sexta-feira, 8 de abril de 2011

O filho pródigo


Já meditei muitas vezes este trecho do Evangelho de São Lucas (15,11-32). O filho pródigo: sua partida em direção ao mundo, sem pensar no sofrimento que aquela decisão causaria em seu pai, sua crença de que partindo para longe teria a bênção de uma vida feliz (amigos, diversão, dinheiro, reconhecimento...).

Ontem, na reunião de pais e mestres do Colégio Imaculada, apresentou-se para palestrar o senhor Hamilton, da Comunidade Boa Nova. Falou-nos da dificuldade de educar os filhos, de mostrar-lhes limites. Partilhou um pouco de si, da sua família, da sua história e apresentou-me nova maneira de ver a velha palavra. A Bíblia  é antiga e tão nova (parafraseando Santo Agostinho, ao falar de Jesus - beleza antiga e tão nova!).

Começou por perguntar-nos qual de nós teria dado a parte da herança, pedida pelo filho. Frisou que o pai dera o que o filho pedira pois vislumbrara naquele instante que não poderia demovê-lo da sua idéia. O filho solicitara a sua parte pois o que queria fazer, sabia, não era seu pai de acordo, não poderia ele concretizar seus planos naquele lar. Era necessário pois que partisse para longe dos olhos amorosos de seu pai.

Vai. Gasta seu dinheiro, descobre os falsos amigos, os amores especiais e fugazes. Entrega seu corpo, sua mente, seus recursos, passa fome e sede. Sofre seu corpo e sua alma. Pensa no amor paterno (Deus é misericordioso). Decide voltar, pedir perdão, se humilhar.

Em seu retorno, reconhece-o, de longe, seu velho pai. Corre em seu encontro. Manda que lhe tragam roupas, sandálias, anel - que matem um gordo novilho. É festa! Volta a vida o que estava morto.

O filho mais velho retorna da lida. Ouve de longe o barulho da festa e pergunta ao servo: o que há na casa do meu pai? Seu irmão regressou e seu pai comemora. Sem compreender além do que vê, recusa-se a entrar. Seu pai vem ao seu encontro, ratifica que é dele tudo que lhe pertence, que sabe da sua fidelidade e dedicação.

O filho mais velho fica do lado de fora porque sabe que não há tolerância naquele lar para irmãos que não se respeitam, não se amam, não sabem perdoar. O cerne da leitura, naquele momento, ficou sendo o limite e o respeito. Ambos os filhos sabiam que naquela casa deveria haver respeito pelos valores ensinados pelo pai.

Sai do colégio pensando sobre tudo aquilo. E ainda estou.

A letra abaixo é de uma música que fala sobre essa passagem do Evangelho. Escute.

Acesse esse link:
Muito alegre eu te pedi o que era meu
Parti, num sonho tão normal. 
Dissipei meus bens e o coração também
No fim meu mundo era irreal.
Confiei no Teu amor e voltei
Sim aqui é meu lugar
Eu gastei teus bens, ó pai e te dou este pranto em minhas mãos.
Mil amigos conheci disseram adeus
Caiu a solidão em mim
Um patrão cruel levou-me a refletir
Meu pai, não trata um servo assim.
Confiei no Teu amor e voltei
Sim aqui é meu lugar
Eu gastei teus bens, ó pai e te dou este pranto em minhas mãos. 
Nem deixaste-me falar da ingratidão
Morreu, no abraço, o mal que eu fiz
Festa, roupa nova, anel, sandália aos pés
Voltei a vida, sou feliz.
Confiei no Teu amor e voltei
Sim aqui é meu lugar
Eu gastei teus bens, ó pai e te dou este pranto em minhas mãos.