quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Maria Fernanda

Há 17 anos atrás fui mãe pela primeira vez. Nasceu uma coisinha rosa, cara de joelho como todos os bebês. Minha inexperiência e a dela nos fizeram cúmplices.

Antes de completar duas semanas de nascida fomos para o laboratório, colher sangue. Estava amarela, com icterícia. Chorei mais do que ela...

Quando passei de filha para mãe pude compreender muitas coisas que não entendia. Daquele dia três de novembro de 1993 em diante não pude mais pensar apenas em mim, no que eu queria, no que eu faria. Aqueles cabelinhos espetados e seus olhinhos claros a me fitar me lembravam todo tempo que estavam ali e que eram minha responsabilidade.

Sou saudosista. Às vezes minha saudade dói. Cheirinho de lavanda, lacinho no cabelo, bonecas espalhadas pela casa. Mãe eu posso? Mãe, me dá? Mãe, me leva? Me pega? Mainha eu tô com medo. Mamãe minha perninha tá doendo. Relembrar me dá aquele ardor no nariz (aquele de lágrima indo em direção aos olhos).

Hoje comemoramos dezessete anos: ela de idade, eu de mãe.

Já batemos de frente, nem me lembro quantas vezes, mas na maioria do tempo caminhamos lado a lado. Eu me orgulho dela e fico esperando que ela sinta o mesmo por mim. Amo um amor que não se abala. Por nada. Quero ser o porto. Seguro. Porto seguro. Mesmo depois que ela mesma seja a timoneira da embarcação e que os roteiros já não sejam tão seguros, ou previsíveis.

"O que a memória ama, fica eterno.
Te amo com a memória, imperecível."
Adélia Prado

Maria Fernanda - 1 ano e 3 meses