sábado, 21 de agosto de 2010

Fotografias


Se houvesse um incêndio em sua casa, estando todos fora de perigo, e você pudesse salvar algo, o que seria?
Eu tentaria salvar todas as fotos que guardo, como um tesouro, no guarda-roupas do quarto de visitas. Não queria mais nada.
Lá naqueles álbuns e nas caixas há toda uma história.
No álbum cor-de-rosa, que tem uma ovelhinha na frente, tem a inexperiência de uma mãe, todo o medo da pergunta que não calava - será que eu vou dar conta desse bebê? Tem o primeiro sorriso banguela, a cara pintada de sarampo, a ida à escola.
Naquele outro, tem uma pinga-fogo segurando um calango pelo rabo, a boca vermelha de batom, o cabelo assustado pelo despertar.
E ainda tem mais um que traz o último bebê que concebi. O cabelo avermelhado depois mudado em loiro, a chupeta inseparável, o bumbum de fralda.
Abrindo as portas do guarda-roupa há um mundo de lembranças. Aniversários, passeios, caras feias e simpáticas, saúde e doença. Retratos do amor que construimos.
Lá também guardo as fotos antigas que trouxe da casa da minha avó e da minha sogra. Tem gente que nem sei quem é, mas me agrada olhá-las nos olhos, ver os detalhes da roupa, do ambiente. Acho interessante as dedicatórias e também as histórias contadas por quem participou daquele momento.
Minha cama, minhas roupas, maquiagem, os armários da cozinha, os sofás, a televisão - tudo posso comprar de novo, entretanto aquele olhar encantado a me fitar enquanto eu dizia, ei, bebê, olha prá cá!, emoldurado naquele instante, se o fogo queimasse... Como poderíamos nos reunir, sentados na cama, participar do elo invisível que nos proporciona a recordação da foto?
Estão guardadas e silenciosas as alegrias da minha infância, da minha juventude magricela, do meu casamento, das viagens com brinquedos, fraldas e mamadeiras.
E é bastante abrir um álbum para sentir cheiro de lavanda, de pizza feita em casa, de lápis cera no papel em branco, de terra molhada, de amor de família.
Chamuscada eu ficaria apenas pelas fotos.