sábado, 2 de junho de 2012

A confiança e o vidro

Tem umas coisas que precisam retomar seu verdadeiro lugar porque por um motivo ou por outro vão tomando outras posições e isolando sua essência, como por exemplo a honestidade, a sinceridade, a confiança.

Não faz mais do que sua obrigação a pessoa que devolve a carteira perdida ao seu dono, intacta, sem retirar ao menos uma moeda. Não é um ato digno de estar nas manchetes dos jornais e revistas. Tem alguma coisa errada em ressaltar uma atitude que não tem nada de espetacular. Inacreditável é desviar verbas públicas, ter caixa dois, superfaturar notas fiscais.

Cansei de ouvir, em resposta a minha notícia de que havia tirado nota boa em tal disciplina, que eu não fazia mais do que a minha obrigação.

Então, não concordo com propina para que o serviço a que tenho direito funcione, nem para liberar meu carro de uma multa porque excedi a velocidade ou estacionei num lugar proibido.

É preciso ter hombridade para honrar a existência como pessoa e indivíduo. Nossa inversão de valores e nossos meio termos e meias temperaturas faz-nos meio bons? Ou meio maus? 

O dito popular ressalta que o vidro riscado jamais volta a ser como antes, que a palavra lançada não pode mais ser capturada, que as penas ao vento ninguém as junta novamente. Nossas atitudes somos nós e por amor, ou por força da justiça, as infrações e inverdades são-nos desculpadas. O difícil é lidar com o fato de que a confiança, ah!, a confiança é o vidro riscado.