domingo, 7 de novembro de 2010

Mudança

Mudamos todo o tempo. Desde o momento da concepção. Passamos a ser um na junção de dois: óvulo e espermatozóide. Daí, depois da unicidade vamos nos dividindo e, o que é engraçado, aumentando de tamanho. A mudança não cabe mais no útero depois de nove meses. Forçamo-nos a sair: ar nos pulmões, frio, calor, fome.

E seguimos mudando, a cada instante. Mudamos da pele ao pensamento, passamos de engatinhar a correr em menos de um ano. Mudamos de humor, de desejo, de opinião, de casa, de profissão, de medicamento. Somos um novo ser porquanto não notemos ao olharmos no espelho e visualizemos tão somente umas rugas e cabelos brancos que antes não estavam ali.

Somos provados no fogo, como milho de pipoca. O grão de milho que não estoura é chamado de piruá. Recusa-se a seguir em frente e permanece com a mesma roupagem (numa versão mais morena). Por sua recusa também é deixado à margem - gosto amargo de pensamentos queimados e tostados pelo temor de dar o próximo passo.

Mudar dói. Desvencilhar-se de si e ainda assim continuar sendo aquele que conhecemos intimamente. Vem a minha cabeça o sabor de queijo com goiabada. Lanche da minha infância. Hoje como queijo com goiabada como recheio na sobremesa de pizza. As lembranças do mesmo sabor, com outra roupagem.

Tudo muda e tudo passa. Por nós. Para nós. O carro está sempre em movimento. A paisagem da janela é estática. Perpetramos e impregnamos nosso redor com o almíscar da mudança, como água: outrora pingo, estreito riacho, largo rio, imenso mar - transmudada em nuvem não esquece de onde veio e não impede que o vento a leve.