quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Sandálias trocadas

Hoje comecei a escrever pelo título. Sempre é a última coisa que faço. Escolher o título.

Na hora do jantar, na casa da minha avó, estava meu pai ainda à mesa quando cheguei do trabalho. Jantando seu tradicional cuscuz com leite, iguaria que só troca por sopa ou macarrão com ovo. Ficamos por lá jogando conversa fora e reclamando do calorão que anda fazendo por aqui.

Ao levantar-se, contou que seu amigo tinha feito o comentário de que a pessoa quando fica velha, sai até com as sandálias nos pés trocados e não nota, ao que lhe respondeu: não foi sem notar, eu calcei assim porque quis mesmo, desse modo não fico trupicando.

Dei uma gargalhada. Como é essa história, painho? E ele trocando e destrocando as sandálias foi explicando que se calçar do modo tradicional o leva a tropeçar muitas vezes e que calçar o pé direito com o calçado do pé esquerdo e vice-versa é muito melhor.

Pronto! Ao contar o episódio a minha filha chegamos a seguinte conclusão: as crianças, na mais tenra idade, já conhecem essa técnica! Todas as crianças de que me recordo adoram calçar seus chinelinhos trocados e por quê? Porque como estão aprendendo a caminhar, trupicando aqui, tropeçando acolá, com os sapatos trocados aprimoram seu primeiros passos.

Pura sabedoria que esquecemos quando nos tornamos convencionais. É uma pena que esqueçamos também de outros detalhes como o riso fácil, a confiança no outro, a camaradagem sem distinção. Nesses casos substituimos o que temos de melhor por ofertas que não nos fazem melhorar.

Vou tirar meus sapatos altos e tomar um banho. Em seguida vou testar a teoria do meu pai calçando minhas havaianas. Deveria ter sabido disso antes de quase quebrar meu maléoro...