quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Um conto - o início

Pequeníssima. Era assim que se sentia. Orbitando ao redor de si mesma sabendo que o próprio umbigo não ia resolver nada daquilo que a incomodava. Um solilóquio, deitada no sofá. Já era noite e a vontade que tinha era apenas macerar aquela ausência de palavras, extraí-las do silêncio.

Dentro de si, sentia, havia uma fera. Negava-se em alimentá-la mas ela insistia em arranhar sua memória. Bicho sem misericórdia esse tal de ciúme.

Um conto escrito sobre letras pontilhadas. Amor de folhetim. Não era isso que ela queria. Queria ser estimada e valorizada. Eram muitos os seus defeitos, era totalmente imperfeita, mas o amor, o seu amor! Ah! Era tão cheiroso e derramado pelos cantos da casa, pelos cantos do olhos. Como pôde ele achar graça em outra que não nela?

Dentro de si, urrava a fera. Uma xícara de café. Debruçou-se à janela. Inspirou a brisa da noite. Curativo. Veneno. Concentrou-se no horizonte. Talvez a força do tempo fosse maior que ânsia de dar um basta.

Pequena. Solitária. Observada pela lua, que já subia, alta. A fera escutava o tempo lá fora.