quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Flama

Ao vento
dentro do sapato
no prato de sopa
Enrolados no lençol
dando adeus do convés
dando abraços no saguão
Na gravata de seda
no pano de chão
no suéter
no pente, no colchão.

O amor
os amados
os amantes
os saudosos
os queridos.

Encontram-se e despedem-se
Consomem-se e renascem
Semeiam e colhem
Amanhecem e tornam-se ocaso
Caminham e descansam
São água e tormento
São seixos e segredos.

Os amores.
Em contas de cristal.
Os amantes
Em pautas de caderno
em desenhos nos corpos
(alheios ao tempo).

Flama.
Cinzas.
Fênix.

Imagem em Uma Dose Diária de Amor



segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Nascimento

Quando percebi já não era mais nada do que eu conhecia
já não tinha asas
já raiavam sóis nos meus olhos
eu tinha pés
e sonhava.

Quando tornei-me eu
enchi-me de pétalas e espinhos
cheiro de chuva no chão quente
barulho de por-do-sol no horizonte
- mandaram-me para este torrão.

Então, desde então,
tenho vento nos cabelos
e uma vontade constante de ser feliz.
Aprendi a levantar poeira,
a surgir como planta teimosa da caatinga.

Endereço da imagem

sábado, 16 de fevereiro de 2013

A vida do cristão

De repente já não era mais noite
As lágrimas secaram
As portas se abriram
Havia luz nos olhos
Doações de palavras concebidas na oração.

Tudo era passagem
nova situação
outras perspectivas

As mãos unidas
os pés em missão

A vida do cristão.

Crédito da imagem


sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Linhas

Mas que lindeza esse amor da gente
Paralelas, as linhas da vida
E o que ouvimos com maior clareza
do que o anseio de fazê-las perpendiculares?
Que lindeza essa busca em que,
perdidos e sós,
desenhamos à beira da estrada.
A vida estendida no varal.



quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Quem sou

Há em minha boca flores e espinhos
noites escuras como breu
dias claros como céu de abril.
Ora sei de mim
ora perco-me numa estrada sem fim.
Tenho olhos de lua
alma de estrela
por vezes meus pés são de areia
- um minuto depois estão de botinas
a espreitar as cercas.
Asas, antenas,
águas que correm
lágrimas que escorrem
palavras que profiro e calo.
Tantas sou, muitas fui.
Temo ser curto o tempo de permanência das raízes.


quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Créditos

Esse amor que me consome
amor de tela de cinema
de mãos dadas na feira
de pés descalços no asfalto
de pratos vazios e barriga cheia
Amor de quentura na nuca
e arrepios nos braços
de cordas de violino
de batuque descompassado.
Esse amor que me consome
que alimento
(que de mim se alimenta)
simbiótico
adjacente
mimético
quadrado perfeito
foto em preto e branco
horizonte de margaridas.
Consome, partilha,
some nos olhos fechados
reabre meu coração endurecido
sussurra versos nos travesseiros
enrola-se nos lençóis. E dorme.

Crédito da imagem

Sua luz seja Jesus

Que a sua mão seja guia
a sua voz seja farol
o seu abraço, regaço
suas palavras, caminho

Não seja pedra de tropeço
não propague outra coisa que não a verdade.

Persevere no amor
despreze a ingratidão
agradeça pelo amanhecer
contemple o final do dia

Suas palavras sejam fonte de esperança
seus olhos sejam luz
sua luz seja Jesus.



quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Nuvens de algodão

O amor
felicidade em caixinhas
guardadas no olhos
nuvens de algodão
grudadas nos pés.



Flor do jardim

Pelo caminho
coisas de ver
de respirar
de navegar
Era cedo do dia
tudo desabrochava
- tardiamente dei-me conta do meu esquecimento.
Havia deixado meus olhos na flor do jardim
brincadeiras de roda
e mãos enamoradas.
A minha alma, pés descalços,
recorda agora.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Fuga

As palavras querem sair de mansinho
mas meu coração expulsa-as
em direção as minha mãos:
urgentes, cheias de meninices da minha infância,
de amores taquicárdicos
de amizades que dividiam picolés e diminuíam as tristezas.

Fogem, lépidas
Fogem de mim
e das minhas saudades.

Ponte e flor

Foram sinceros os meus tropeços
meus engasgos e rubores.
Minha alma se contorce ao som dos tambores
porque aprendeu a ser quilombola
a vestir-se como índio.
Tez branca e alma colorida
tecida e pintada pelas mãos de Deus.

Se eu fosse madeira
seria ponte
Se eu fosse flor
brotaria da caatinga
pelo meio dos espinhos.

Foram leves os fardos que levei
até aqui.

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domingo, 3 de fevereiro de 2013

Valia

de mãos dadas. letras minúsculas para dizer daquela felicidade miúda como comer pão com manteiga e café num dia de chuvisco na mesa da casa dos pais. as mãos dadas são as minhas. as de meu pai. as de minha mãe. as do meu avô. as da minha avó. as da minha tia. as de meu amor. as das minhas filhas. as da minha infância, rodopiando em brincadeiras de roda.

costuro desde que nasci. trago agulha e linha. uno minha vida à vida. estou com ela, de mãos dadas.

felicidade miúda. quente e milagrosa. esquenta minha alma.