quinta-feira, 22 de março de 2012

Antes de chegar ao cimo

Sofre por amor, reclama do calor.
Suspeita das boas intenções
sua consciência pesa até chegar alcançar o vão entre a cabeça e o chão.
Logo em seguida descobre que era tudo verdade e se sente culpada por não ter ouvido a voz muda da razão.
Mas se guiar pela razão é previsível
e o que quer que haja desenhado na folha
escondida entre os livros fará palpitar a camisa por cima do peito.
Peito nu e vestido de azul.
O cheiro de barba ausente invade os sentidos.
brinca com outros sentidos
reina em outros sentidos
faltam-lhe os sentidos.
Sobe a ladeira antes de chegar ao cimo
Desce à igreja em procissão de uma pessoa
- em redor de si a convicção do preenchimento do amor.
Rala o joelho no cimento
dobra-o diante do altar.
Tudo é silêncio.
Nada silencia fora de si.
Estende os braços fingindo galhos e folhas
Árvore. É. Ela é uma árvore da caatinga.
Firme sob o sol
Enamorada da lua
Suas lembranças, doces e assombrosas,
nas nuvens tão brancas, nas nuvens tão gris
Duas flores azuis
e abelhas operárias no tronco firmado na ventania.
Quer fazer da seiva oração.
Na caatinga. Duas estações.
Agora é quente
e todas as suas folhas balançam, à brisa da noite.
Reclama do sol e do frio da madrugada
Admira-se das verdades incontestes
e sepulta as mentiras deslavadas.
Condena o meio termo
lembra de seu disfarce
- a árvore foge por seus olhos abertos.

Por Elmário Ribeiro