quarta-feira, 2 de maio de 2012

Visita de Deus

Não sei onde andam as borboletas da minha infância. Não aquelas borboletas. Falo das suas descendentes. Nas tardes de janeiro, avizinhando as trovoadas, ficavam as paredes de todas as casas repletas de asas multicores. Eram pequeninas e gigantescas.

Com a meninada da rua, com uma caixinha de fósforos vazia, íamos aprisionando as mais belas. Lembro bem de asas marrons com pequeninas manchas amarelas, e de aterrorizadoras asas 'peludas' capazes, conforme vociferavam os adultos, de cegar quem as tocasse e em seguida esfregasse os olhos (confesso: fiz o teste) - eram as mariposas.

Talvez porque a cidade avançou sobre as serras as borboletas, e também as mariposas, tenham se embrenhado na caatinga. Nada de passeios nas ruas e praças. Sinto falta de sua beleza e então, por isso, quando vou à fazenda gosto de caminhar no mato, procurando-as.

Quando extirpei de mim um câncer de mama, fiquei quase um ano afastada do trabalho. Recebi a visita de algumas pessoas em minha casa. Meus amigos. No meu jardim, plantado em caqueiras, quase todos os dias havia borboletas. Gosto de pensar que era a visita visível de Deus.

Foto de deboradenadai.prosaeverso.net