quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Bicho morto ou vivo?


Trabalhar numa instituição bancária é sofrido e divertido ao mesmo tempo. Sou professora de formação porém estou bancária há dezesseis anos e o meu primeiro emprego foi como menor estagiária nessa instituição que completou 202 anos, agora em outubro - o Banco do Brasil.

Usava uma farda azul, calça comprida e camisa de botão. À época tinha acabado de completar dezesseis anos, pesava 56 kg nos meus graúdos 1,78m - em suma era uma vareta, um galalau, de farda.

Tenho muitíssimas boas recordações. Turma animada, quase 90 funcionários, afora uns 10 menores estagiários na mesma agência onde hoje trabalho e faço parte de um quadro funcional que conta com 22 pessoas.

Desse tempo, que foi em 1990, os funcionários estão quase todos aposentados, em vias de pendurar a chuteira ou sairam nos planos de demissão incentivada. Dos aposentados a gerente atualmente sou eu. Estão todos na minha carteira e tem dias que parece que combinam: minha mesa fica arrodeada de 'veinhos'. Eles gostam de mim e eu deles. Não poderia ser diferente pois desde há muito cultivamos a alegria de nos (re)encontrar.

Quando fui menor a única queixa de que me recordo refere-se ao fumo. Quase todos eles fumavam. Ambiente fechado, ar-condicionado e cigarro: roupa e cabelos fedorentos em apenas quatro horas de expediente.

Deixando de lado esse detalhe, o mais era agradável. Esse encontro dos dias úteis se estendia nos finais de semana, na piscina da AABB. Churrasquinho, histórias, cervejas e para mim refrigerante.

Os terceirizados (zeladores, telefonista, estagiários, vigilantes) logo se enturmam. Sempre existe um gracejo, uma piada, uma zoação. Logo estamos como recorda a minha memória dos fatos de outrora.

Mesmo com todo stress diário para conciliar tarefas administrativas, negociais, atendimento telefônico e pessoal, sinto-me em casa. Gosto do que faço.

Hoje rimos à vontade, eu e a nova zeladora. Ela me contando sobre a saia-justa por que passou seu colega de trabalho ao soltar uma "fraudulência" e ver chegar de repente, no mesmo ambiente, o tesoureiro - que lhe sugeriu "afastar os móveis porque deve haver um bicho morto".

- Bicho morto? Pois o bicho morto acabou de subir a escada. E foi para o primeiro andar.

Riso solto. Exercitamos nossos músculos, produzimos endorfina, partilhamos daquela alegria. Cheguei a conclusão de que o zelador, por se encontrar num ambiente em que se vende e compra dinheiro, não pode se dar o direito de soltar flatulências. Ele emite gases intestinais: uma fraudulência explícita em nossos cofres nasais!