sábado, 9 de outubro de 2010

Doação



Por que devo partilhar?

Nasci numa família onde nunca passamos fome, nem frio. Tive festas de aniversário, passeios memoráveis. Joguei bola, andei de bicicleta, fui à escola. Conheci meu avô paterno e materno, minha avó materna ainda é viva.

Nunca estive numa guerra, não fui sequestrada, maltrada, molestada. Comecei a trabalhar aos dezesseis anos. Aprendi a ser responsável pelo meu orçamento e entendi que não trouxe nada ao chegar e não levarei nada ao partir.

Tive professoras primárias que me ensinaram mais do que estava escrito no planejamento diário de suas aulas. Religiosas vicentinas me mostraram a face sofrida dos pobres e como, doando tempo e recurso, podemos acender-lhes a centelha da esperança. Fui orientada por um sacerdote que é todo para Deus. Tudo ele fez e faz para a maior glória do Criador. Plantou em meu coração a sede de ser sal e luz.

Constitui família. Marido, filhas. Meu lar, minhas plantinhas, meus livros. Posso me expressar livremente. Frequentar minha igreja. Tenho amigos, companheiros de verdade, fiéis.Posso enxergar, caminhar, ouvir, falar. Aprendi a ler. Estive doente mas recebi a bênção da cura.

Tenho a obrigação de partilhar. Um dia partilho um sorriso, no outro um abraço. No outro divido meu sorvete com aquele menino danado do olho 'pidão'. Dôo as roupas que não me cabem. Dôo meus ouvidos aos lamentos e confissões. Ofereço o dízimo. Um pacote de fralda. Um quilo de feijão. Dôo minhas mãos para um trabalho voluntário.

E faço tão pouco... Portanto, por tanto que recebo, tenho e sou, é que devo partilhar.