segunda-feira, 28 de maio de 2012

Papel toalha

A convivência faz com que aprendamos hábitos alheios. Pode ser tomar chá, bebida que nunca havia feito sucesso no final da noite. Ou leite morno com um pouco de canela. Tomar banho com os pés calçados, estirar os tapetes, organizar as gavetas, ligar para dizer apenas oi, passar rímel, apreciar flores e passarinhos, ler autores budistas, observar sombras em fotografias, apreciar off-road, comer sushi.

Para estreitar laços abrimos mão de algumas coisas e abrimos nossos caminhos, esperando e ansiando encontrar mãos estendidas e sendas (estreitas às vezes). Aprendemos a ouvir música clássica e brega rasgado, ainda que nossa preferência seja MPB. Vamos à feira e lembramo-nos de comprar jaca com aquele cheiro insuportável porque aquela casca grossa nos recorda que a visita de hoje à tarde adora essa fruta. Lemos aquele artigo sobre yoga para comentar os benefícios com aquele amigo que é fissurado nesse exercício, enquanto o balançar da rede é que é nossa especialidade.

Uma simbiose acontece quando nos relacionamos com maior profundidade ou maior frequência. A relação pode ser de amor, de amizade, de coleguismo. Aprendemos novas palavras, novos posicionamentos, dividimos paladares e opiniões, rechaçamos alguns maus hábitos e incorporamos ao nosso ser um pouquinho do ser alheio.

Usei duas folhas de papel toalha como anteparo ao chá que levei à sala para meu marido tomar. Nada demais se não houvesse lembrado do comentário do namorado da minha filha sobre nossa superutilização deste item - um observador que foi arrebatado pela convivência: confidenciou-me que havia comprado papel toalha em sua feira.

Imagem em valiososilencio.blogspot.com.br