quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Orelhas

Aos 10 anos, crescendo ao redor da orelha.

Tomei poucos banhos de chuva. Certa vez estava na praia, acampando, e caiu uma chuva torrencial, dessas que chamamos por aqui de toró. Minhas orelhas são de abano e a água derramada em seus pingos grossos batiam com força nelas. Não me lembro de ter sentido outro incômodo que não nas minhas orelhas...

Eu corria do mar para a terra, e vice-versa. Meu modelo auricular, aerodinâmico, estilo Dumbo, fazia parte daquele momento de alegria.

Nossos narizes e orelhas seguem crescendo... Na minha família quase todo mundo é orelhudo e narigudo. Como herança de pobre é genética, eis-me aqui, orelhuda!

Por meio delas: cochichos, segredos, histórias, piadas, barulho, silêncio, música, preces, mentiras, verdades, revelações, nascimento e morte, gritos. Por meio delas mostramos um pouco do que somos. Talvez sejam mais ou menos usadas. Podemos ser ótimos ouvintes ou grandes falastrões. O exercício de fazer a alma escutar os desejos alheios (e os seus próprios) desnuda as palavras filtradas pelos ouvidos.

A amizade não sobrevive a orelhas que não escondem ouvidos atentos e disponíveis.

Naquele dia de chuva aprendi que às vezes a dor vem junto com a alegria. Não lembro de imagem que melhor traduza essa afirmação do que a do pássaro que sai do ninho, em seu primeiro vôo.