meus braços
que descansarás teu corpo cansado
Raiaremos na aurora desperta por detrás da serra
em caminhos juntos e separados
e dir-te-ei baixinho
das flores que fizeste brotar entre meus seios.
Com a certeza
das coisas relativas
absolutizo as palavras
entrego em cartas e versos
e em beijos prolongados
o amor que te prometi. 

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Filhos do amor

Na estrada
No caminho
Descobrimos que somos fruto
Fomos semente

Quem sabe
quem sente
que o horizonte é a sua casa
e a beleza de amanhecer
se compara com o ocaso das horas?

Promessas de eternidade
plantadas no coração
a alma sente saudades
de quem pode infiltrar-se
em toda imensidão.

Filhos do amor
na estrada
no caminho
grãos miúdos
caídos de uma árvore sem fim.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Travessia

à beira do caminho
pés calçados
como convém a quem vem da cidade
sua alma
à beira do abismo
gritando palavras de amor
apenas para ecoá-las
não parecia entender a vida
não havia nascido para a morte
era eterna a sua essência
da ponta aos cortes

parada ali
esperando o passar dos carros
sentia atropelar-se
por saudades e cheiros

não contava segredos
apenas sorria

ninguém sabia do seu abandono
do seu trono
da sua luta

era noite
parecia ser noite
seus cabelos escuros
castanhos e assanhados
emoldurando olhos
que viam de um lado a outro.

atravessou a rua
enquanto a vida atravessa a sua.

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Estrela

Atrasada.

O tempo não sabe
das horas
Eu escrava do homem
deixo os ponteiros
rodopiarem ao meu redor.

Urgentemente
veementemente.

Já é hora
de partir
já marca a hora
de voltar

Meu corpo
estrela
vai explodir
no universo
quem irá impedir?

Partirei
agora
depois
um dia..

Eu já cheguei partindo...

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segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Inverno

Pensei em cortar cebolas e tomates
podar as ramagens
colher umas rosas.

Era inverno
aquela chuva miúda
alagando minha varanda
acinzentando meu sorriso
enregelando meus dedos
(de onde nenhuma palavra fugia).

Dei-me a chance
de tomar café
ouvir as notícias mais tristes
- são quase todas -
do jornal.

A noite já havia adentrado no quintal
afugentado os passarinhos
e descortinado o véu de estrelas.

Ritmado
enlouquecido
meu pulsar.

Aquelas notícias da China
e da menina assaltada na minha esquina
faziam-me lembrar de que eu nunca fora
autora da vida.

Mera portadora
do encanto por formigas e flores pequenas.

Noite sem lua
- fico a pensar na felicidade de quem a vê
do lado de lá.

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domingo, 4 de agosto de 2013

Sementinhas

Plantei aquelas sementinhas
recolhidas pelo caminho
nem sabia ao menos se eram
árvores ou pensamentos
Nunca mais voltei
por aquelas sendas
mandaram dizer que floresceram
as ideias
e havia pássaros nos ninhos.

Abrigo-me de mim
nas sandálias cheias de pó da estrada
olho adiante
parto com as asas do sonho.

Ouço as cantigas da minha meninice
ponho-me feliz a recordar-me
do corpo banhado de luz e água.

Meus bolsos estão cheios
de sementinhas de flores.

Os amores enraízam-se na alma.

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sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Em papel de pão

Não soube de ti
quando te vi
Eu apenas não sabia de ti.
Então veio o dia
em que meu coração viu seus olhos
e desejei ser teu repouso
teu remanso
o porto de todos os teus retornos.
Se Deus escreve certo por linhas tortas
somos poesia escrita em papel de pão.

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Inominável

Eu tenho medo.
Caminho do lado de fora
da janela
equilibrando meus pés
no cheiro amadeirado
do teu perfume
na prateleira do armário.

Dentro de mim
mora um monstro
de olhos e cabelos escuros
Insisto em mostrar-lhe 
a saída.
Ele é teimoso
e não passa da minha língua.

Eu tenho medo
de não saber mais engolir
as chamas que lanço ao monstro.
Ponho-me à janela novamente
- o vento me leva.

Que o amor me traga!

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A menina

No corpo trazia as marcas
do amor de agora
Na alma
havia lindas histórias
dos amores que partiram
Ela, menina da terra ,
tinha no corpo
olhos etéreos.

Fingindo abandono
trazia para si
os pássaros coloridos
e toda sorte de pétalas

Sentada naquela cadeira
seu espírito
exalava cores rosas
como quem se põe
a descer no céu
num sol de arrebol.

Pôs-se a desenhar
rabiscos na palma das mãos
As horas idas
faziam morada no seu peito.

Os segredos da noite
enredavam-se em seus cabelos.
Anoitecia.

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quarta-feira, 31 de julho de 2013

De passagem

Estava envolta em neblina
era borboleta sem achar onde pousar
Flor do tempo
Cor das horas
Inquietude cinza
de inebriar o seu mundo de cor.

Asas de chumbo
não a impediam de voar
poemas de vida inteira

Atrás do enevoado
suspiros
projetos
antigas moradas
passagens lunares.
A moça era silenciosa
sua alma, solstício de verão.


