Sete palavras que não esqueci. Na carta que recebi havia muitas outras, falando de coisas que estavam além de mim naquele momento. Era uma carta longa, com cobranças e descrenças. Uma carta de despedida, com letra caprichada. Despedíamo-nos do amor de outrora, da impossibilidade de compreender o que não cabia naquela adolescência urgente.
As situações se dispuseram no viver da vida. E vivendo fui sorvendo, absorvendo, resolvendo, esquecendo. Fui indo, indo e toda aquela bruma inventada no meio dos livros e das aulas do colegial transformou-se em memória de experiência.
Nessa época tinha uma música que eu gostava de escutar, embora não soubesse o que dizia sua letra: Hotel California (http://letras.terra.com.br/the-eagles/63266/traducao.html). Guitarra americana naquele solo que faz sofrer um coração jovem e apaixonado...
Cresci. Mudei. Mudei de casa, de rumo, de amor. Escolhi coisas tão diferentes que talvez nem bula de remédio possa ser comparada com o que posso escrever detalhando posologia, indicações, contra-indicações e afins, no que se refere a minha alma, as minhas preferências.
Tive a curiosidade de saber o que dizia a letra da música que 'dilacerava' meu coração. Um verso diz assim:
"Nós somos programados para receber.Você pode assinar a saída quantas vezes quiser, mas você nunca poderá sair!"
Então fico com essa afirmação. Não posso sair de mim. Eu sou muitas. Ora eu, ora os outros. Por vezes fico e outras vezes parto - mesmo que me vejam. Ora partilha, ora egoísmo. Ora beleza, outrora fraqueza. Se retorno abrem-se-me portais e janelas de lindos beirais crepusculares. Umas vezes infante, outras concentrada participante. Nos olhos, horizonte adiante ou passado distante.
Os frascos de vinagres estão no armário. E também os vidros de perfume. Com frequência esmero-me em não trocar-lhes os rótulos e em sentir-lhes o conteúdo.