Não ter medo de morrer. Eu não tenho medo da morte, da escuridão. Tenho medo de partir antes da hora que eu ache que seria a certa. Deixar as contas pagas, o guarda-roupas arrumado, as plantas podadas, as filhas criadas. As filhas criadas: pensamento recorrente.
O depois do último suspiro, o corpo hirto, os olhos fechados, as mãos postas, as cinzas restantes. Nada disso me amedronta. O que dói é saber das lágrimas que brotarão, do corpo convulsionado de soluços pela dor da minha partida e da minha incapacidade técnica de consolar.
De frente de minha casa há duas árvores. Uma é Ficus e a outra, Acácia. A pequena semente, frágil e solitária, soterrada, hoje estende seus galhos e suas folhas sombreando minha calçada e meu terraço. De tempos em tempos os dias de mudança se avizinham, secam suas folhas e as espalham pela rua. O ciclo, para aquelas folhas, se fecha. E sendo folhas são árvores. E a árvore, mesmo desfolhada, continua árvore.
Não tenho medo de morrer. Deus é Deus e ainda quando, um dia, eu estiver morta, serei filha de Deus.
Uma folha que cumpriu o seu ciclo de vida e, caída, ficou pendurada numa teia de aranha é lembrança do viço de antes, é presença do que partiu e ficou, é rede que interliga a vida e a morte.
No livro A menina que roubava livros, de Markus Zusak, a morte diz assim: "Quer saber a minha verdadeira aparência? Eu ajudo. Procure um espelho enquanto eu continuo". Nada de capuz, olhar soturno, foice. No final serão os nossos olhos, as nossas mãos. No final será a ausência da clorofila. Estaremos desobrigados da vida do ser e ainda assim, e mesmo assim, seremos nós no final.
O depois do último suspiro, o corpo hirto, os olhos fechados, as mãos postas, as cinzas restantes. Nada disso me amedronta. O que dói é saber das lágrimas que brotarão, do corpo convulsionado de soluços pela dor da minha partida e da minha incapacidade técnica de consolar.
De frente de minha casa há duas árvores. Uma é Ficus e a outra, Acácia. A pequena semente, frágil e solitária, soterrada, hoje estende seus galhos e suas folhas sombreando minha calçada e meu terraço. De tempos em tempos os dias de mudança se avizinham, secam suas folhas e as espalham pela rua. O ciclo, para aquelas folhas, se fecha. E sendo folhas são árvores. E a árvore, mesmo desfolhada, continua árvore.
Não tenho medo de morrer. Deus é Deus e ainda quando, um dia, eu estiver morta, serei filha de Deus.
Uma folha que cumpriu o seu ciclo de vida e, caída, ficou pendurada numa teia de aranha é lembrança do viço de antes, é presença do que partiu e ficou, é rede que interliga a vida e a morte.
No livro A menina que roubava livros, de Markus Zusak, a morte diz assim: "Quer saber a minha verdadeira aparência? Eu ajudo. Procure um espelho enquanto eu continuo". Nada de capuz, olhar soturno, foice. No final serão os nossos olhos, as nossas mãos. No final será a ausência da clorofila. Estaremos desobrigados da vida do ser e ainda assim, e mesmo assim, seremos nós no final.