quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Retalhos e miudezas

dentro
imagens várias
coisas e pessoas
umas sim
outras definitivamente não
refletida naqueles espelhos infindos
inexistentes
trazia nas linhas das mãos
as palavras que quis proferir
letrinhas arrumadas
caligráficas
perfiladas como soldados obedientes
temerosos da missão.
dentro
uma imensidão miúda.
colcha de retalhos
costura de miudezas.
tornara-se depositário
relicário
oráculo.
a totalidade das noites
a sucessão dos dias
coloriam seus olhos de luz.

Quem?

enquanto o dia amolece a tarde
no verdejar das folhas outrora ressequidas
farfalham, sacudidos pela ventania,
meus pensamentos.
já não sou mais a criança das fotografias
com passos largos fui obrigada a crescer
e debruço-me sobre mim
tentando me entender
trago a lâmina nas palavras
separo agruras e doçuras
em verbos desenhados no papel
sou a moça do rabisco
das palavras grafitadas nos muros
do mundo, de ninguém
porquanto a tarde avance
a noite avizinha-se do meu quintal
não sou mar
sou um rio
repleto de pontes a passar.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Vazios

os vazios
abissais
inexoráveis
habitantes das minha órbitas
preenchem as entrâncias das rosas
formam seus ninhos em meus lençóis
estranhos
mostram claramente a face escura
abandonam-se ao meu redor
rebuscados
antigos
parnasianos
conversam com o silêncio das minhas veias
descobrem os sobressaltos do meu coração.

sábado, 25 de janeiro de 2014

Espiando

cada casa uma janela
cada janela uns pares de olhos
olham a tarde caída aos pés da noite
enxergam as miudezas da escuridão
cada vaso uma flor
um vazio
um cheiro de eternidade finita
em folhas de umburana
em folhas de papel
os mistérios
as misérias
as mixórdias
a ordem das estrelas (de)cadentes
cada marca
uma estrada
um mourão
uma despedida
a chegada.
da minha janela
uma parte
tão pequena!
 

domingo, 19 de janeiro de 2014

Ciência

não saber 
nesse fim de noite
do horário das estrelas

por entre as cercas
limão. minha mão.

ferve cor de rosa o horizonte 
derramado nesse solo sertanejo.

pausa
espaço
tronco e flor

meu coração fala um dialeto
canta como galo de campina.

nesse fim de noite
não saber das meninas
das rotinas
das suaves brisas
das papoulas entumescidas em seus botões.
ah!
lua minguante
numa caneca de café.

Pelo caminho

Passarei.
Passarás.
Passaremos.
Não ficará o apreciador de nuvens
não escapará a varredora de ruas
com toda oração, partirão os padres e os pastores
em toda casa haverá saudades
por todo o mundo as cinzas, as lápides.
Das certezas
a única dos viventes
a passagem de chegada
é acompanhada da partida.
Aproveitemos as flores,
os espinhos,
os doces, as abelhas,
os silêncios,
os dias que se sobrepõem.
Iremos embora sem saber a que horas
deixemos nossos olhos serem nossos horizontes
antes que nossos pés deixem de caminhar.

Foto de Elmário Ribeiro


quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Primavera no inverno

Iniciados no amor
como flores primaveris
desabrochadas no inverno
assim eram nossos olhos
caminhando entre o espaço
finito entre nós.
Não era segredo
que o universo engendrava
histórias ao nosso redor
nosso destino (palavrinha de menino)
amarrado com laço de fita
para o café da manhã.
Pulso
grito
alegria
encontro de nós dois
flores primaveris
desabrochadas no inverno

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Memórias

No fundo dos meus olhos
olhos de quem se derrama pelos leitos
e pedras
um profundo suspiro
uma pausa para entender todas as coisas 
fugidias e memoráveis.
No peito claudicante
de mulher que ama e sofre
regozija e ora
multiplica e sonha com estrelas
há ventos que cerram os cílios
e espalham gritos na noite.
Sem saber que será fim
começa todas as canções
de ninar,
de bailar,
de deixar-se ir.
No baú de cartas antigas
deseja sentir as letras mornas
(a menina-moça que já fora declama versinhos em seus cabelos).

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Ano novo, raios velhos

Não há um sol diferente, não acordei levitando ou numa cama num lugar distante. Não sou uma princesa e os pratos da festa do dia anterior não amanheceram lavados e guardados no armário.
Na contagem do tempo, acabou-se um mais um ano. Rumo a um novo tempo, que na verdade é o mesmo tempo que vivo todos os dias, respiro e faço a promessa de ser mais organizada, de amar e abraçar mais, de dar menos bronca, de envolver-me em bons projetos e obras. Digo a mim mesma: feliz ano novo!
Na sequencia sei que é somente uma pausa para pensar, um fôlego novo para abastecer meu tanque, passar a primeira marcha e seguir viagem.
Não há mágica de fogos no novo dia mas queimam nos meus olhos os desejos de felicidade, de completude e o sentimento de gratidão por estar com saúde, ao lado dos que eu mais amo.
No calendário é um novo ano. Para o tempo é mais um dia.
Entre um e outro, espreguiço meu corpo, ouço a música que vem do celular da minha caçula, aguardo a filha do meio retornar da rua, espreito pela porta a mais velha - que dorme. Na rede, o amor da minha vida, balança minhas esperanças.
Foram dias de lutas e glórias, de vitórias e desesperanças à sombra do Senhor. Para tudo há um tempo. Agora é tempo de agradecer e fortalecer o espírito. Que desçam sobre nós as maravilhas do Altíssimo. Força e fé venham sobre mim, sobre minha família e amigos, sobre o mundo inteiro. 
Não houve um sol diferente. A diferença é saber que ele raiou e que seus raios recaem sobre todos. O universo conspira a nosso favor!