sábado, 21 de abril de 2012

Amigos (rumo ao céu)

Sentamo-nos lado a lado, na condução, na sala de espera do consultório ou no banco da praça. Não importa, somos desconhecidos e como tais conversamos sobre trivialidades, coisas superficiais, cascas de feridas. Não somos amigos e por isso não sabemos para onde estamos indo, de que estamos doentes ou quem esperamos naquele calor do meio da tarde.

Conversamos sobre cascas de feridas e não sobre como elas estão ali, sendo remediadas. Não sabemos como surgiu, entre os olhos e o coração, um machucado que está custando tanto a sarar. Não temos ideia de como a felicidade esteve presente na ânsia de (re)encontrar a pessoa que está quase a chegar e que, enquanto não chega, vamos tagarelando sobre a corrupção, a baixa dos juros, a criminalidade.

Os amigos, são poucos. Por que? Porque vamos aprendendo que a exposição de nossos pensamentos e nossos quereres não tomam a forma que têm com toda a gente. Amigo é afinidade, é a palavra dura no momento certo, é a verdade crua, sem tempero, falada ao pé do ouvido. Amigo é o consolo silencioso nas horas de dor e ausência.

Amigos nos habilitam no caminho para o céu. Mário Quintana diz que 'esses que puxam conversa sobre se chove ou não chove - não poderão ir para o céu! Lá faz sempre bom tempo'. E fico pensando em quantas vezes comentei, convenientemente, sobre as condições climáticas. Salve os meus amigos! E os amigos dos meus amigos! Em silêncio, lado a lado, sem constrangimento, como ficam os amigos horas a fio - numa espécie de comunicação telepática.