quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Tem dia que a gente acorda e a saudade dá bom-dia



Cheiro de terra molhada, de café bem cedinho e lavanda no cabelo.
Melodia de cantigas de roda, panelinhas de barro, fogão de carvão, pedaço de gesso para riscar o chão.
Livros, lápis de cor, farda e sapatos novos.
O silêncio dos olhos do meu avô.
Fox, o cachorro perdigueiro que mastigava as roupas da minha infância.
Tem dia que lembro dos antigos abraços, das partilhas secretas de palavras às vezes nem ditas, dos cheiros dos natais e seus jambos e siriguelas, das risadas emaranhadas nos bancos escolares, das lágrimas imaturas de quem não sabe lidar com a vida.
Tem noites que olho para a lua, a mesma de outrora, mas agora ela me lembra que o tempo passou e levou a minha boneca, o meu chinelo 'japonês ', o encontro diário com os amigos.
E não posso voltar. E não podemos voltar.
E a vida nos leva em frente e não considera o passo atrás, e não ouve nosso soluçar de criança, e não pondera a perda, nem o ganho.
Já não somos infantes, mas quem esqueceu de nos informar de que crescemos?
Tem dia que a gente acorda e a saudade dá bom-dia.