sábado, 30 de outubro de 2010

Experimente

Não gosto de frutas cristalizadas. De jeito nenhum, em nenhuma hipótese, nem por educação. Para comer bolo de casamento, coisa que não faço há mais de seis anos (em outra oportunidade conto o porquê), cato todas as frutinhas. Se uma delas me escapa, cuspo-a, como quando comemos peixe e ele tem aquela espinha bem fininha que só sentimos quando mastigamos.

Desde bem pequenas minhas filhas foram apresentadas a todo tipo de alimento. Frutas e seus sucos, sopinhas, verdura, feijão, arroz, carne, ovo, comida temperada com cebola, alho e coentro (que eu adoro!). Sempre foram comilonas quando bebês.

Vão crescendo, nossos bebês, e ficando cheios de 'nove horas': não gosto disso, não como aquilo, quero refrigerante, quero salgadinho. E a fruteira termina a semana quase como começou.

O exemplo educa mais do que a palavra. É fato. Contudo a palavra tem a sua força. Isso também é fato.

Certa vez ganhamos um bolo. Bonito, mas cheio de fruta cristalizada. Até o cheiro das danadas me causa ojeriza. De qualquer forma não se perde, pois meu marido não tem nada contra... Bom, estávamos lá, à mesa, para jantarmos:
- Mãe, esse bolo é bom?

Suspense. Silêncio. Olhinhos me fitando.
- Bom, eu não gosto de fruta cristalizada. Acho MUITO ruim, mas coma, experimente... Você pode gostar.

Pronto! Sem possibilidades. Se minha mãe, que come de tudo, não gosta...

Cuidemos para que nossas palavras não criem muros, gaiolas, receios. Não sejamos os que impedem mas os que impulsionam.

Essa é uma historinha boba, que vez por outra minhas filhas recontam e terminam rindo, dizendo: eu odeio, eu detesto fruta cristalizada! Nunca comeram, nunca provaram. Acreditaram no meu paladar e ponto final.
Nessa historinha não houve nenhum dano, nem de carência alimentar, mas quantas vezes nossas objeções ou afirmações não são balizadores?

Mas nem tudo está perdido: eu sou L-O-U-C-A por azeitona, roubo de todos os pratos quando vamos comer pizza. Apenas uma delas aprecia também. Acho que consegui incutir-lhes a idéia de que por si, considerando o outro, é sempre melhor. Não ser piolho também esteve nos meus ensinamentos, nada de caminhar pela cabeça alheia.