domingo, 1 de maio de 2011

Pé de mim

O tempo mudou. Aquelas nuvens do horizonte estão sobre nossas cabeças. E chove. E a água não escoa, e os esgotos não a comportam. Há muito mais silêncio do que trovões e relâmpagos que insistem em iluminar o que está escuro.

Em mim paisagens. Passagens que teimam em retornar e não me deixar. Sensação de pés úmidos, que detesto. Sigo para o primeiro abrigo, quero enxugá-los, mas me dão uma toalha também molhada. Será que há uma conspiração? Respiro fundo, engulo seco, faço o melhor - acreditem - o meu melhor.

O meu melhor não é suficiente. E sigo em frente, sempre em frente. Ao meu lado há companhia. Dentro de mim há companhia. Desculpem-me a ausência, os olhos postos além, meu eu esmaecido em gotas derramadas, em enxurradas que não me arrastam. Eu sou essa. Sou também aquela, deslumbrada, com um lindo céu de verão. 

Estações que passam: invernos de alma, verões de alma - na mesma alma. Passam por mim e me mudam e bem na sua frente troco de roupa, de tino. Desatino, quase sempre. Em minha face há jardins - e são eles que deixo o outro ver. O céu gris reservo para aqueles que conhecem os canteiros em que plantei minhas flores, minhas ervas, meu pé de mim.