quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Pescocinhos, refúgios de saudades

Muito antes de que eu tenha notado, minhas filhas cresceram. E fico observando alegre e entristecida esse espetáculo. Se você me perguntar o porquê de ficar entristecida posso responder de sopetão que é porque meu egoísmo materno se ressente em não fazer mais algumas coisas que antes eu fazia reclamando: colocar para dormir, alimentar, limpar a sujeira, juntar brinquedos. E o interessante é que a reclamação não era de verdade, era só para interagir...

Crianças passam de plantas em vasos para alegres pássaros num piscar de olhos. Nós passamos de jardineiros para estranhos observadores de pássaros - nossos bolsos com apitos que usamos para tentar chamar-lhes a atenção, nossos olhos com óculos de sol porque o vôo que eles alçam é cada vez mais alto.

Há também muita alegria em participar dessa metamorfose. Nos detalhes vemos que embora queiram negar muitas coisas que fomos nós que ensinamos, num ato de afirmação pessoal de que sendo do contra estão sendo eles e não nós, revelam a lapidação pela qual nos esmeramos em lhes dar: são gentis e respeitosos com os mais velhos, dizem bom-dia, não mexem nas coisas que não lhes pertencem, são curiosos e gostam de ler, acham 'babaquice' usar drogas e fumar, são fiéis e sinceros.

Para matar minhas saudades de quando minhas filhas eram pequenas, eu cheiro seus pescocinhos. Embora longos e cheirosos a outros cheiros que não de lavanda, são meu refúgio de saudade.