quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Perfume e vinagre

Rótulos de perfume em frascos de vinagre.

Sete palavras que não esqueci. Na carta que recebi havia muitas outras, falando de coisas que estavam além de mim naquele momento. Era uma carta longa, com cobranças e descrenças. Uma carta de despedida, com letra caprichada. Despedíamo-nos do amor de outrora, da impossibilidade de compreender o que não cabia naquela adolescência urgente.

As situações se dispuseram no viver da vida. E vivendo fui sorvendo, absorvendo, resolvendo, esquecendo. Fui indo, indo e toda aquela bruma inventada no meio dos livros e das aulas do colegial transformou-se em memória de experiência.

Nessa época tinha uma música que eu gostava de escutar, embora não soubesse o que dizia sua letra: Hotel California (http://letras.terra.com.br/the-eagles/63266/traducao.html). Guitarra americana naquele solo que faz sofrer um coração jovem e apaixonado...

Cresci. Mudei. Mudei de casa, de rumo, de amor. Escolhi coisas tão diferentes que talvez nem bula de remédio possa ser comparada com o que posso escrever detalhando posologia, indicações, contra-indicações e afins, no que se refere a minha alma, as minhas preferências.
Tive a curiosidade de saber o que dizia a letra da música que 'dilacerava' meu coração. Um verso diz assim:
"Nós somos programados para receber.Você pode assinar a saída quantas vezes quiser, mas você nunca poderá sair!"

Então fico com essa afirmação. Não posso sair de mim. Eu sou muitas. Ora eu, ora os outros. Por vezes fico e outras vezes parto - mesmo que me vejam. Ora partilha, ora egoísmo. Ora beleza, outrora fraqueza. Se retorno abrem-se-me portais e janelas de lindos beirais crepusculares. Umas vezes infante, outras concentrada participante. Nos olhos, horizonte adiante ou passado distante.

Os frascos de vinagres estão no armário. E também os vidros de perfume. Com frequência esmero-me em não trocar-lhes os rótulos e em sentir-lhes o conteúdo.