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Dias

Dias de luz
energia
Dias com sombras
pensamentos e quietude

Nem sempre assim

Dias de luz
imersão na escuridão
dos porquês.
Dias com sombra
passeios entre rosas e borboletas
com mãos entre as suas.

Perfeitos são os caminhos do Senhor!

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Segurem minhas mãos

O cheiro do vento nas folhas
almíscar de esperança
no céu existem mais pensamentos
que estrelas na boca.
Segurem minhas mãos
sigam meus passos
que eu estou indo ali
ver a alegria do renascer
Renascem as expectativas
as palavras
os medos
a vida
que vem em círculos
num roda de ciranda.
O cheiro da vida
no silêncio do vento.
O silêncio do vento
nos segredos da vida.
São cheios de vida e segredos
os ventos que me varrem.

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segunda-feira, 29 de julho de 2013

Ser feliz

"- O que é que se consegue quando se fica feliz?
sua voz era uma seta clara e fina. A professora olhou para Joana.
- Repita a pergunta...?
Silêncio. A professora sorriu arrumando os livros.
- Pergunte de novo, Joana, eu é que não ouvi.
- Queria saber: depois que se é feliz o que acontece? O que vem depois? - repetiu a menina com obstinação.
A mulher encarava-a com surpresa.
- Que idéia! Acho que não sei o que você quer dizer, que idéia! Faça a mesma pergunta com outras palavras...
- Ser feliz é para se conseguir o quê?"
Clarice Lispector


Ah, Joana! Pergunta difícil para uma coisa simples. Simples, sim!. Somos seres nascidos da felicidade do encontro, da felicidade da criação. Nossos espíritos, embalados por esse corpo terreno, têm uma missão precípua de fazer e de ser feliz.

O que vem depois de ser feliz? Vem o riso fácil, a mão estendida, a alma fortalecida. A felicidade decorre da leveza, da delicadeza de viver. Ser feliz não é estar alegre. A alegria é estado. A felicidade é semente que carregamos na nossa inocência.

"A professora sorriu, arrumando os livros." - Pensou que a sua aluna, com a ajuda dos livros e das explicações, em meio a tantos textos e produções, desperta para a razão do mundo, descobrira a inquietude dos que são felizes.

O que vem depois da felicidade é a certeza de que os espinhos, ao final do dia, não foram capazes de manter-nos distantes do jardim. Ser feliz é para conseguir chegar no ocaso da vida como quem plantou estrelas nos olhos alheios.

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A vida

Começo
meio
fim
desde o começo da criação.

Não há céu de brigadeiro
nem relâmpago
nem trovão.

Uma palavra sequer
que isente 
diminua 
ou aumente
o tempo determinado.

Se é tarde, apresse o passo
Se é cedo, aproveite a paisagem
A hora é agora
O lugar é aqui
Decida sem hesitar,
Seja completamente cheio de si.

No começo e no meio
lutar e sorrir
estar e partir
ser em tudo o melhor de si
No fim
a saudade
de ir
tendo ficado por aí.

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Novo infinito

Se põe o sol
enquanto eu ponho meus pensamentos
no amor mais lindo
que me enche o céu da boca
e todo meu coração.
Deita-se nos braços da noite
com suas cores de rosa brotada
o sol amarelo
Deito-me em seu braços
com minhas pernas enroscadas
no seu caminho.
Ponho meu peito junto ao seu
sussurro baixinho
já é hora do sol nascer
- e nossas mãos carinhosas
desenham novo infinito.

Foto por meu amigo Otávio

domingo, 28 de julho de 2013

Missão

Iluminando a vida como chama breve
que eu seja fonte de paz
de alegria
de pequenas sementes de eternidade.

Obra do Senhor, eu sou.

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sexta-feira, 26 de julho de 2013

A pergunta

Pela janela vejo o mundo
quadrado
Pelo mundo vejo as pessoas
estranhas e esquecidas de si
Pelas pessoas
sinto o cheiro da vida
Pela vida fico de pé
na janela.
Cíclico
O tempo foge de mim
- para onde foram todas as horas
que me trouxeram até aqui?

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Essência de amor

Quem sabe a gente se encontra mais tarde
encosta as palmas das mãos
respira os segredos um do outro
Pouquinhas palavras
para corpos saudosos de calor e luz
Depois, aninhados e enovelados,
seremos
o que sempre fomos
como essência de amor.

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quinta-feira, 25 de julho de 2013

Dia do Escritor

Escreve areia e mar
desenha no papel
sonhos e desilusões
Confessa amores que moram na lua
Tem no coração flores
libélulas
um desejo sem fim
de, estando ali,
ser compreendido pelo mundo.
Entre unicórnios
e corpos feridos na guerra
usa a palavra
como fio condutor
da história.
O escritor que mora
entre folhas
e telas
vocifera e sussurra
vida afora.

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quarta-feira, 24 de julho de 2013

Mensagem

Vim para dizer-te
desse amor
cheio da alegria 
de ver-te
e enlaçar-te

Meu peito cheio de melodia
para cantar juntinho do teu
as canções de raiar o sol
Minha alma admirando
nossas mãos juntas
numa aliança de entrega.

