terça-feira, 17 de agosto de 2010

Flores

Uma das coisas de que gosto são flores. Não importa se são 'do mato', como dizemos por aqui, ou fidalgas moradoras de jardins projetados ou estufas.
Todo sábado ganho flores. Minha mãe compra umas hastes de angélica - perfumadas, branquinhas. Quase sempre vêm acompanhadas (pasmem com a redundância) de carinho de mãe - acho que receberam esse nome por serem abundantes e delicadas. Na minha casa ocorrem umas coisas engraçadas: no dia das mães, a minha MÃE me dá presentes!
Aqui no meu jardim, tem rosas cor-de-rosa escuro, cor-de-rosa claro, amarela, vermelha, tem beijo e beijo dobrado, tem lírio de São José e no sítio eu tenho um jasmineiro.

Descobri, encantada, que coentro, pimentão, tomate, berinjela, quiabo, maracujá, laranja e jambo, já foram flores! Elas já se escondem na pequena semente, espreitam a terra contando o segredo do seu florescer.
O mistério da presença ausente pode ser visto num ramalhete: o amante para a amada, o pedido de desculpas com olhos multicores, o desejo desvelado na maciez, o pedido silencioso e humilde do botão depositado aos pés da cruz.
No livro O Amor que Acende a Lua, Rubem Alves escreve: "Numa coroa todas as flores deixam de ser flores. Elas não mais dizem o que diziam. Não mais são o que eram. Amarradas, contra a vontade, num anel artificial, do qual pendem fitas roxas com palavras douradas".
Deixam de ser, seguem como o corpo que ali jaz, sem vida.
Penso que talvez tenham sido escolhidas para acompanhar a mudança daquela matéria. Chegam fulgurantes ao outro lado, ornando o espírito. Não podem, tão lindas e coloridas, findarem aprisionadas e distantes da missão a que vieram.
Dentro dos meus livros há muitas flores secas, lembranças de mãozinhas que ofertaram-nas repletas de amor e inocência.
Dentro dos meus olhos há um jardim. Florescem margaridas, sempre-vivas, buganvílias, cravos, girassóis e papoulas, num campo a perder de vista, iluminado pelo sol poente, o vento balançando suas folhas. Ando espalhando dessas sementes. Abra as mãos. Os olhos. E os ouvidos. Sinta-as germinar.