quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Eterno e fugaz

Êfemeros. Passageiros. Somos nós, embora ajamos como se detivéssemos o tempo, como se nos pertencesse o eterno. Intocáveis, invencíveis, inalcançáveis - afinal fatalidades foram feitas para visitarem apenas o vizinho desavisado e desafortunado...

Dançamos com passos ora largos, ora curtos, fitando o espelho no salão e insistindo em não enxergar as marcas do muito andar entre as gentes. Alguns têm uma alma todo dia saída da caixa - nova, mas não imatura. Carregam no fundo dos olhos uma atividade que se traduz na inovação, no crescimento. Não guardam consigo o que lhes poderiam enferrujar. Outros trazem uma velha alma nova - esquecem o que lhes causou aquela marca, têm feridas sempre abertas, não aprenderam a utilizar o bálsamo que receberam pura e simplesmente por existirem.

Não importa se sorrimos para esconder, entre os dentes, as agruras, as desmesuras, as aventuras, as desventuras. O que importa é o exercício da felicidade. Talvez por isso seja enigmático o sorriso da Monalisa.

A cortina do palco pode estar encerrando o último espetáculo. Quem garantirá se entre um ato e outro haverá retorno? O nosso contrato é conforme as nossas características - efêmero e passageiro. Não ser o melhor ator da peça, não ser o ator principal. E daí? Ser coadjuvante por vezes é mais divertido, é mais frequente, é mais aglutinante. A parte, afinal, não é o que completa o todo?

O que nos pertence? Numa análise rápida, nada. Do pó ao pó. Fico feliz em pensar que indo vou ficando. E que ficando, parto. Minha matéria entristecida com a fugacidade. Meu espírito enamorado com a eternidade. É nesse diálogo que amanheço e anoiteço.