Descobri, amando a ti,
que posso encher as palavras de novos significados
encher minha vida com teu cheiro
encher-te de beijos.

Vim para dizer-te,
tranquila,
que há de ser para sempre.

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segunda-feira, 22 de julho de 2013

Ventania

O vento sussurra coisas que não entendo
passa assanhando meus cabelos
empurra para o lado todos os meus pensamentos
para em seguida jogá-los na minha face
Estou sentada à beira do rochedo
sentindo-o passar
misturam-se sopros e ideias
sem que eu os possa separar
Alguém me explique
me abrace
me ame
a solidão varrida pelo vento
entra em minhas narinas.
Preciso traduzir-me
resgatar-me.

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Asas de passarinho

Não me ouvem os pardais
que voam e comem no meu quintal
Partem com suas asas gris
por sobre as roseiras e angélicas

Não sabem de mim
partem assim.

Por cima dos telhados
abrem-se ao sol
Deveriam por gratidão
levar consigo as minhas preocupações
Levá-las em suas asas pequenas
e depositá-las onde se plantam as nuvens.

Não me ouvem
não sabem de mim
são apenas passarinhos
Eu, a menina da minha história,
querendo ter asas
procurando meu ninho.

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domingo, 21 de julho de 2013

Amor

Ah! E se à beira do penhasco
eu sentisse teu almíscar...
De olhos fechados
e peito aberto
dando-me tua mão
eu pularia.


sábado, 20 de julho de 2013

Vinde, amigos!

Olhai a estrada
Vede quão comprida!
Abri vossos olhos
Dai-me vossas mãos.
Eis que virão
dias difíceis
Regozijemo-nos!
Que nossas raízes nos sustentem.
Vinde! Vamos juntos, amigos!

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sexta-feira, 19 de julho de 2013

Palavras

Que sejam poucas
mas sempre verdadeiras
que sejam breves
e consoladoras

e que soprem os ventos
e mude o tempo
seja o céu azul anil
ou gris como asas de passarinho

os ouvidos sejam depositários
as folhas, relicários

Que sejam fortaleza
e mansidão
discurso e oração.

Sejam fonte
ponte
passo
traço

Enlaço. Embrulho. Envelopo.
Letrinhas miúdas
sussurros na noite.

Que sejam poucas
mas sempre verdadeiras
que sejam breves
e consoladoras - todas as minhas palavras.


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Morada da felicidade

pelo canto dos olhos
podia sentir a claridade das horas
era meio-dia
sabia pelo oco na barriga
pela quentura no corpo.
encantada pelas pequenas coisas
passara o dia a sentir
perfumes no pomar
fizera promessas silenciosas:
gastaria mais tempo com o por do sol
com as coisas não ditas
e com as poesias que moravam em si.
pés no caminho
coração disparado
na bolsa
cheirinho de alecrim.
ela sabia que era a morada da felicidade.

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Fonte de todas as graças

Chovendo
Partindo
Chorando
Chegando
Caminhando
Sorrindo
Acreditando
Largando
Abraçando.

... do meu lado
a me amar e a me amparar
Jesus -  a fonte de todas as graças.

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quinta-feira, 18 de julho de 2013

Quem sabe

fitas nos cabelos
dores na alma

ninguém sabe o que não vê

tudo colorido
tudo quebrado

pela estrada plantando flores
esperando pela primavera
no peito aberto

parece claro
mas está sombrio

quem sabe dela
não se importa

na janela
no final do dia
uma poesia.

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quarta-feira, 17 de julho de 2013

Nua e descalça

Nasci descalça
nua
como todo mundo nasce
Aprendi a falar, a andar,
a pedir, a agradecer.
A mesma alma do nascimento
é a que tenho agora.
Crescemos.
Sei que vou partir
ficarão os sapatos
as roupas
as palavras.
Será somente a alma
almejando a face do Pai.
Desejo que também seja esse
o seu desejo.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Criatura do Senhor

O maior segredo que guardo em mim:
a vida.
Porque arde como brasa
sopra como vento
cresce como árvore
finda como o dia.
O segredo reside na certeza de que sou
à imagem do criador.
Sou criatura do Senhor.

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sexta-feira, 12 de julho de 2013

Sombras de Deus

Peço um coração tranquilo
pés firmes
olhos que possam enxergar almas.
Degluto ânsias e tristezas
ponho um sorriso nos gestos
porque hei de encontrar quem me abrace
na hora mais escura.
Sou instrumento e construção
acordes e silêncios.
Somos todos sombras de Deus
temos todos multidões e solidões.
Somos singulares
somos plurais.
Grandes e pequenos.
Peço um coração amoroso
mãos hábeis
palavras que curem almas.

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quinta-feira, 11 de julho de 2013

Pedidos

Uma oração
breve como essa vida:
quero ter tempo para alimentar os pássaros
e colher rosas que plantei no meu jardim.
A casa está pronta
da janela quero sentir
o deitar do sol
na minha alma.
Amém.

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