quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Aos quarenta

Tenho hoje quarenta anos. Quando tinha dezoito pensava que as amigas da minha mãe (e também ela) eram idosas - mulheres tão diferentes de mim!

Desses anos de juventude trago comigo uma miscelânea de fatos, amores, pessoas que me transformaram em mim. Continuo sendo crédula, esperando dos outros sempre o melhor - sou até infantil, às vezes. Fico infinitamente feliz em colocar meus pés na areia da praia, caminhar enfiando meus dedos na parte mais fofa que houver, permaneço encantada com a beleza das pequenas coisas.

Aos quarenta não preciso que me lembrem das agruras da vida, porque ela, a vida, já encaminhou para longe dos meus olhos pessoas maravilhosas e oportunidades ímpares. Tenho certeza de que tudo são estações e que se hoje meu coração sofre, amanhã pode alegrar-se.

Esse caminhar todo dia faz possível a flor, o espinho, o sossego, a tormenta. Faz do coração altar e punhal.

Posso comemorar a felicidade, sabendo-a efêmera. E chorar até os olhos ficarem inchados - essa dor também passará.

A relatividade das coisas, já aprendi. Descubro que talvez aos oitenta aquele coração ansioso e apaixonado dos dezoito ainda esteja contemporizando a vida que existe nos segundos de cada momento.

Desejo serenidade e sabedoria, saber discernir entre tolices e eternidades. Continuo aprendendo. Aos dezoito eu já sabia muita coisa, mas aos quarenta desconstruo minhas muralhas. Novos caminhos, novas conexões. Vida nova em antigos olhos de aprendiz.