terça-feira, 31 de agosto de 2010

Os amores e a estrada

A Poeira e a Estrada
Maciel Melo
Amigo olhe a poeira, olhe a estrada
Olhe os garranchos que arranham pensamentos
Entre o cascalho,vá separando os espinhos
Não esqueça que os caminhos
São difíceis pra danar
Nem todo atalho diminui uma distância
Nem toda ânsia no final tem alegria
Veja na flor que o espinho lhe vigia
A noite adormece o dia
E a lua vem lhe ninar
Devagarinho vá pelo cheiro das flores
Siga os amores nunca deixe prá depois
Nem tudo é certo como quatro é dois e dois
Nem todo amor merece todo coração
Se a poesia ainda não lhe trouxe o fermento
E o sofrimento entre o amor ganhou a vez
Nem tudo é eterno quando a gente ama
Por isso amigo não se entregue agora
Talvez um dia o mundo lhe peça perdão
Por isso não se perca não
Os amores vão e a gente fica




Os amores vão e a gente fica. O primeiro amor que se foi, na minha vida, foi meu tio Bila. Morreu vítima de esquistossomose. Depois meu avô. Era taxista. Foi assassinado. Tinha 71 anos. Costumava dizer, sorrindo, que a minha avó já tinha sido uma uva e agora era um abacaxi. Não teve oportunidade de descobrir a graça de ser bisavô. Eu estava no sétimo mês de gravidez da minha primeira filha. São partidas doloridas, esqueci muitas vezes que eles já não estavam aqui.
Outros amores mudam de roupagem, mudam de cidade, mudam de casa.
Nem tudo é eterno quando a gente ama. Talvez esse verso tenha descoberto a origem de toda saudade.
Minhas bonecas, minhas tardes de domingo na casa de seu Chico do Foto, minhas viagens ao Recife para casa da minha tia, nas férias. Minhas conversas paralelas e primárias no Colégio Imaculada, meus encontros diocesanos no Colégio Cardeal. Tanta coisa que amei. Os amores vão e a gente fica.
Amigo olhe a poeira, olhe a estrada. Olhe os garranchos que arranham pensamentos. E seguimos sempre em frente. Não importa se na caatinga ou num verde prado. Doando-nos. Recebendo o retorno da vida que pisamos com nossos olhos, nossas palavras.